São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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"POESIA PURA"

Nova-iorquina Binnie Kirshenbaum cria personagem urbano que conjuga judaísmo, poesia erótica e sucesso

Romance delineia anti-heroína moderna

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

A anti-heroína moderna tem nome, sobrenome e endereço. Seu retrato está em "Poesia Pura", romance de Binnie Kirshenbaum, cujos traços leves e divertidos revelam a nova-iorquina Lila Moscowitz, autora de poesia erótica com perfil em página dupla da revista "People", ganhadora de vários prêmios e requisitada para palestras em universidades.
Em seu universo urbano, "Lila renunciou à paixão em favor do superficial", diz Kirshenbaum. Professora de redação na Universidade Columbia, a escritora, que ficou "sem ar" ao ler "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, falou por e-mail com a Folha.

Folha - O que é "poesia pura"? É possível encontrá-la hoje?
Binnie Kirshenbaum -
Poesia pura é aquilo a que a poesia aspira, como um desejo. Aquele ponto em que alguém está próximo de um momento perfeito que permanece fora do alcance. Poesia pura é perfeição, mas perfeição que não pode ser alcançada. Ou, se alcançada, não é mais perfeição. Acho que ela existe como um estado da mente ou o fim de uma viagem que nunca completamos.

Folha - Lila Moscowitz é uma escritora de seu tempo ou do passado (talvez do futuro)? Por quê?
Kirshenbaum -
Acredito que Lila é uma escritora de seu tempo no sentido em que renunciou à paixão em favor do superficial. Os escritos dela são mais chocantes do que tocantes. Ela se mantém longe das emoções verdadeiras e se concentra no físico.

Folha - Lila não leva a sério os judeus e sua tradição. Qual sua relação com a tradição judaica?
Kirshenbaum -
Lila não sabe o que significa ser judeu (não que eu acredite que alguém saiba). Mas para ela é especialmente confuso. Ela quer ser judia, quer a sensação de pertencer, quer entender quem é. Minha relação com o judaísmo é mais cultural que religiosa. Ligo-me aos meios de vida judeus. Acredito no conhecimento, no aprendizado e que nosso propósito na Terra é deixar algo de bom. Mas também há cultura judaica na maneira como uso as palavras, em algumas comidas que como e no meu modo de vestir.

Folha - Quais seus autores favoritos? A senhora conhece a literatura brasileira?
Kirshenbaum -
É sempre impossível dizer quem são meus autores favoritos. Há tantos, e são tão variados. Acredito que os russos, Dostoiévski, Tolstói, Gogól etc., influenciaram-me bastante, assim como Philip Roth. Alguns dos livros que li recentemente que me fizeram ficar sem ar foram os de Ian McEwan, Clarice Lispector, Aaron Apelfeld.

Folha - Que livro de Clarice Lispector a senhora leu? Por que ele a "deixou sem ar"?
Kirshenbaum -
Foi "A Hora da Estrela". Lembro-me de pensar, enquanto lia o livro, como a solidão apertava meu coração, tão terrível, tão estranha em sua poesia. Pareceu-me ser a mais profundamente triste história já contada e, nesse sentido, bela, uma vez que esses dois estados são simbióticos.

Folha - A senhora já esteve no Brasil? A senhora acredita que Lila poderia viver em São Paulo?
Kirshenbaum -
Nunca estive no Brasil, então é difícil dizer se Lila se daria bem. Penso nela como um produto de Nova York, a maneira como ela é sarcástica e durona por fora, mas tenho esperança que suas características mais profundas, como a necessidade de amor, sejam universais.



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