São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Brutalidade"

Franco, drama retrata as prisões nos EUA

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O ano de realização de "Brutalidade" diz muito sobre o filme: 1947. Estamos logo depois da guerra, o cinema americano amadurece rapidamente e pode se dispor a tratar com maior ênfase social do fenômeno penitenciário, que já produzira um subgênero do filme policial.
Estamos também antes de começar a "caça às bruxas", isto é, a tenebrosa perseguição que, a pretexto de combater o comunismo, atingiu mais efetivamente os liberais e os adeptos do "New Deal".
Ou seja, estamos nesse breve intervalo em que certas questões podiam ser colocadas impunemente, como o uso da força bruta contra presidiários como forma de controle ("Força Bruta", aliás, seria um título mais apropriado ao caso).
O didatismo, uma marca do pensamento de esquerda nos EUA, é patente no roteiro de Richard Brooks. Pode-se observá-lo como positivo ou não -à vontade do freguês. O importante, no caso, é que ele dá o tom ao filme, já que lá se encontram representados a direita brucutu, na pessoa do capitão Munsey (Hume Cronyn) e a esquerda lúcida e impotente, na pessoa do médico do presídio de Westgate. Entre eles, ao centro, o indeciso diretor da prisão.
Os três gravitam em torno de Joe Collins (Burt Lancaster), o prisioneiro rebelde que organiza uma fuga e um motim.
Para quem achar, em nome da arte, que tudo isso soa um tanto esquemático, vale lembrar um pouco acontecimentos recentes nas prisões paulistas: não há tantas formas assim de as relações degringolarem nas cadeias. De 1947, nos EUA, a 2006, no Brasil, as coisas são, em linhas gerais, as mesmas.
Não vem ao caso, aqui, falar de esquematismo, mas de franqueza. E quem ficar em dúvida que observe a antológica cena de tortura criada por Dassin, acentuada pelas alusões nazistas da trilha de Miklós Rosa. Se tivesse sido feito um ou dois anos depois, "Brutalidade" já teria enfrentado, provavelmente, problemas com o macartismo e precisaria recorrer aos subentendidos para expor seu pensamento: é sua clara franqueza que faz dele um representante mais que digno desse momento fugaz, mas muito rico, do cinema americano.


BRUTALIDADE
   
Direção:
Jules Dassin
Distribuição: Aurora (R$ 30)


Texto Anterior: Nas lojas
Próximo Texto: Cozinha da Índia é o tema do próximo volume da coleção
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.