São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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TVs criam eco-realities para fazer debate "verde"

Globo e Cultura monitoram famílias em suas casas para obter ações sustentáveis

"Mudança Geral", exibido no "Fantástico", acompanha família paulistana por um mês; "EcoPrático", da Cultura, visita uma casa por programa


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A edição empilha cenas de geleiras derretendo, enchentes homéricas, tempestades cinematográficas. A voz de Zeca Camargo então surge com uma lista: "Aquecimento global, efeito estufa, colapso de energia". Entra uma vinheta à moda "Big Brother Brasil": o rosto de quatro participantes está estampado em close num labirinto por onde a câmera circula com movimentos ágeis.
E, assim, lá vem um novo reality show. Agora, em família e com causa. É "eco-reality", versão jornalística do formato que o "Fantástico" exibirá em episódios de 20 minutos, durante um mês. "Mudança Geral" é um programa "eco" -algo como o prefixo do momento.
É eco também o primeiro reality show da história da TV Cultura, o "EcoPrático". Mas, enquanto a versão da Globo se dedica aos mesmos "participantes" (uma família da zona sul de São Paulo, os Meneghini), este cuida de uma casa a cada episódio. E, exceto pelas vinhetas, pela participação do público e pelas câmeras do programa global, nem um nem outro tem a estrutura de um "BBB": a casa monitorada é a de uma família ou pessoa comum, ainda sem a cultura eco.
A proposta é justamente a de fazer com que tenham hábitos mais sustentáveis, como separar o lixo para reciclagem, economizar água e luz -caso contrário, lembraria Zeca Camargo, "aquecimento global, efeito estufa..."-, melhorar a alimentação, entre outras, digamos, ecoquestões.
"Sustentabilidade: agora todo mundo fala disso", diz Anelis Assumpção, no início de cada episódio do "EcoPrático". Nele, cada família é avaliada em dez "ecocritérios" (energia, água, alimentação, resíduos, estrutura, ecossistema, bem-estar, consumo, transporte e atitude) e deve aplicar a si mesma uma "econota" de zero a dez.
Há ainda o "ieco", índice que sinaliza quão eco são as atitudes e rotinas de cada morador da casa, e uma "ecoterapia" ao fim do episódio, para que o participante diga o que aprendeu -se é que aprendeu algo.
Por exemplo, Leonardo Musa teve sua casa visitada pelos apresentadores, Anelis e o jornalista Peri Pane, e dois consultores. Teve seus hábitos avaliados (pretendia se dar "econota" zero, mas foi convencido de que merecia mais, um três), seu apartamento no Copan, no centro de SP, teve infiltrações e piso consertados, ganhou cortina no quarto (entra no "ecocritério" bem-estar), teve paredes pintadas, entre outros ajustes.
Na hora da "ecoterapia", disse não ter mudado em nada seus hábitos e que achou "legal" a reciclagem feita no próprio prédio, mas que, não, nada disso iria "salvar o planeta". Leve e divertida, a edição do "EcoPrático" incluiu alarmes que soavam a cada frase "antieco" do personagem.

Agenda positiva
Para chegar às dez casas da primeira temporada do "EcoPrático", 80 foram avaliadas pela produção e pelos consultores (além da jornalista Maria Zulmira, a Zuzu, há o arquiteto "sustentável até o teto" Francisco Lima). Há de residência em condomínio fechado no Morumbi à família de baixa renda em Embu das Artes ou a quitinete do Copan.
O que não varia, diz o criador do projeto, o publicitário Guto Carvalho, é trabalhar com "agenda positiva". "Não somos "ecochatos". Em vez de dizer que estão queimando as florestas, dizemos: "Olha como são bonitas as florestas'", afirma Carvalho. "Damos instrumentos para que as pessoas decupem sua vida em sistemas de relação. Falamos do ecossistema de casa, não da Amazônia."
Já a série do "Fantástico", chamada pela Globo de "reality reportagem", vem na esteira de outra, de consultoria financeira, que atendeu a família Amorim. E tem um tom mais "ecochato": além de exibir cenas de catástrofe, compara as questões da família Meneghini às médias brasileiras. Se cada um dos quatro moradores da casa produz 400 g de lixo por dia, por exemplo, surge a média paulistana em infográfico na tela: uma pessoa na capital gera, em média, de 700 g a 1 kg de lixo em um só dia.
"Não vamos dizer: "Façam isso ou aquilo". As metas vão ser decididas com base na análise dos especialistas ["Mudança Geral" tem cinco consultores]. Nesta semana, vão bem na água, por exemplo, e mal no lixo. O público poderá decidir qual é a área a que a família deve atacar primeiro", explica Frederico Neves, diretor da série. Para ele, na moldura de um reality o debate eco fica mais próximo do público. "Se ficarmos só na base do discurso imperativo, as pessoas tendem a se cansar", avalia.


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