|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Veterana do underground carioca lança primeiro CD
DA REPORTAGEM LOCAL
O CD de estréia da cantora e
compositora niteroiense Arícia
Mess, 40, está pronto há quase
dois anos. Antes de chegar às
mãos dos brasileiros, "Cabeça Coração" foi lançado (em março) no
Japão, já notório por gostar mais
que o Brasil de música brasileira
sem bunda nem padre.
Ex-vocalista de Fernanda Abreu
-cantou, em "Raio X" (97), trechos de "Podes Crer, Amizade"
(72), do baú black de Toni Tornado-, Arícia é ativista antiga dos
meios musicais underground cariocas, de onde já saíram Pedro
Luís e A Parede e Boato.
No Brasil, "Cabeça Coração" sai
com tiragem de 3.000 exemplares,
pelo selo Órbita, fundado pelos
produtores Carlos Trilha (que trabalhou com Renato Russo em sua
fase solo) e Fernando Morello.
Promessa que vinha sendo ano
a ano adiada no panorama pop,
Arícia desmente a fama de temperamental, que teria assustado dirigentes de gravadoras.
"Alguém inventou essa mentira
sobre mim. Só fui procurada por
uma grande gravadora em 94,
mas não propuseram nada. Mais
recentemente, Carlos Trilha chegou a mostrar quatro músicas a
algumas gravadoras, mas percebemos que ninguém ia se interessar por bancar o resto. Aí resolvemos acabar sozinhos."
O registro que pretende imprimir é, simplesmente, o do pop.
"Aos 20 anos, eu ouvia soul e os
tropicalistas. Com o tempo e a
idade, você acaba sendo influenciado por tudo. Não escuto mais
os tropicalistas, mas a ponta do
soul está lá, no sentido em que
Clementina de Jesus é soul."
A referência à sambista é constante. Presente na dedicatória do
CD, aparece indiretamente em
"Cangoma", que Arícia adaptou
do folclore -Clementina havia
feito o mesmo, em 66.
"Cangoma" vem mergulhada
em eletrônica. "O CD tem o lado
mais atual, não da música eletrônica, mas dos recursos. O violão
de Lenine em "O Homem dos
Olhos de Raio X" foi todo trabalhado e editado eletronicamente."
Ela fala de como concentrar
num CD de pouco mais de 30 minutos quatro décadas de vida e
anos a fio de história musical:
"Não cabe tudo, mas cabe um
primeiro recado. O CD fala da vida, do desejo e do milagre de estar
vivo ainda". O tema extravasa na
dedicatória a outra mulher, sua
mãe ("que me deu a vida de novo
quando partiu, em 98").
Ela explica: "Na semana de sua
morte, tivemos uma conversa
muito forte. Ela falou que sabia
que ia morrer. Eu disse: "Você é
corajosa". Ela respondeu: "Essa é
sua herança". Isso se reflete no disco, pela coragem que tive de ter de
fazer como fiz. Vejo a vida de outra forma desde então".
(PAS)
Texto Anterior: Crítica Próximo Texto: Crítica Índice
|