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Crítica/"Brutalidade"
Franco, drama retrata as prisões nos EUA
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O ano de realização de
"Brutalidade" diz muito sobre o filme: 1947.
Estamos logo depois da guerra,
o cinema americano amadurece rapidamente e pode se dispor a tratar com maior ênfase
social do fenômeno penitenciário, que já produzira um subgênero do filme policial.
Estamos também antes de
começar a "caça às bruxas", isto
é, a tenebrosa perseguição que,
a pretexto de combater o comunismo, atingiu mais efetivamente os liberais e os adeptos
do "New Deal".
Ou seja, estamos nesse breve
intervalo em que certas questões podiam ser colocadas impunemente, como o uso da força bruta contra presidiários como forma de controle ("Força
Bruta", aliás, seria um título
mais apropriado ao caso).
O didatismo, uma marca do
pensamento de esquerda nos
EUA, é patente no roteiro de
Richard Brooks. Pode-se observá-lo como positivo ou não -à
vontade do freguês. O importante, no caso, é que ele dá o
tom ao filme, já que lá se encontram representados a direita
brucutu, na pessoa do capitão
Munsey (Hume Cronyn) e a esquerda lúcida e impotente, na
pessoa do médico do presídio
de Westgate. Entre eles, ao centro, o indeciso diretor da prisão.
Os três gravitam em torno de
Joe Collins (Burt Lancaster), o
prisioneiro rebelde que organiza uma fuga e um motim.
Para quem achar, em nome
da arte, que tudo isso soa um
tanto esquemático, vale lembrar um pouco acontecimentos
recentes nas prisões paulistas:
não há tantas formas assim de
as relações degringolarem nas
cadeias. De 1947, nos EUA, a
2006, no Brasil, as coisas são,
em linhas gerais, as mesmas.
Não vem ao caso, aqui, falar
de esquematismo, mas de franqueza. E quem ficar em dúvida
que observe a antológica cena
de tortura criada por Dassin,
acentuada pelas alusões nazistas da trilha de Miklós Rosa. Se
tivesse sido feito um ou dois
anos depois, "Brutalidade" já
teria enfrentado, provavelmente, problemas com o macartismo e precisaria recorrer aos subentendidos para expor seu
pensamento: é sua clara franqueza que faz dele um representante mais que digno desse momento fugaz, mas muito rico, do cinema americano.
BRUTALIDADE
Direção: Jules Dassin
Distribuição: Aurora (R$ 30)
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