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TVs criam eco-realities para fazer debate "verde"
Globo e Cultura monitoram famílias em suas casas para obter ações sustentáveis
"Mudança Geral", exibido no "Fantástico", acompanha família paulistana por um mês; "EcoPrático", da Cultura, visita uma casa por programa
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A edição empilha cenas de
geleiras derretendo, enchentes
homéricas, tempestades cinematográficas. A voz de Zeca Camargo então surge com uma
lista: "Aquecimento global,
efeito estufa, colapso de energia". Entra uma vinheta à moda
"Big Brother Brasil": o rosto de
quatro participantes está estampado em close num labirinto por onde a câmera circula
com movimentos ágeis.
E, assim, lá vem um novo reality show. Agora, em família e
com causa. É "eco-reality", versão jornalística do formato que
o "Fantástico" exibirá em episódios de 20 minutos, durante
um mês. "Mudança Geral" é
um programa "eco" -algo como o prefixo do momento.
É eco também o primeiro
reality show da história da TV
Cultura, o "EcoPrático". Mas,
enquanto a versão da Globo se
dedica aos mesmos "participantes" (uma família da zona
sul de São Paulo, os Meneghini), este cuida de uma casa a cada episódio. E, exceto pelas vinhetas, pela participação do
público e pelas câmeras do programa global, nem um nem outro tem a estrutura de um
"BBB": a casa monitorada é a de
uma família ou pessoa comum,
ainda sem a cultura eco.
A proposta é justamente a de
fazer com que tenham hábitos
mais sustentáveis, como separar o lixo para reciclagem, economizar água e luz -caso contrário, lembraria Zeca Camargo, "aquecimento global, efeito
estufa..."-, melhorar a alimentação, entre outras, digamos,
ecoquestões.
"Sustentabilidade: agora todo mundo fala disso", diz Anelis
Assumpção, no início de cada
episódio do "EcoPrático". Nele,
cada família é avaliada em dez
"ecocritérios" (energia, água,
alimentação, resíduos, estrutura, ecossistema, bem-estar,
consumo, transporte e atitude)
e deve aplicar a si mesma uma
"econota" de zero a dez.
Há ainda o "ieco", índice que
sinaliza quão eco são as atitudes e rotinas de cada morador
da casa, e uma "ecoterapia" ao
fim do episódio, para que o participante diga o que aprendeu
-se é que aprendeu algo.
Por exemplo, Leonardo Musa teve sua casa visitada pelos
apresentadores, Anelis e o jornalista Peri Pane, e dois consultores. Teve seus hábitos avaliados (pretendia se dar "econota"
zero, mas foi convencido de que
merecia mais, um três), seu
apartamento no Copan, no
centro de SP, teve infiltrações e
piso consertados, ganhou cortina no quarto (entra no "ecocritério" bem-estar), teve paredes
pintadas, entre outros ajustes.
Na hora da "ecoterapia", disse não ter mudado em nada
seus hábitos e que achou "legal"
a reciclagem feita no próprio
prédio, mas que, não, nada disso iria "salvar o planeta". Leve e
divertida, a edição do "EcoPrático" incluiu alarmes que soavam a cada frase "antieco" do
personagem.
Agenda positiva
Para chegar às dez casas da
primeira temporada do "EcoPrático", 80 foram avaliadas
pela produção e pelos consultores (além da jornalista Maria
Zulmira, a Zuzu, há o arquiteto
"sustentável até o teto" Francisco Lima). Há de residência
em condomínio fechado no
Morumbi à família de baixa
renda em Embu das Artes ou a
quitinete do Copan.
O que não varia, diz o criador
do projeto, o publicitário Guto
Carvalho, é trabalhar com
"agenda positiva". "Não somos
"ecochatos". Em vez de dizer
que estão queimando as florestas, dizemos: "Olha como são
bonitas as florestas'", afirma
Carvalho. "Damos instrumentos para que as pessoas decupem sua vida em sistemas de
relação. Falamos do ecossistema de casa, não da Amazônia."
Já a série do "Fantástico",
chamada pela Globo de "reality
reportagem", vem na esteira de
outra, de consultoria financeira, que atendeu a família Amorim. E tem um tom mais "ecochato": além de exibir cenas de
catástrofe, compara as questões da família Meneghini às
médias brasileiras. Se cada um
dos quatro moradores da casa
produz 400 g de lixo por dia,
por exemplo, surge a média
paulistana em infográfico na
tela: uma pessoa na capital gera, em média, de 700 g a 1 kg de
lixo em um só dia.
"Não vamos dizer: "Façam isso ou aquilo". As metas vão ser
decididas com base na análise
dos especialistas ["Mudança
Geral" tem cinco consultores].
Nesta semana, vão bem na
água, por exemplo, e mal no lixo. O público poderá decidir
qual é a área a que a família deve atacar primeiro", explica
Frederico Neves, diretor da série. Para ele, na moldura de um
reality o debate eco fica mais
próximo do público. "Se ficarmos só na base do discurso imperativo, as pessoas tendem a
se cansar", avalia.
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