São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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CRÍTICA

Quem é que vai mandar você se conter?
DA REPORTAGEM LOCAL

Não chega muito a São Paulo ou ao Brasilzão, mas não é de hoje que Arícia Mess chama atenção no Rio, criando expectativa que até hoje tardava em se concretizar. Apresenta-se, enfim, no circuito complicado dos independentes, açoitado pela distribuição precária e pela ditadura da música de massa/massificante.
"Cabeça Coração" é disco sereno, de quem esperou demais e se contém para não transbordar na precipitação. Confirmam-se seus dotes de grande cantora. Mas aqui ela opta por doçura e suavidade, abdicando do trovejo soul que orientava sua versão do funk de Toni Tornado. Exceção, o canto ritual "Cangoma" é o fecho de ouro do CD, em que o canto ritual da cirandeira Clementina é transportado à oca tecno. Pesado, é um derrame, a artista ainda ressabiada se soltando ao fim do jogo.
Em compartimentos mais contidos, Arícia se delicia ao proferir a poesia calibrada de "O Homem dos Olhos de Raio X", novo chamado à guerra de Lenine. A produção a ampara, na referência longínqua aos órgãos jovem guarda do soulman Roberto Carlos.
A produção sobressai nas composições inéditas, fartamente preocupadas com a suavidade. Destacam-se os arranjos bem armados das bem urdidas "Parar o Mar" ("quem é que vai mandar você se conter?", pergunta), "Armário", "Dança do Coração".
Um rasto de deriva ainda singra a estréia tardia. Acima de tudo, certa timidez há de ser domada -quem é que vai mandar você se conter?-, para que o talento já semipolido se esparrame. (PAS)

  
Disco: Cabeça Coração
  Artista: Arícia Mess
Lançamento: Órbita
(www.orbitamusic.com) Quanto: R$ 20, em média


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