São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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DISCO LANÇAMENTO
Tributo revisa e sampleia Jackson do Pandeiro

da Reportagem Local

Jackson do Pandeiro (1919-82) faria 80 anos em agosto de 1999. A temporada de homenagens começa antecipada, com o lançamento do tributo "Jackson do Pandeiro Revisto e Sampleado".
O disco tenta cumprir a dualidade que o título promete. Músicos de raiz nordestina, como Marinês, Zé Ramalho, Elba Ramalho, revisam o repertório suingado do intérprete e "fazedor" de coco.
Artistas de gerações mais recentes, como Lenine e Funk Fuckers, avançam da revisão à releitura, privilegiando samples e tratamento tecnológico.
O resultado é esquizofrênico. Nos dois lados, há bons momentos, mas ninguém no elenco consegue nem sequer se aproximar do suingue exibido no breve sample de "A Cantiga do Sapo" pelo próprio Jackson, incluído na já gasta "JackSoul Brasileiro", homenagem de Lenine que abre -não, não precisava- o CD.
Do lado "conservador", os destaques são "A Cantiga do Sapo" por Fagner -não pela interpretação do cantor, mas pelo arranjo tradicional e psicodélico de Hermeto Paschoal- e a espantosa versão do clássico "Chiclete com Banana" por Gal Costa.
A surpresa, aqui, até se afasta de Jackson. Sabe-se lá como, o produtor Dudu Marote extraiu de Gal uma interpretação de bichos soltos como havia décadas a cantora não expunha. É até maldade a faixa, que vem sublinhar como Gal anda apática, como anda parecendo cantar sem voltar.
De forma paralela, o encontro do macaco velho Geraldo Azevedo com o grupo de coco e forró à anos 90 Cascabulho, em "Na Base da Chinela", traz inquietação ao CD, mas aqui mais propriamente por espanar com energia o universo de Jackson.
Mais "quadrados", mas nem por isso incompetentes, filiam-se ao lado "velho" do disco Zé Ramalho, Marinês e Elba Ramalho. A nota dissonante fica para a inédita parceria entre Chico Buarque e Zeca Pagodinho, em "A Mulher do Aníbal". O encontro é inusitado, mas, exibicionista, fica mais para o pandeiro de Pagodinho que para o de Jackson.
Do lado dos "novos", tudo é muito adequado, mas nada é muito surpreendente. O modelo "funk'n'lata" definido por Fernanda Abreu se repete, sem falhas e sem brilho, em "Meu Enxoval" (com ela própria), "Sebastiana" (Lenine) e "Cremilda", em que os Funk Fuckers liberam qualidades pop que seu pesado CD de estréia nem fazia suspeitar.
Os Paralamas do Sucesso vêm com uma versão forte de "Um a Um", bem envenenada de guitarra. O que não dá para entender é a insistência em ficar na mesma música que já haviam gravado em 1988, quando "funk'n'lata" era só coisa de Lobão.
No meio termo ficam O Rappa, também egocêntrico na gracinha de escolher "A Feira" (xará de um hit pop da própria banda) -com resultado xumbrega-, e Renata Arruda, conterrânea de Jackson de voz mais inspirada no expressionismo das axé girls que no suingue do mestre.
O desastre só vem desabar na impagável "A Mulher Que Virou Homem", em que Gabriel o Pensador acha que pode convidar Ana Lima para reeditar com ele a dupla Jackson-Almira. O arranjo até é engraçado, mas o duelo para ver quem canta mais desastradamente é de vida ou de morte.
Idas e vindas, "Jackson do Pandeiro Revisto e Ampliado" passa meio timidamende pelo tamanho de Jackson. Um detalhe, em especial, enfraquece a potência do projeto. É que Do Pandeiro foi muito um virtuose popular e um intérprete de raro suingue, quase nada um autor.
O repertório comprova: desfilam temas deliciosos de Gordurinha, Rosil Cavalcanti, João do Vale, Buco do Pandeiro e outros. O melhor de Jackson, voz e suingue, ficam só na saudade.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Avaliação:   



Disco: Jackson do Pandeiro Revisto e Ampliado
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média


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