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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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TEATRO

Grupo paranaense radicado no Rio desembarca em São Paulo com textos, sons e imagens

ARMAZÉM queima estoque

PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

De tempos em tempos, a Armazém Cia. de Teatro deixa o Rio de Janeiro que adotou como sede desde 98 e aporta na capital do Estado que a separa do Paraná natal. Foi assim com "Esperando Godot", de Samuel Beckett (1906-89), em 2002. E é o que acontece a partir de hoje, com uma programação que inclui duas peças, um debate, a venda de um livro e o lançamento de um DVD.
Fundado em 87, em Londrina, o grupo, responsável por encenações tais quais "A Ratoeira É o Gato" (93) e "Alice através do Espelho" (99), desta vez traz na bagagem da temporada paulistana "Pessoas Invisíveis" e "Casca de Noz" -esta a entrar em cartaz na semana que vem.
Ambos os espetáculos, cada qual ao seu modo e com as suas especificidades, guardam como semelhança o desejo de trazer à linguagem teatral contribuições de outras searas. O primeiro dialoga com o universo das HQs; o segundo, com a literatura.
"Além da sequência, do amadurecimento de um trabalho para o outro, o paralelo entre eles é a pesquisa de uma construção de dramaturgia própria a partir do cruzamento do teatro com uma outra linguagem", diz o diretor da companhia, Paulo de Moraes, 38.
"Pessoas Invisíveis", apresentado na mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba deste ano, tem inspiração na obra do cartunista norte-americano Will Eisner, o criador de Spirit.
A grande protagonista é a metrópole, qualquer que seja. No caso, é exibido um movimentado edifício do Bronx, em Nova York, onde Eisner nasceu.
"Trata da solidão urbana. Will Eisner tem um olhar muito interessante sobre as vidas miúdas, que não têm acontecimentos grandiosos. Sempre olha para elas muito compassivamente. Há nele uma intensidade prosaica, simples, não aquela coisa heróica", afirma o encenador.
Para ele, a influência dos quadrinhos, na peça manifestada pela escolha temática do universo retratado, sempre permeou as criações da Armazém. "A HQ sempre foi uma referência visual, por sua fragmentação, pela forma de contar, narrar. Essa referência para nós existe e é orgânica."
Já "Casca de Noz", assimilando tais subsídios, parte de uma outra vertente: a literária. O espetáculo se baseia no livro "As Cosmicômicas", de Italo Calvino (1923-1985). É levada ao palco a história de Qfwfq, ser que testemunhou tudo, do Big Bang à atualidade.
"O apelo visual era interessante, o texto fala do surgimento do universo, dos cometas, dos planetas. O legal é que parece que se está falando de uma coisa muito distante, abstrata, mas se trata das angústias cotidianas, contemporâneas. Surge o humor a partir da contraposição entre a razão e a fantasia", diz Moraes.
A amarrar os conceitos que embasam os dois textos, promove-se o debate "HQs x Teatro/Literatura x Teatro - Interseção de Linguagens", no teatro, no dia 29/7, às 20h, com entrada franca.
Por ora, segundo Paulo de Moraes, a companhia não tem a mínima idéia do ponto de partida de sua próxima peça.


PESSOAS INVISÍVEIS E CASCA DE NOZ.
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes. Direção: Paulo de Moraes. Quando: pré-estréia hoje para convidados, às 21h, e amanhã para o público, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 17/8 ("Pessoas Invisíveis"). Estréia no dia 16/7, às 21h; qua. e qui., às 21h; até 14/8 ("Casca de Noz"). Onde: Sesc Consolação - teatro Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, SP, tel. 0/xx/11/3256-2281). Quanto: de R$ 15 a R$ 30 ("Pessoas Invisíveis") e de R$ 10 a R$ 20 ("Casca de Noz"). Patrocinador: BR Distribuidora.



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