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LIVROS/LANÇAMENTOS
"POESIA PURA"
Nova-iorquina Binnie Kirshenbaum cria personagem urbano que conjuga judaísmo, poesia erótica e sucesso
Romance delineia anti-heroína moderna
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
A anti-heroína moderna tem
nome, sobrenome e endereço.
Seu retrato está em "Poesia Pura",
romance de Binnie Kirshenbaum,
cujos traços leves e divertidos revelam a nova-iorquina Lila Moscowitz, autora de poesia erótica
com perfil em página dupla da revista "People", ganhadora de vários prêmios e requisitada para
palestras em universidades.
Em seu universo urbano, "Lila
renunciou à paixão em favor do
superficial", diz Kirshenbaum.
Professora de redação na Universidade Columbia, a escritora, que
ficou "sem ar" ao ler "A Hora da
Estrela", de Clarice Lispector, falou por e-mail com a Folha.
Folha - O que é "poesia pura"? É
possível encontrá-la hoje?
Binnie Kirshenbaum - Poesia pura é aquilo a que a poesia aspira,
como um desejo. Aquele ponto
em que alguém está próximo de
um momento perfeito que permanece fora do alcance. Poesia
pura é perfeição, mas perfeição
que não pode ser alcançada. Ou,
se alcançada, não é mais perfeição. Acho que ela existe como um
estado da mente ou o fim de uma
viagem que nunca completamos.
Folha - Lila Moscowitz é uma escritora de seu tempo ou do passado
(talvez do futuro)? Por quê?
Kirshenbaum - Acredito que Lila
é uma escritora de seu tempo no
sentido em que renunciou à paixão em favor do superficial. Os escritos dela são mais chocantes do
que tocantes. Ela se mantém longe das emoções verdadeiras e se
concentra no físico.
Folha - Lila não leva a sério os judeus e sua tradição. Qual sua relação com a tradição judaica?
Kirshenbaum - Lila não sabe o
que significa ser judeu (não que
eu acredite que alguém saiba).
Mas para ela é especialmente
confuso. Ela quer ser judia, quer
a sensação de pertencer, quer
entender quem é. Minha relação
com o judaísmo é mais cultural
que religiosa. Ligo-me aos meios
de vida judeus. Acredito no conhecimento, no aprendizado e
que nosso propósito na Terra é
deixar algo de bom. Mas também há cultura judaica na maneira como uso as palavras, em
algumas comidas que como e no
meu modo de vestir.
Folha - Quais seus autores favoritos? A senhora conhece a literatura brasileira?
Kirshenbaum - É sempre impossível dizer quem são meus
autores favoritos. Há tantos, e
são tão variados. Acredito que os
russos, Dostoiévski, Tolstói, Gogól etc., influenciaram-me bastante, assim como Philip Roth.
Alguns dos livros que li recentemente que me fizeram ficar sem
ar foram os de Ian McEwan, Clarice Lispector, Aaron Apelfeld.
Folha - Que livro de Clarice Lispector a senhora leu? Por que ele
a "deixou sem ar"?
Kirshenbaum - Foi "A Hora da
Estrela". Lembro-me de pensar,
enquanto lia o livro, como a solidão apertava meu coração, tão
terrível, tão estranha em sua
poesia. Pareceu-me ser a mais
profundamente triste história já
contada e, nesse sentido, bela,
uma vez que esses dois estados
são simbióticos.
Folha - A senhora já esteve no
Brasil? A senhora acredita que Lila
poderia viver em São Paulo?
Kirshenbaum - Nunca estive no
Brasil, então é difícil dizer se Lila
se daria bem. Penso nela como
um produto de Nova York, a
maneira como ela é sarcástica e
durona por fora, mas tenho esperança que suas características
mais profundas, como a necessidade de amor, sejam universais.
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