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DISCO LANÇAMENTO
Tributo revisa e sampleia Jackson do Pandeiro
da Reportagem Local
Jackson do Pandeiro (1919-82)
faria 80 anos em agosto de 1999. A
temporada de homenagens começa antecipada, com o lançamento do tributo "Jackson do
Pandeiro Revisto e Sampleado".
O disco tenta cumprir a dualidade que o título promete. Músicos de raiz nordestina, como Marinês, Zé Ramalho, Elba Ramalho,
revisam o repertório suingado do
intérprete e "fazedor" de coco.
Artistas de gerações mais recentes, como Lenine e Funk Fuckers,
avançam da revisão à releitura,
privilegiando samples e tratamento tecnológico.
O resultado é esquizofrênico.
Nos dois lados, há bons momentos, mas ninguém no elenco consegue nem sequer se aproximar
do suingue exibido no breve sample de "A Cantiga do Sapo" pelo
próprio Jackson, incluído na já
gasta "JackSoul Brasileiro", homenagem de Lenine que abre
-não, não precisava- o CD.
Do lado "conservador", os destaques são "A Cantiga do Sapo"
por Fagner -não pela interpretação do cantor, mas pelo arranjo
tradicional e psicodélico de Hermeto Paschoal- e a espantosa
versão do clássico "Chiclete com
Banana" por Gal Costa.
A surpresa, aqui, até se afasta de
Jackson. Sabe-se lá como, o produtor Dudu Marote extraiu de
Gal uma interpretação de bichos
soltos como havia décadas a cantora não expunha. É até maldade
a faixa, que vem sublinhar como
Gal anda apática, como anda parecendo cantar sem voltar.
De forma paralela, o encontro
do macaco velho Geraldo Azevedo com o grupo de coco e forró à
anos 90 Cascabulho, em "Na Base
da Chinela", traz inquietação ao
CD, mas aqui mais propriamente
por espanar com energia o universo de Jackson.
Mais "quadrados", mas nem
por isso incompetentes, filiam-se
ao lado "velho" do disco Zé Ramalho, Marinês e Elba Ramalho.
A nota dissonante fica para a inédita parceria entre Chico Buarque
e Zeca Pagodinho, em "A Mulher
do Aníbal". O encontro é inusitado, mas, exibicionista, fica mais
para o pandeiro de Pagodinho
que para o de Jackson.
Do lado dos "novos", tudo é
muito adequado, mas nada é
muito surpreendente. O modelo
"funk'n'lata" definido por Fernanda Abreu se repete, sem falhas
e sem brilho, em "Meu Enxoval"
(com ela própria), "Sebastiana"
(Lenine) e "Cremilda", em que os
Funk Fuckers liberam qualidades
pop que seu pesado CD de estréia
nem fazia suspeitar.
Os Paralamas do Sucesso vêm
com uma versão forte de "Um a
Um", bem envenenada de guitarra. O que não dá para entender é a
insistência em ficar na mesma
música que já haviam gravado em
1988, quando "funk'n'lata" era só
coisa de Lobão.
No meio termo ficam O Rappa,
também egocêntrico na gracinha
de escolher "A Feira" (xará de um
hit pop da própria banda) -com
resultado xumbrega-, e Renata
Arruda, conterrânea de Jackson
de voz mais inspirada no expressionismo das axé girls que no
suingue do mestre.
O desastre só vem desabar na
impagável "A Mulher Que Virou
Homem", em que Gabriel o Pensador acha que pode convidar
Ana Lima para reeditar com ele a
dupla Jackson-Almira. O arranjo
até é engraçado, mas o duelo para
ver quem canta mais desastradamente é de vida ou de morte.
Idas e vindas, "Jackson do Pandeiro Revisto e Ampliado" passa
meio timidamende pelo tamanho
de Jackson. Um detalhe, em especial, enfraquece a potência do
projeto. É que Do Pandeiro foi
muito um virtuose popular e um
intérprete de raro suingue, quase
nada um autor.
O repertório comprova: desfilam temas deliciosos de Gordurinha, Rosil Cavalcanti, João do Vale, Buco do Pandeiro e outros. O
melhor de Jackson, voz e suingue,
ficam só na saudade.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Avaliação:
Disco: Jackson do Pandeiro Revisto e
Ampliado
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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