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CRÍTICA
Quem é que vai mandar você se conter?
DA REPORTAGEM LOCAL
Não chega muito a São Paulo ou ao Brasilzão, mas
não é de hoje que Arícia Mess chama atenção
no Rio, criando expectativa que até hoje tardava em se concretizar.
Apresenta-se, enfim, no circuito complicado dos independentes, açoitado
pela distribuição precária e pela ditadura da música
de massa/massificante.
"Cabeça Coração" é disco sereno, de quem esperou
demais e se contém para não transbordar na precipitação.
Confirmam-se seus dotes de grande cantora. Mas aqui ela opta por doçura
e suavidade, abdicando do trovejo soul que orientava sua versão
do funk de Toni Tornado. Exceção, o canto ritual "Cangoma"
é o fecho de ouro do CD, em que o canto ritual da cirandeira Clementina
é transportado à oca tecno. Pesado, é um derrame,
a artista ainda ressabiada se soltando ao fim do jogo.
Em compartimentos mais contidos, Arícia se delicia ao proferir
a poesia calibrada de "O Homem dos Olhos de Raio X", novo chamado à
guerra de Lenine. A produção a ampara, na referência
longínqua aos órgãos jovem guarda do soulman Roberto
Carlos.
A produção sobressai nas composições inéditas,
fartamente preocupadas com a suavidade. Destacam-se os arranjos bem armados
das bem urdidas "Parar o Mar" ("quem é que vai mandar você
se conter?", pergunta), "Armário", "Dança do Coração".
Um rasto de deriva ainda singra a estréia tardia. Acima de tudo,
certa timidez há de ser domada -quem é que vai mandar você
se conter?-, para que o talento já semipolido se esparrame.
(PAS)
Disco: Cabeça Coração
Artista: Arícia Mess
Lançamento: Órbita
(www.orbitamusic.com) Quanto:
R$ 20, em média
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