São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"O BARATO DE GRACE"

Personagem de Brenda Blethyn encontra na droga uma forma de ganhar o dinheiro que precisa

Longa defende uso moderado da maconha

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como surgiu o adesivo "gay friendly" (com o arco-íris) para fixar nas portas dos locais que recebem bem os homossexuais, começam a aparecer filmes que deviam trazer no cartaz a estampa (com a indefectível folhinha) "hemp friendly", ou simpáticos à maconha.
O auge dessa nova tendência é "O Barato de Grace", mas quase não houve filme independente nos últimos anos que não tivesse o seu baseadinho. Até alguns títulos do cinemão hollywoodiano "ousaram" fazer o mesmo -tanto tempo depois dos anos 60, dizer que é ousadia pôr um cigarro de maconha no bico de um personagem de celulóide!
Mas "O Barato" vai mais longe. Grace (Brenda Blethyn, de "Segredos e Mentiras") é uma mulher de meia-idade em uma cidadezinha da Inglaterra às voltas com um problema: tem que pagar a hipoteca da casa, uma dívida de 300 mil libras (cerca de R$ 1,05 milhão) deixada pelo marido.
Expert em jardinagem, depois de conversar com seu amigo, o jardineiro, Matthew (Craig Ferguson, co-autor do roteiro e ainda bonitão), ela descobre uma solução rápida, embora ilegal e muito arriscada, para salvar a pele.
Vai produzir em sua estufa, em vez de orquídeas premiadas, uma "cannabis sativa" digna de troféu, cultivada hidroponicamente: com luz artificial e regada com uma solução de água e nutrientes. O resultado é uma maconha para Bob Marley nenhum botar defeito. E, por isso, cara o suficiente para Grace arrecadar o que precisa.
O que se segue são sequências hilárias -ou consequências do fato de alguém que nunca provou o produto tentar plantá-lo e vendê-lo. Aí entra o carisma de Brenda Blethyn, indicada ao Oscar duas vezes (por "Segredos" e "Laura, a Voz de uma Estrela"), perfeita como a viúva comportada, porém tolerante. Claro, Grace acaba dando suas baforadas.
O filme chegou a ser apelidado "Brenda Blethyn Gets the Munchies". Em português, seria algo como "Brenda Blethyn Tem Larica", ou seja, aquela fome que dá nas pessoas depois que fumam. No filme, na verdade, quem acaba tendo são outros personagens, mas há no site oficial uma seção chamada "larica" ("munchies"), com um fórum engraçadíssimo trazendo relatos sobre as coisas absurdas que se comem nesses momentos (www.saving-grace-movie.com). Havia um jogo para fazer a plantinha crescer, mas desapareceu -proibição?
Esses e outros detalhes nada moralistas fazem duvidar que o filme, como dizem, não faça apologia ao uso (moderado) da droga. Faz, sim. Um resumo da mensagem poderia ser: "Se quiser fumar, fume; não faz mal se você souber usar". Outra coisa é dizer que foi feito para quem já fumou; não é verdade. Mesmo quem jamais tenha provado achará o filme a maior viagem.


O Barato de Grace
Saving Grace
   
Direção: Nigel Cole
Produção: Inglaterra, 2000
Com: Brenda Blethyn, Craig Ferguson
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Belas Artes, Jardim Sul, Top Cine e circuito





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