São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2001

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DOSSIÊ PEQUI

Saturnino Braga morde caroço com espinho e populariza prato goiano

A fruta que abriu a boca do senador

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas de entregar o relatório do processo da violação do painel eletrônico à Comissão de Ética do Senado, o senador Saturnino Braga (PSB-RJ) cometeu um erro grave: mordeu o caroço de um pequi. A fruta, típica da região Centro-Oeste, deixou a boca do político repleta de espinhos.
Braga comeu frango com pequi em um jantar domingo, em Pirenópolis (Goiás). O senador, relator do processo que vai analisar se Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda devem ou não ser cassados, teve sua foto estampada em jornais de todo o país na segunda-feira, com a boca aberta, para a retirada dos espinhos.
O episódio, claro, virou motivo de piada em Brasília. Além de aguentar cinco doloridas sessões para a retirada dos espinhos (só na primeira foram 30!), Saturnino Braga ainda teve de ouvir dos colegas trocadilhos como "e sua missão espinhosa?" ou "está de boca aberta com o escândalo?".
"Quando mordi, senti a dor e fui ao banheiro ver o estrago. Não como pequi nunca mais", disse Braga, por meio de sua assessoria.
Mas, afinal, que frutinha perigosa é essa que deu e continua dando tanto trabalho para o senador?
O pequi é amarelo, parecido com o abacate, e costuma brotar no cerrado do Centro-Oeste e em algumas partes do Norte e Nordeste, entre janeiro e maio. Está para os goianos como o dendê para a Bahia. Com fama de afrodisíaca, pode ser usada em pratos salgados, doces e bebidas. Seu gosto forte e exótico é um aliado na culinária contemporânea, mas é preciso dois cuidados: saber comer a fruta inteira sem se machucar com os minúsculos espinhos do caroço e ter a medida exata para não deixar o prato enjoativo.
"Quando se faz um prato com pequi, a casa toda fica com cheiro da fruta. Como tem gosto forte, procuro usá-la só para aromatizar pratos", diz Roberta Sudbrack, chef do Palácio da Alvorada, responsável pelo menu de FHC.
Ela aconselha: é melhor evitar a fruta inteira nos pratos, principalmente se forem servidos para quem não conhece os segredos dos espinhos. "Faço arroz de perdiz com pequi. Coloco a fruta inteira para cozinhar com o arroz e a retiro na hora de servir."
Em São Paulo, a fruta batizou um restaurante 24 horas perto da Paulista. "Queria um nome forte, brasileiro. Depois de escolher pequi, fui atrás de alguns pratos com a fruta para incluir no menu", afirma Luiz Antonio de Moraes, proprietário do Pequi.
No cardápio há arroz com polpa de pequi, arroz com frango e pequi e frango com licor de pequi. "Usamos pasta e polpa. A fruta inteira é arriscada por causa dos espinhos", diz Oslay José, consultor gastronômico do Pequi.
O restaurante Pitanga, na Vila Madalena, incluiu recentemente frango com pequi em seu bufê, às quintas e domingos, e serve diariamente arroz com a fruta.
Encontrar o produto em São Paulo não é tão fácil. Quem quiser testar a iguaria em casa pode procurar a fruta no Mercado Municipal, no Brás, mas é preciso ter sorte. A casa Vila Doce, na Vila Mariana, vende a pasta e a polpa.


PEQUI - r. Peixoto Gomide, 988, Cerqueira César, tel. 0/xx/ 11/285-3533;
PITANGA - r. Original, 162, Vila Madalena; tel. 0/xx/11/3816-2914;
VILA DOCE - casa vende pasta e polpa de pequi - r. Domingos de Moraes, 1.034, Vila Mariana, tel. 0/xx/11/5575-1177.




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