São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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CRÍTICA

Obra é marco tecnológico, mas apenas isso

DE NOVA YORK

A crítica a "Final Fantasy" tem de começar falando do cabelo da heroína do "filme que vai entrar para a história", como se está dizendo, por ser o primeiro a ter personagens humanos criados por computadores.
Diz-se que a cabeleira da dra. Aki era uma obsessão do diretor, que envolveu 180 profissionais e leva 60 mil fios virtuais. Pois parece cabelo crespo alisado à custa de muito Henê Marú com babosa.
E olhe que foram gastos mais de US$ 100 milhões no filme. Talvez este seja seu principal problema. Você vai assistir querendo pegar todos os defeitos, como a dizer: "Ninguém me engana. Mesmo com a tecnologia, ainda não dá para substituir atores de verdade por sequências de zeros e uns".
E há defeitos para todos os gostos. Eis os principais:
1) Os personagens se movimentam muito devagar, como nenhum humano faria sem ter fumado pelo menos um baseado;
2) Da mesma maneira, não demonstram emoção. Isso fica mais evidente nos momentos de maior tensão;
3) Os olhos. Os desenhistas japoneses têm uma relação historicamente esquisita com os olhos. Os de "Final Fantasy" não têm..., bem, não têm vida.
Mas é (de novo) a história o principal defeito, assim como de quase toda a produção recente de Hollywood. Nos anos 80, os desenhos para adultos se valiam do meio (a animação) para promover a mensagem (roteiros criativos) -foi o caso de "Heavy Metal" e "The Wall".
Agora, em "Final Fantasy", ocorre o contrário. O problema está na origem do projeto, um videogame de sucesso criado pelo mesmo diretor, o japonês Hironobu Sakaguchi. Jogo não é filme.
Mas não pense que não há ótimos momentos em "FF". Um deles é a primeira cena, em que Aki sonha, e o Sol reflete nas retinas de seus olhos e logo depois na lente da "câmera". É quase um aviso do diretor: nem o olho é verdadeiro, pois a menina é virtual, nem a câmera existe, já que se trata de uma animação.
Você pode elogiar "Final Fantasy" por seus avanços tecnológicos, por ter feito para seres humanos animados, como já se disse, o que a Pixar fez para brinquedos, e Steven Spielberg, para os dinossauros. Mas é só.
(SÉRGIO DÁVILA)


Final Fantasy
Final Fantasy: The Spirits Within
  
Direção: Hironobu Sakaguchi e Motonori Sakakibara
Produção: EUA/Japão, 2001
Quando: a partir de hoje nos cines Center Norte, Interlagos, Lapa, Pátio Higienópolis, Unibanco Arteplex e circuito





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