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FOTOGRAFIA
Mostra reúne 37 obras do fotógrafo da Magnum na Leica Gallery; entre os retratados estão ícones do século 20
Elliott Erwitt expõe "falsas verdades" em SP
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Prefiro ser divertido a ser trágico", diz o fotógrafo Elliott Erwitt,
77, que inaugura hoje, com a mostra "Magic Hands", a Leica Gallery, em São Paulo, espaço destinado exclusivamente a exposições de fotografia, em evento que
integra o 7º Mês Internacional da
Fotografia na cidade.
O humor de fato é a marca registrada deste fotógrafo, filho de
russos, que nasceu em 1928 em
Paris e se mudou para os Estados
Unidos ainda jovem. Erwitt ganhou sua primeira câmera aos 13
anos de idade. Por essa época viu
numa revista uma fotografia de
Henri Cartier-Bresson (1908-2004). "Foi uma revelação", diz.
Decidido a ser fotógrafo, ganhou
um prêmio num concurso de fotografia quando servia o Exército
em 1951.
"Na verdade fiquei em segundo
lugar, o que me fez pensar que eu
devia melhorar ainda mais", contou em entrevista à Folha na última sexta-feira, momentos antes
de iniciar um workshop para 14
pessoas que pagaram R$ 2.400 cada uma por três dias de troca de
informações com ele.
Em 1953, após sair do Exército,
Erwitt passou a integrar a equipe
da agência Magnum, fundada em
1947 por Cartier-Bresson e Robert
Capa (1913-1954). Em 1968, tornou-se presidente da agência,
uma espécie de cooperativa que
reúne até hoje a nata da fotografia
documental (www.magnumphotos.com).
Na Magnum, Erwitt teve a possibilidade de viajar o mundo,
acompanhado por sua inseparável câmera Leica, realizando reportagens sem nunca deixar de lado a fotografia de rua, uma obsessiva busca pela captura do surreal
nos momentos mais prosaicos do
cotidiano, inspiração clara do mito que o fez descobrir a fotografia
e que depois se tornou seu amigo:
Cartier-Bresson. Assim sendo, o
rigor geométrico nas composições também é uma de suas marcas: "A busca da organização geométrica na fotografia é um pressuposto básico, uma busca visual,
não intelectual", diz.
As imagens mais conhecidas de
Erwitt mostram cachorros em várias situações, geralmente de forma humanizada, menos pelo
olhar dele do que pela forma como as pessoas se relacionam com
seus animais domésticos.
"Nunca havia fotografado cachorros de forma consciente, até
que há alguns anos percebi que
havia muitos deles nas minhas folhas de contato", diz.
Mas por que cachorros? "Vejo
cachorros como pessoas, só que
com mais cabelos. Eles reagem
como seres humanos com a vantagem de nunca reclamarem por
estarem sendo fotografados",
conta e solta uma gargalhada. E
continua: "Para conseguir uma
boa foto dos caninos é preciso interagir com eles. Muitas vezes começo a latir na busca dessa interação", completa. Certa vez o latido
emitido pelo fotógrafo soou como
uma injúria aos ouvidos de um
cachorro que lhe mordeu a perna.
A reunião das imagens de cachorros gerou um de seus 18 livros publicados até agora: "Dog Dogs"
(Phaidon, 1998).
Dedos célebres
A mostra "Magic Hands", que
chega agora a São Paulo, no entanto, traz um outro recorte do
vasto arquivo de imagens de Erwitt: "Certa vez um editor estava
olhando meu arquivo e percebeu
que as mãos sempre eram muito
expressivas nas minhas fotos, daí
surgiu essa exposição", conta.
Entre as 37 fotografias que compõem a mostra estão retratos de
ícones do século 20 como o papa
Pio 12 (1957), Fidel Castro (1964),
Richard Nixon e Nikita Khrushchev (1959), entre outros. O retrato tomado desses dois últimos líderes mostra o exato momento
em que Nixon, durante conversa
informal, coloca seu dedo indicador sobre o peito de Khrushchev.
"Foi um gesto rápido e banal, típico de quando as pessoas estão
conversando", conta Erwitt. No
entanto, anos mais tarde, durante
campanha presidencial sob os
ecos da Guerra Fria, a equipe de
Nixon utilizaria tal imagem, sem
autorização do fotógrafo, para
fortalecer a idéia de que o candidato seria mais linha-dura que
Kennedy em relação aos russos.
"Nixon perdeu a eleição, eu briguei para receber meus direitos e
aprendi de uma vez por todas que
na maioria do tempo a fotografia
nos mostra falsas verdades dos fatos. Todo fotógrafo de imprensa
precisa ter muita responsabilidade", diz.
"Veja o caso de George Bush.
Ele se reelegeu basicamente criando uma imagem ilusória sobre ele
mesmo, manipulando a mídia e,
sobretudo, as imagens sobre o seu
governo. Ele é mestre em imagens-show", completou.
A Leica Gallery, que será inaugurada hoje com a mostra de Erwitt, é apenas a sétima do mundo
e passará a fazer parte do calendário de mostras de qualidade com
itinerância entre essas galerias. A
intenção dos organizadores paulistanos é poder também inserir
fotógrafos brasileiros nesse circuito.
Magic Hands
Quando: abertura hoje, para
convidados, às 19h30. A partir de
amanhã até 28 de maio, de seg. a sex. das
10h às 19h; dom., das 12h às 16h
Onde: Leica Gallery (r. da Mata, 70,
sobreloja, Itaim Bibi, SP, tel. 0/xx/11/
3079-0300)
Quanto: entrada franca
Mais informações: www.elliotterwitt.com
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