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TEATRO
Grupo paranaense radicado no Rio desembarca em São Paulo com textos, sons e imagens
ARMAZÉM queima estoque
PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
De tempos em tempos, a Armazém Cia. de Teatro deixa o Rio de
Janeiro que adotou como sede
desde 98 e aporta na capital do Estado que a separa do Paraná natal.
Foi assim com "Esperando Godot", de Samuel Beckett (1906-89), em 2002. E é o que acontece a
partir de hoje, com uma programação que inclui duas peças, um
debate, a venda de um livro e o
lançamento de um DVD.
Fundado em 87, em Londrina, o
grupo, responsável por encenações tais quais "A Ratoeira É o Gato" (93) e "Alice através do Espelho" (99), desta vez traz na bagagem da temporada paulistana
"Pessoas Invisíveis" e "Casca de
Noz" -esta a entrar em cartaz na
semana que vem.
Ambos os espetáculos, cada
qual ao seu modo e com as suas
especificidades, guardam como
semelhança o desejo de trazer à
linguagem teatral contribuições
de outras searas. O primeiro dialoga com o universo das HQs; o
segundo, com a literatura.
"Além da sequência, do amadurecimento de um trabalho para o
outro, o paralelo entre eles é a pesquisa de uma construção de dramaturgia própria a partir do cruzamento do teatro com uma outra linguagem", diz o diretor da
companhia, Paulo de Moraes, 38.
"Pessoas Invisíveis", apresentado na mostra oficial do Festival de
Teatro de Curitiba deste ano, tem
inspiração na obra do cartunista
norte-americano Will Eisner, o
criador de Spirit.
A grande protagonista é a metrópole, qualquer que seja. No caso, é exibido um movimentado
edifício do Bronx, em Nova York,
onde Eisner nasceu.
"Trata da solidão urbana. Will
Eisner tem um olhar muito interessante sobre as vidas miúdas,
que não têm acontecimentos
grandiosos. Sempre olha para elas
muito compassivamente. Há nele
uma intensidade prosaica, simples, não aquela coisa heróica",
afirma o encenador.
Para ele, a influência dos quadrinhos, na peça manifestada pela
escolha temática do universo retratado, sempre permeou as criações da Armazém. "A HQ sempre
foi uma referência visual, por sua
fragmentação, pela forma de contar, narrar. Essa referência para
nós existe e é orgânica."
Já "Casca de Noz", assimilando
tais subsídios, parte de uma outra
vertente: a literária. O espetáculo
se baseia no livro "As Cosmicômicas", de Italo Calvino (1923-1985). É levada ao palco a história
de Qfwfq, ser que testemunhou
tudo, do Big Bang à atualidade.
"O apelo visual era interessante,
o texto fala do surgimento do universo, dos cometas, dos planetas.
O legal é que parece que se está falando de uma coisa muito distante, abstrata, mas se trata das angústias cotidianas, contemporâneas. Surge o humor a partir da
contraposição entre a razão e a
fantasia", diz Moraes.
A amarrar os conceitos que embasam os dois textos, promove-se
o debate "HQs x Teatro/Literatura x Teatro - Interseção de Linguagens", no teatro, no dia 29/7,
às 20h, com entrada franca.
Por ora, segundo Paulo de Moraes, a companhia não tem a mínima idéia do ponto de partida de
sua próxima peça.
PESSOAS INVISÍVEIS E CASCA DE NOZ.
Dramaturgia: Maurício Arruda
Mendonça e Paulo de Moraes. Direção:
Paulo de Moraes. Quando: pré-estréia
hoje para convidados, às 21h, e amanhã
para o público, às 21h; sex. e sáb., às 21h,
e dom., às 19h; até 17/8 ("Pessoas
Invisíveis"). Estréia no dia 16/7, às 21h;
qua. e qui., às 21h; até 14/8 ("Casca de
Noz"). Onde: Sesc Consolação - teatro
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, SP, tel. 0/xx/11/3256-2281).
Quanto: de R$ 15 a R$ 30 ("Pessoas
Invisíveis") e de R$ 10 a R$ 20 ("Casca de
Noz"). Patrocinador: BR Distribuidora.
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