São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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DANÇA

Novo espetáculo da coreógrafa, em que ela faz parceria com artistas plásticos, estréia temporada hoje em São Paulo

Deborah Colker volta a pôr os pés no chão

ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Teatro lotado, sessões extras, público animado. Esse clima festivo, que já se tornou rotina durante as temporadas da Companhia de Dança Deborah Colker, também foi dominante na semana passada, quando o grupo apresentou no Rio de Janeiro o seu novo espetáculo -"4 por 4"- que estréia hoje no teatro Alfa, em São Paulo.
Fenômeno de bilheteria da dança brasileira, Colker conta com platéias numerosas também na cena internacional. Depois de conquistar, no ano passado, o prestigiado prêmio Laurence Olivier, oferecido em Londres para as maiores personalidades das artes cênicas internacionais, Colker reforçou seu cacife para marcar presença num circuito que se estende das capitais européias a locais como Hong Kong (incluído na turnês deste semestre), Nova Zelândia e Singapura.
Para o grupo de Colker também tornou-se rotina a presença de programadores internacionais em suas platéias. À estréia carioca de "4 por 4", por exemplo, compareceram Peter Hoffman, diretor artístico do teatro Het Musik Opera, de Amsterdã, e Guy Darmet, o diretor da Bienal Internacional da Dança de Lyon, que acompanha o trabalho de Colker desde 1996, quando ele escolheu o Brasil como tema de seu evento.
"Deborah é uma personalidade singular na dança mundial", diz Darmet, que pretende apresentar "4 por 4" no teatro que dirige na cidade francesa de Lyon, a "Maison de la Danse". "O grande talento de Deborah é nos colocar proposições visuais excepcionais. Ela inventa coisas incríveis, como o muro de "Velox", a roda-gigante de "Rota" e agora os vasos de "4 por 4", para fazer uma dança que domina a dificuldade e que se constrói em meio a obstáculos."
Na opinião de Darmet, Colker tem um papel fundamental na dança. "Por natureza, os espetáculos de Deborah tocam o público, são populares e hoje atrair grandes platéias é importante tanto para a dança brasileira quanto para a dança internacional", diz o diretor da Bienal de Lyon.
Sobre outra rotina na trajetória de Colker -a resistência que enfrenta no Brasil, entre críticos e colegas de profissão- Darmet é enfático: "Assim como no início do século 20 havia gente querendo limitar a dança ao balé clássico, hoje há os que querem fazer da dança contemporânea um território exclusivo da experimentação. Como Deborah não se enquadra nessa vertente, ela enfrenta resistências que aumentam com o sucesso".
Na carreira de Colker, "4 por 4" surge como mais uma investigação espacial que, depois de explorar planos aéreos, volta-se para os desafios do chão. Dividido em quatro partes, o espetáculo também marca a parceria da coreógrafa com artistas plásticos.
"Procurei penetrar no universo estético de cada artista", diz a coreógrafa, que em cena utiliza as instalações "Os Cantos", de Cildo Meireles, a mesa móvel do grupo Chelpa Ferro, a "tela para ser pisada" de Victor Arruda e o "jardim" de 90 vasos de Gringo Cardia, que obriga os bailarinos a se mover com extrema precisão.
Ponto alto do espetáculo, a cena dos vasos desafia tanto o elenco quanto a equipe técnica. Graças a um sistema eletromagnético, os vasos permanecem suspensos em certo momento, exigindo para tanto cálculos milimétricos.


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