São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Pinacoteca expõe as séries "A História da Moça que Atravessou o Espelho" e "Jean Harlow: A Vida e a Morte"

Mostra reconstitui memória de Duke Lee

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por pouco, dois trabalhos até hoje inéditos de Wesley Duke Lee, 73, não morreram em segredo. Depois de três décadas guardadas, as séries "A História da Moça que Atravessou o Espelho" (1964) e "Jean Harlow: A Vida e a Morte" (1967) vêm a público em exposição aberta na Pinacoteca.
A figura feminina e o erotismo aparecem como elementos preponderantes, em desenhos que flertam com a informalidade do croqui, transformando em obra final o traço imediato, a partir de uma liberdade formal que resgata valores de dadaístas, como Picabia. "Ele demorava a conceber a obra, mas a executava em um momento único", conta a curadora dessa mostra, Cacilda Teixeira da Costa, para explicar a estética desses trabalhos específicos, que vieram da galeria Luisa Strina e de uma coleção particular. A curadora também é autora do livro "Wesley Duke Lee", lançado pela Edusp.
No caso da série "A História da Moça que Atravessou o Espelho" (carvão sobre papel), que reúne oito desenhos, o ritual se materializa em um experimento lúdico: Duke Lee capta as formas de uma mulher usando um espelho, como se a imagem direta do objeto retratado interessasse menos do que o seu reflexo. Toda a gama de deformidades oferecidas pela superfície imperfeita do espelho cria uma névoa, borrando a figuração.
A memória de Jean Harlow também é reconstituída a partir de uma reprodução indireta. A série de 30 desenhos surge a partir de quadrinhos retratando a vida da atriz que marcou a produção de Hollywood nos anos 30 e que morreu prematuramente, após passar por uma vida cheia de mistérios -a prostituição é apenas um dos segredos dessa história.
Duke Lee ficou fascinado pelos meandros psicológicos da vida da personagem e reproduziu os desenhos dos quadrinhos, que foram comprados em uma banca de jornal, em trabalhos de nanquim sobre papel. Ao lado das imagens, o artista insere frases enigmáticas, como "Os mundos secretos são perigosos". A reprodução, por fim, acaba partindo para desenhos de objetos ligados ao universo das dívidas, como jóias.
Os textos são numerosos nessa série, expondo afinidades de Duke Lee com a poesia. A caligrafia, que se faz muitas vezes ilegível, também aparece com finalidades estéticas. "O que importa, nesse caso, é a forma dos caracteres em comunhão com o desenho. É como a caligrafia oriental, cujo símbolo tem tanta importância quanto seu significado", explica Costa.
A reprodução de quadrinhos também leva à conclusão de que Duke Lee bebeu em fontes da arte pop. Apesar de preferir uma técnica antiga por excelência -o desenho-, o artista ficou conhecido por fomentar no cenário paulistano novas propostas formais, como a realização de happenings.
Ao lado de Carlos Farjado, Nelson Leirner, Geraldo de Barros, José Resende e Frederico Nasser, criou a Rex Gallery, espaço que funcionou de 1966 a 1967 como uma reação ao mercado das artes, sendo palco de experimentações diversas.


Wesley Duke Lee
Quando:
ter. a dom.: 10h às 18h
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, região central, SP, tel. 0/ xx/11/ 13229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)


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