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DANÇA
Novo espetáculo da coreógrafa, em que ela faz parceria com artistas plásticos, estréia temporada hoje em São Paulo
Deborah Colker volta a pôr os pés no chão
ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Teatro lotado, sessões extras,
público animado. Esse clima festivo, que já se tornou rotina durante as temporadas da Companhia
de Dança Deborah Colker, também foi dominante na semana
passada, quando o grupo apresentou no Rio de Janeiro o seu novo espetáculo -"4 por 4"- que
estréia hoje no teatro Alfa, em São
Paulo.
Fenômeno de bilheteria da dança brasileira, Colker conta com
platéias numerosas também na
cena internacional. Depois de
conquistar, no ano passado, o
prestigiado prêmio Laurence Olivier, oferecido em Londres para
as maiores personalidades das artes cênicas internacionais, Colker
reforçou seu cacife para marcar
presença num circuito que se estende das capitais européias a locais como Hong Kong (incluído
na turnês deste semestre), Nova
Zelândia e Singapura.
Para o grupo de Colker também
tornou-se rotina a presença de
programadores internacionais
em suas platéias. À estréia carioca
de "4 por 4", por exemplo, compareceram Peter Hoffman, diretor artístico do teatro Het Musik
Opera, de Amsterdã, e Guy Darmet, o diretor da Bienal Internacional da Dança de Lyon, que
acompanha o trabalho de Colker
desde 1996, quando ele escolheu o
Brasil como tema de seu evento.
"Deborah é uma personalidade
singular na dança mundial", diz
Darmet, que pretende apresentar
"4 por 4" no teatro que dirige na
cidade francesa de Lyon, a "Maison de la Danse". "O grande talento de Deborah é nos colocar proposições visuais excepcionais. Ela
inventa coisas incríveis, como o
muro de "Velox", a roda-gigante
de "Rota" e agora os vasos de "4 por
4", para fazer uma dança que domina a dificuldade e que se constrói em meio a obstáculos."
Na opinião de Darmet, Colker
tem um papel fundamental na
dança. "Por natureza, os espetáculos de Deborah tocam o público, são populares e hoje atrair
grandes platéias é importante tanto para a dança brasileira quanto
para a dança internacional", diz o
diretor da Bienal de Lyon.
Sobre outra rotina na trajetória
de Colker -a resistência que enfrenta no Brasil, entre críticos e
colegas de profissão- Darmet é
enfático: "Assim como no início
do século 20 havia gente querendo limitar a dança ao balé clássico,
hoje há os que querem fazer da
dança contemporânea um território exclusivo da experimentação. Como Deborah não se enquadra nessa vertente, ela enfrenta resistências que aumentam
com o sucesso".
Na carreira de Colker, "4 por 4"
surge como mais uma investigação espacial que, depois de explorar planos aéreos, volta-se para os
desafios do chão. Dividido em
quatro partes, o espetáculo também marca a parceria da coreógrafa com artistas plásticos.
"Procurei penetrar no universo
estético de cada artista", diz a coreógrafa, que em cena utiliza as
instalações "Os Cantos", de Cildo
Meireles, a mesa móvel do grupo
Chelpa Ferro, a "tela para ser pisada" de Victor Arruda e o "jardim"
de 90 vasos de Gringo Cardia, que
obriga os bailarinos a se mover
com extrema precisão.
Ponto alto do espetáculo, a cena
dos vasos desafia tanto o elenco
quanto a equipe técnica. Graças a
um sistema eletromagnético, os
vasos permanecem suspensos em
certo momento, exigindo para
tanto cálculos milimétricos.
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