São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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Atriz quer ser diferente de Kidman

DO "LE MONDE"

É uma jovem mal saída da infância, luminosa e repleta de graça, com seu cabelo arruivado e um jeito meio moleque.
Criada em Hollywood, por pais "do ramo" (é filha de Ron Howard, antigo astro da série "Happy Days" que se tornou diretor premiado com o Oscar de "Uma Mente Brilhante"), Bryce estreou em Nova York no teatro.
Após trabalhar em "Assim É se lhe Parece", foi escolhida por M. Night Shyamalan ("O Sexto Sentido") para o papel principal de "The Village", que estréia na França em agosto, iniciando carreira no cinema sob o comando de dois cineastas conhecidos.
Em "Manderlay", de Lars von Trier, ela retoma, apesar da juventude, o papel que Nicole Kidman interpretou com elegância e intensidade notáveis em "Dogville".
"Minha Grace e a de Nicole serão bem distintas", afirma Bryce. "São na verdade dois aspectos de uma mesma personalidade. As personas são múltiplas, e é interessante representar suas facetas com rostos diferentes." Do diretor, obteve a definição essencial do papel: uma mulher "determinada e frágil emocionalmente".
"Ainda que "Manderlay" fale de maneira dura e violenta de uma realidade dramática que tentamos ignorar -a das relações raciais nos Estados Unidos-, a filmagem foi tranqüila. Mas o filme talvez seja doloroso de assistir!"
Em seu camarim, há dois livros na mesa, "Verônika Decide Morrer", de Paulo Coelho, e "História de O", de Pauline Réage. A surpresa quanto à presença do clássico erótico na biblioteca da jovem atriz não dura muito: "Foi Lars que me recomendou", explica. E constata, vagamente desconcertada: "É muito forte, muito sexual".
Foi exatamente a exploração da sexualidade que atraiu a atriz ao cinema de Lars von Trier. "Eu tinha 17 anos quando assisti a "Ondas do Destino" [1996]. Procurei o vídeo e vi o filme umas 15 vezes seguidas. Sem brincadeira! Fiquei em estado de choque. Imediatamente, me tornei obcecada pelo trabalho que Lars faz."
O cineasta é conhecido pelas relações complexas que mantém com suas atrizes. Mas a juventude de Bryce, sua devoção ao trabalho e sua crença de que "um filme vale todos os sacrifícios" evitaram fricções, apesar do ritmo de filmagens bastante intenso.
A total empatia com o homem "de sensibilidade feminina" permitiu que a atriz compartilhasse com Trier de mais momentos de diversão (caiaques, videogames) do que de conversas profundas. "Perguntei por que sempre coloca mulheres no centro de seus filmes. Ele respondeu que é mais fácil se identificar com elas."
Deixando de lado a tensão sadomasoquista entre criador e personagem que percorre seus filmes, a análise ressalta mais o lado "protetor" do cineasta. Ela não esconde a surpresa ao revelar que "diversas vezes ele se recusou a me levar além dos limites e me disse que, se tivéssemos escolha, minha sobrevivência era mais importante que minha interpretação".


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