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ARTES PLÁSTICAS
Pinacoteca expõe as séries "A História da Moça que Atravessou o Espelho" e "Jean Harlow: A Vida e a Morte"
Mostra reconstitui memória de Duke Lee
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por pouco, dois trabalhos até
hoje inéditos de Wesley Duke Lee,
73, não morreram em segredo.
Depois de três décadas guardadas, as séries "A História da Moça
que Atravessou o Espelho" (1964)
e "Jean Harlow: A Vida e a Morte"
(1967) vêm a público em exposição aberta na Pinacoteca.
A figura feminina e o erotismo
aparecem como elementos preponderantes, em desenhos que
flertam com a informalidade do
croqui, transformando em obra
final o traço imediato, a partir de
uma liberdade formal que resgata
valores de dadaístas, como Picabia. "Ele demorava a conceber a
obra, mas a executava em um momento único", conta a curadora
dessa mostra, Cacilda Teixeira da
Costa, para explicar a estética desses trabalhos específicos, que vieram da galeria Luisa Strina e de
uma coleção particular. A curadora também é autora do livro
"Wesley Duke Lee", lançado pela
Edusp.
No caso da série "A História da
Moça que Atravessou o Espelho"
(carvão sobre papel), que reúne
oito desenhos, o ritual se materializa em um experimento lúdico:
Duke Lee capta as formas de uma
mulher usando um espelho, como se a imagem direta do objeto
retratado interessasse menos do
que o seu reflexo. Toda a gama de
deformidades oferecidas pela superfície imperfeita do espelho cria
uma névoa, borrando a figuração.
A memória de Jean Harlow
também é reconstituída a partir
de uma reprodução indireta. A série de 30 desenhos surge a partir
de quadrinhos retratando a vida
da atriz que marcou a produção
de Hollywood nos anos 30 e que
morreu prematuramente, após
passar por uma vida cheia de mistérios -a prostituição é apenas
um dos segredos dessa história.
Duke Lee ficou fascinado pelos
meandros psicológicos da vida da
personagem e reproduziu os desenhos dos quadrinhos, que foram comprados em uma banca de
jornal, em trabalhos de nanquim
sobre papel. Ao lado das imagens,
o artista insere frases enigmáticas,
como "Os mundos secretos são
perigosos". A reprodução, por
fim, acaba partindo para desenhos de objetos ligados ao universo das dívidas, como jóias.
Os textos são numerosos nessa
série, expondo afinidades de Duke Lee com a poesia. A caligrafia,
que se faz muitas vezes ilegível,
também aparece com finalidades
estéticas. "O que importa, nesse
caso, é a forma dos caracteres em
comunhão com o desenho. É como a caligrafia oriental, cujo símbolo tem tanta importância quanto seu significado", explica Costa.
A reprodução de quadrinhos
também leva à conclusão de que
Duke Lee bebeu em fontes da arte
pop. Apesar de preferir uma técnica antiga por excelência -o desenho-, o artista ficou conhecido por fomentar no cenário paulistano novas propostas formais,
como a realização de happenings.
Ao lado de Carlos Farjado, Nelson Leirner, Geraldo de Barros,
José Resende e Frederico Nasser,
criou a Rex Gallery, espaço que
funcionou de 1966 a 1967 como
uma reação ao mercado das artes,
sendo palco de experimentações
diversas.
Wesley Duke Lee
Quando: ter. a dom.: 10h às 18h
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, região central, SP, tel. 0/ xx/11/
13229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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