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CINEMA/ESTRÉIA
"EU NÃO CONHECIA TURURÚ"
Estréia na direção de longas da atriz recorre a clichês em comédia de costumes primária
Bolkan faz fantasia cruel e egocêntrica
MARIO SERGIO CONTI
DA SUCURSAL DO RIO
Há três filmes embolados,
trocando bordoadas entre
si, dentro de "Eu Não Conhecia
Tururú": um documentário de
propaganda do Ceará, um manifesto lésbico e uma comédia de
costumes. O que os une é o primarismo.
O documentário é de natureza
turística. Arrebóis de calendário,
silhuetas de jangadas contra o
mar plácido, danças folclóricas
multicoloridas, animados forrós,
feiras populares apinhadas -não
há clichê ao qual a diretora Florinda Bolkan não recorra.
Não há uma cena que mostre
pobreza nem sequer sujeira. Já o
aeroporto de Fortaleza, novinho
em folha, aparece em três sequências. Como nenhuma das protagonistas fala com sotaque nordestino, a ode ao Ceará permanece
sempre como um pano de fundo
de mal-ajambrado governismo.
O manifesto lésbico é extremado e simplório: as mulheres são
gente de carne e osso; os homens
são intrinsecamente maus.
Há apenas dois homens no filme, ambos em papéis secundários. Um, o simpático Dodô (Fernando Alves Pinto), é homossexual. O outro, Gil (Herson Capri),
é um mulherengo contumaz.
A comédia de costumes conta a
história de cinco mulheres, a mãe
e suas quatro filhas, que se reúnem para o casamento de uma
delas.
Eleonora (representada pela diretora) é uma escritora de sucesso
na Itália. Ela é viúva e namora a
sua enteada (influência de Luchino Visconti?), que tem o pitoresco
nome de Selvaggia (Valentina Vicario).
Carmen (Suzana Gonçalves) vai
se casar pela quarta vez. Com vestidos curtos e maquiagem excessiva, ela é uma perua gritona. Espantoso que tenha conseguido casar tantas vezes.
Isabel (Ingra Liberato), que mora nos Estados Unidos, onde é casada com um político do Estado
de Nebraska, é um primor de incongruências. As irmãs dizem
que ela é apaixonada pelo marido.
No entanto, a cada bar que entra,
e ela entra nuns dez, Isabel pede
uma pinga e flerta com os homens
que encontra pela frente.
Isabel quer ter filhos. É assaltada
por um trombadinha loiro e de
olhos verdes, descobre onde ele
mora, paga-lhe sorvete e, insinua-se, o adota.
Rose (Maria Zilda Bethlem), a
irmã solteira, é uma "new age" ensandecida: lê a sorte num baralho
ensebado, faz dieta, toma porres,
vitupera, tem crises de ciúme e carência.
A mãe, Letícia (Lídia Matos), é
uma velhinha gagá que, como as
filhas, reclama dos homens. Eleonora, que pretende escrever um livro sobre a família, descobre cartas da mãe, nunca enviadas, em
que confessa seu amor a um homem misterioso.
Como as cartas são endereçadas
à estação de trem de Tururú, as filhas resolvem fazer-lhe uma surpresa, levando-a lá sem avisá-la. A
velhota chega à cidadezinha, boquiabre-se, fala "Tururú" e se segue uma sequência em que todas
as personagens dançam ao pôr-do-sol e o filme acaba.
Não dá para entender nada, a
não ser que "Tururú" é uma fantasia pessoal de Florinda Bolkan.
Fantasia egocêntrica: ela pegou
para si o único papel viável do filme. Com ares de condessa e sotaque italiano, a sua Eleonora é a
única personagem equilibrada. E
a única com uma namorada bonitinha.
Fantasia cruel, também. As outras personagens, sem exceção,
são burras e desagradáveis. Ela
maltrata suas colegas atrizes:
obriga Suzana Gonçalves a urrar,
Ingra Liberato a fazer cara de paçoca e Maria Zilda a encolher a
barriga.
Desembolados, nenhum dos
três filmes contidos em "Eu Não
Conhecia Tururú" cumpre seus
objetivos. A comédia não diverte.
A propaganda dá vontade de não
ir nunca ao Ceará. E o manifesto
lésbico retrata todas as mulheres,
exceto Florinda Bolkan, como estúpidas.
Eu Não Conhecia Tururú
Direção: Florinda Bolkan
Produção: Brasil, 2001
Com: Ingra Liberato, Suzana Gonçalves,
Herson Capri, Fernando Alves Pinto
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco
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