São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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Obra de Hironobu Sakaguchi, o filme digital "Final Fantasy" estréia hoje no Brasil

Realidade de última geração

Divulgação
Cenas do filme digital "Final Fantasy", que foi criado por Hironobu Sakaguchi com inspiração no videogame homônimo


MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM HONOLULU

Se Deus precisou de apenas seis dias para criar o homem, o milionário-transformado-em-cineasta Hironobu Sakaguchi gastou quase 2.000 para dar vida à primeira mulher digital.
Junto com ela, mas não de sua costela, veio, claro, o homem, gerado com igual perfeição renascentista com a única intenção de reproduzir, via sistemas ultramodernos de computação, o ser humano à imagem e semelhança dos sonhos mais audaciosos de Sakaguchi, um japonês que não é alienígena a ousadias.
Afinal, pertence a ele o império Square Co., que produz o videogame mais popular do mundo, "Final Fantasy". "A idéia de fazer um filme surgiu durante a produção da sétima edição do videogame", disse Sakaguchi à Folha no Havaí, onde o estúdio está sediado. "Naquela época, filmes e joguinhos eletrônicos estavam encontrando uma zona de coexistência. O que era "Matrix", cheio de diferentes níveis, lutas semi-interativas e diversas realidades, se não um videogame?"
Foi assim que, em 1997, ele saiu de Tóquio rumo a Honolulu, com várias malas nas mãos e uma única idéia na cabeça: reproduzir digitalmente o ser humano em filme. Antes que iniciasse sua gênese digital, entretanto, foi necessário que se criasse uma série de softwares, programas capazes de detalhar as mínimas perfeições e imperfeições da forma humana.
"Nossa heroína, Aki Ross, tem mais de 60 mil controles somente para o cabelo. É como se movimentássemos um fio por vez", disse o animador Roy Sato. Apesar de tanto trabalho, nunca passou pela cabeça de Sakaguchi usar atores de verdade para contar sua história.
"O foto-realismo gerado por computadores representa o nível mais alto de criatividade artística. Você se esforça para chegar àquele ponto no qual o público acredita que aquelas pessoas existem de verdade, quando eles de fato nunca existiram", explicou o criador.
E, se era essa sua intenção, conseguiu: Aki já adquiriu status de símbolo sexual, chegando a posar para revistas de biquíni e sendo cortejada pela "Playboy".
"Vou transformá-la em uma atriz de verdade", animou-se Sakaguchi. Além de dirigir o longa, o destemido japonês é o idealizador da trama, depois roteirizada por Al Reinert ("Apollo 13"). "Toda a boa ficção científica precisa ter uma subcamada mitológica, caso contrário será apenas uma série de batalhas sangrentas", disse Sakaguchi, que não fala uma palavra de inglês, por meio de um intérprete.
"Por isso, pensei em uma história na qual a Terra tivesse sido invadida por fantasmas alienígenas que vieram em busca do espírito humano", disse, recusando-se a explicar melhor. A recusa, descobre-se depois de assistir ao filme, se justifica porque a trama é tão confusa que nem dez Sakaguchis seriam capazes de resumi-la de maneira inteligível em uma entrevista apenas.
E, aparentemente, homens e mulheres de carne e osso também tiveram dificuldade em entender a ousadia do milionário: até agora, o filme faturou apenas US$ 35 milhões em bilheteria nos EUA. Mas talvez o grande mérito do criador seja aquele conferido aos pioneiros. "O filme dele é tão importante quanto "O Cantor de Jazz", o primeiro que se utilizou do som", disse James Woods, que, ao lado de Alec Baldwin, Ving Rhames, Donald Sutherland e outros, empresta sua voz a um dos personagens.
"Mas não caia na tentação de achar que nós, artistas, seremos substituídos pelos digitais. Trata-se apenas de evolução", concluiu o ator. Para o bem ou para o mal, a gênese contemporânea de Sakaguchi pode pelo menos se gabar de ter criado a mulher antes do homem. Sinal dos tempos.



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