São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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Veterana do underground carioca lança primeiro CD

DA REPORTAGEM LOCAL

O CD de estréia da cantora e compositora niteroiense Arícia Mess, 40, está pronto há quase dois anos. Antes de chegar às mãos dos brasileiros, "Cabeça Coração" foi lançado (em março) no Japão, já notório por gostar mais que o Brasil de música brasileira sem bunda nem padre.
Ex-vocalista de Fernanda Abreu -cantou, em "Raio X" (97), trechos de "Podes Crer, Amizade" (72), do baú black de Toni Tornado-, Arícia é ativista antiga dos meios musicais underground cariocas, de onde já saíram Pedro Luís e A Parede e Boato.
No Brasil, "Cabeça Coração" sai com tiragem de 3.000 exemplares, pelo selo Órbita, fundado pelos produtores Carlos Trilha (que trabalhou com Renato Russo em sua fase solo) e Fernando Morello.
Promessa que vinha sendo ano a ano adiada no panorama pop, Arícia desmente a fama de temperamental, que teria assustado dirigentes de gravadoras.
"Alguém inventou essa mentira sobre mim. Só fui procurada por uma grande gravadora em 94, mas não propuseram nada. Mais recentemente, Carlos Trilha chegou a mostrar quatro músicas a algumas gravadoras, mas percebemos que ninguém ia se interessar por bancar o resto. Aí resolvemos acabar sozinhos."
O registro que pretende imprimir é, simplesmente, o do pop. "Aos 20 anos, eu ouvia soul e os tropicalistas. Com o tempo e a idade, você acaba sendo influenciado por tudo. Não escuto mais os tropicalistas, mas a ponta do soul está lá, no sentido em que Clementina de Jesus é soul."
A referência à sambista é constante. Presente na dedicatória do CD, aparece indiretamente em "Cangoma", que Arícia adaptou do folclore -Clementina havia feito o mesmo, em 66.
"Cangoma" vem mergulhada em eletrônica. "O CD tem o lado mais atual, não da música eletrônica, mas dos recursos. O violão de Lenine em "O Homem dos Olhos de Raio X" foi todo trabalhado e editado eletronicamente."
Ela fala de como concentrar num CD de pouco mais de 30 minutos quatro décadas de vida e anos a fio de história musical:
"Não cabe tudo, mas cabe um primeiro recado. O CD fala da vida, do desejo e do milagre de estar vivo ainda". O tema extravasa na dedicatória a outra mulher, sua mãe ("que me deu a vida de novo quando partiu, em 98").
Ela explica: "Na semana de sua morte, tivemos uma conversa muito forte. Ela falou que sabia que ia morrer. Eu disse: "Você é corajosa". Ela respondeu: "Essa é sua herança". Isso se reflete no disco, pela coragem que tive de ter de fazer como fiz. Vejo a vida de outra forma desde então". (PAS)


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