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MÚSICA
Rainha da fossa nos 50, musa do sambalanço nos 60 e pimentinha do samba-soul nos 70, cantora segue em atividade
Doris Monteiro, 69, canta no subterrâneo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Nesta quinta-feira, no Espaço
Cultural Sérgio Porto (RJ), ela
participará de um show em homenagem aos 80 anos de Billy
Blanco, artífice de samba-canção,
canção de fossa e sambas satíricos
que ela difundia nos anos 50 e 60.
Na terça passada, a Folha a
acompanhou num show que fazia, às 12h30, no Tribunal de Contas do Estado do Rio, na av. Rio
Branco. Da platéia acompanhavam-na fãs velha-guarda de samba-canção e bossa nova, do centro
carioca e/ou de Doris Monteiro.
Pouco se sabe hoje sobre Doris
no Brasil oficial. Há 23 anos não
grava disco só seu. Conta ao público que fará 70 anos em outubro
e quer morrer cantando -ou não
morrer, se pudesse escolher.
Agente e receptora de nossa conhecida falta de memória, deixa
de lembrar a seus espectadores
que foi introdutora entre cantoras
daqui, em 1951, do canto moderno -suave, manso, discreto.
Não havia João Gilberto, mas já
cantavam com discrição três ídolos seus: Dick Farney, Lúcio Alves,
Tito Madi. Nora Ney se lançaria
no final de 51, Dolores Duran só
daria o ar de sua graça em 52.
Sem o antecedente de Doris,
Nara Leão não teria sido musa
sussurrante dos 60, talvez nem
mesmo cantora. Relacionou-se
com uma Elis Regina ainda desconhecida -a pimentinha abria
seus shows em Porto Alegre (RS).
"Eu era a estrela maior, ela fazia
escada. Para mim, Elis é a maior
cantora brasileira de todos os
tempos. Não me dava com ela,
mas isso não tem nada a ver."
Reinventou-se nos 60, abandonando a fossa e aderindo a um
modo mais suingado de cantar
bossa nova -sambalanço. Na
TV, foi ao "Fino da Bossa" de Elis.
"O público me aplaudiu muito,
ela cochichou: "Não precisa ficar
muito animadinha, que temos
uma claque só para aplaudir todo
mundo". Respondi no ato: "Ah,
meu amor, agora entendo por
que você é tão aplaudida"."
Nova revolução viveria no pós-tropicalismo. A partir de "Mudando de Conversa" (69), remodelou o modo suingado de sambar (leia ao lado). Ficou próxima
de Wilson Simonal e Erasmo Carlos -com quem tocava Ricardo
Jr., seu marido e arranjador.
Em 71, gravou o clássico em
samba-soul "É Isso Aí" ("preparei
uma roda de samba só pra ela/
mas se ela não sambar/ isso é problema dela"), do antitropicalista
Sidney Miller. Sabe que essa onda
vem sendo revalorizada pelo público jovem: "Charles Gavin me
disse que é impressionante como
essas músicas são atuais". Sabe
que Paula Lima releu "É Isso Aí":
"Uma jovem regravar minha música me dá um tremendo orgulho,
sou louca para conhecê-la".
Observa que Elis só se dava com
homens, lembra Maria Bethânia.
"É mascarada, nem olha na minha cara. Nós nos encontramos
na esteira do aeroporto, fingiu
que nem me conhecia", diz, admitindo que tampouco dirigiu palavra à outra. Rita Lee? "Gosto demais. É roqueira, mas seu rock é
sutil, não é agressivo. "Pagu" é espetacular, gostaria de gravá-la."
Roberto Carlos? "Uma vez nos
encontramos na av. Rio Branco,
tarde da noite. Brincou: "Fazendo
o que na rua esta hora, Doris?". "O
mesmo que você", respondi, e ele:
"Ah, mas sou homem, eu posso".
Ele chega, abre os braços."
Brinca quando percebe que alguém não a reconhece -"Não está mais falando com Doris Monteiro por quê?". Mas também passa por maus lençóis: "Atravesso a
rua para não cumprimentar. Esqueci o nome da pessoa, como
vou passar e não falar nada?".
Goza instantes de celebridade
em Copacabana, onde mora há 69
anos. "Me param na rua, "olha ali
a Doris Monteiro". Adoro isso, sabe?". Ri quando a chamam de Doris Day: "Não, sou Doris Night".
Absolve quem a confunde com
Maria Creuza -ela própria demora para distinguir Alceu Valença de Moraes Moreira, afinal.
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