|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DOSSIÊ PEQUI
Saturnino Braga morde caroço com espinho e populariza prato goiano
A fruta que abriu a boca do senador
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas de entregar o relatório do processo da violação do
painel eletrônico à Comissão de
Ética do Senado, o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) cometeu um
erro grave: mordeu o caroço de
um pequi. A fruta, típica da região
Centro-Oeste, deixou a boca do
político repleta de espinhos.
Braga comeu frango com pequi
em um jantar domingo, em Pirenópolis (Goiás). O senador, relator do processo que vai analisar se
Antonio Carlos Magalhães e José
Roberto Arruda devem ou não ser
cassados, teve sua foto estampada
em jornais de todo o país na segunda-feira, com a boca aberta,
para a retirada dos espinhos.
O episódio, claro, virou motivo
de piada em Brasília. Além de
aguentar cinco doloridas sessões
para a retirada dos espinhos (só
na primeira foram 30!), Saturnino
Braga ainda teve de ouvir dos colegas trocadilhos como "e sua
missão espinhosa?" ou "está de
boca aberta com o escândalo?".
"Quando mordi, senti a dor e fui
ao banheiro ver o estrago. Não como pequi nunca mais", disse Braga, por meio de sua assessoria.
Mas, afinal, que frutinha perigosa é essa que deu e continua dando tanto trabalho para o senador?
O pequi é amarelo, parecido
com o abacate, e costuma brotar
no cerrado do Centro-Oeste e em
algumas partes do Norte e Nordeste, entre janeiro e maio. Está
para os goianos como o dendê para a Bahia. Com fama de afrodisíaca, pode ser usada em pratos
salgados, doces e bebidas. Seu
gosto forte e exótico é um aliado
na culinária contemporânea, mas
é preciso dois cuidados: saber comer a fruta inteira sem se machucar com os minúsculos espinhos
do caroço e ter a medida exata para não deixar o prato enjoativo.
"Quando se faz um prato com
pequi, a casa toda fica com cheiro
da fruta. Como tem gosto forte,
procuro usá-la só para aromatizar
pratos", diz Roberta Sudbrack,
chef do Palácio da Alvorada, responsável pelo menu de FHC.
Ela aconselha: é melhor evitar a
fruta inteira nos pratos, principalmente se forem servidos para
quem não conhece os segredos
dos espinhos. "Faço arroz de perdiz com pequi. Coloco a fruta inteira para cozinhar com o arroz e
a retiro na hora de servir."
Em São Paulo, a fruta batizou
um restaurante 24 horas perto da
Paulista. "Queria um nome forte,
brasileiro. Depois de escolher pequi, fui atrás de alguns pratos com
a fruta para incluir no menu",
afirma Luiz Antonio de Moraes,
proprietário do Pequi.
No cardápio há arroz com polpa
de pequi, arroz com frango e pequi e frango com licor de pequi.
"Usamos pasta e polpa. A fruta inteira é arriscada por causa dos espinhos", diz Oslay José, consultor
gastronômico do Pequi.
O restaurante Pitanga, na Vila
Madalena, incluiu recentemente
frango com pequi em seu bufê, às
quintas e domingos, e serve diariamente arroz com a fruta.
Encontrar o produto em São
Paulo não é tão fácil. Quem quiser
testar a iguaria em casa pode procurar a fruta no Mercado Municipal, no Brás, mas é preciso ter sorte. A casa Vila Doce, na Vila Mariana, vende a pasta e a polpa.
PEQUI - r. Peixoto Gomide, 988,
Cerqueira César, tel. 0/xx/ 11/285-3533;
PITANGA - r. Original, 162, Vila
Madalena; tel. 0/xx/11/3816-2914;
VILA DOCE - casa vende pasta e polpa de
pequi - r. Domingos de Moraes, 1.034,
Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5575-1177.
Texto Anterior: Gastronomia: Paraty está grávida Próximo Texto: Mundo gourmet - Josimar Melo: Bistrô Marie é moderno com referências tradicionais Índice
|