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MEMÓRIA
Exposição na capital francesa apresenta principais trabalhos de um dos pioneiros do uso de efeitos especiais em filmes
Paris vê magia cinematográfica de Méliès
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Uma comovente e deliciosa exposição em Paris está apresentando a obra de George Méliès às novas gerações. Cerca de 30 mil pessoas já visitaram o espaço cultural
Electra para ver os principais filmes deste pioneiro genial da ficção e da fantasia no cinema, bem
como dezenas de objetos, desenhos e instrumentos de mágica e
de filmagem.
George Méliès (1861-1938) foi
desenhista e ilusionista antes de se
dedicar aos filmes. A exposição
"Méliès - Magia e Cinema" e o
enorme álbum de ensaios e imagens publicado simultaneamente
concentram-se nas relações do diretor com a mágica e como esta
alimentou sua cinematografia.
Dono de um teatro de mágicas
em Paris, Méliès adquiriu uma câmera logo depois da invenção do
cinematógrafo em 1895. Entre
1896 e 1913, fez mais de 500 filmes.
Foi o primeiro a realizar truques
e trucagens com o aparelho cinematográfico e na montagem do
filme. Criou todo um mundo particular e delirante, feito de demônios serelepes e visitas a terras absurdas, como em "Viagem à Lua"
(1902), seu maior sucesso.
Filho de pais milionários, ficou
mais rico ainda com seus filmes,
que eram invejados e copiados
em todo o mundo. O público adorava assistir às descobertas sucessivas (narrativas e técnicas) de
Méliès, que servirão de fundamento para todo o ilusionismo cinematográfico futuro.
A maior parte dos filmes se perdeu. Desde 1945, os descendentes
do diretor buscam as cópias que
restaram em todo o mundo. Já
conseguiram reunir 200 filmes diferentes de Méliès, como explica a
seguir Marie-Hélène Lehérissey-Méliès, bisneta do diretor, de "50 e
poucos anos", e umas das responsáveis pela Associação dos Amigos de Georges Méliès.
Folha - Como começou a reunião
dos filmes de Méliès?
Marie-Hélène Lehérissey-Méliès -
Antes da Primeira Guerra, Méliès
destruiu todos os negativos de
seus filmes. Em 1945, Madeleine
Malthête-Méliès, minha prima, e
seu marido, Jacques Malthête, começaram a procurar cópias positivas que restavam em todo o
mundo, trabalho que continua até
hoje e do qual eu também participo. Já encontramos 200 filmes,
em vários países, inclusive na Argentina. A cada ano achamos um
ou dois filmes que não conhecíamos. Todos os filmes estão guardados em um arquivo familiar,
preparado para preservá-los.
Folha - Por que Méliès queimou
os negativos dos filmes?
Lehérissey-Méliès - Quando ele
vendeu seu estúdio, em 1913, não
tinha onde guardar os negativos,
que eram compostos de nitrato,
sendo portanto muito inflamáveis e perigosos. Resolveu destruí-los. Penso também que ele achou
que o cinema tinha se industrializado, evoluído, e os filmes já não
interessavam mais a ninguém.
Méliès tinha alma de mágico e
creio que imaginou que poderia
recomeçar com seus truques cinematográficos mais tarde.
Folha - É surpreendente a quantidade de desenhos de Méliès na exposição. Como puderam ser tão
mais preservados do que os filmes?
Lehérissey-Méliès - Apenas 10%
dos seus desenhos estão expostos.
Na família, há ainda entre 300 e
350. Um colecionador tem outros
300 desenhos. Há 150 na Cinemateca Francesa. Ele desenhava o
tempo todo. Depois que parou
com o cinema e empobreceu, precisou ir morar com seu filho, meu
avô, pois só tinha a roupa do corpo, em torno dos anos 1924-1925.
Minha mãe contava que Méliès
desenhava o tempo todo, em tudo
que encontra na sua frente: caixas
de queijo, bilhetes de metrô.
Folha - Méliès era um homem rico, mas terminou seus dias na pobreza. O que se passou?
Lehérissey-Méliès - Ele não sabia
fazer contas. Era um artista que
não se importava com isso. A própria administração do teatro Robert-Houdin era feita por sua mulher. Ele gastou três fortunas para
fazer cinema: a de seu pai, a de sua
mãe e a de sua primeira mulher,
minha bisavó, que tinha um grande dote. Ele transferiu todo o dinheiro para os filmes, transformou-se no maior produtor do
mundo entre os anos 1912 e 1915 e
depois perdeu tudo. Além de ser o
primeiro grande diretor, é também o primeiro produtor a falir
por causa do cinema.
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