São Paulo, Quarta-feira, 10 de Novembro de 1999
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TELEVISÃO
Vila Madaloca é só recheio na novela "Vida Madalena"

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

Tem rolado uma ciumeira brava, aqui em São Paulo, devido à intervenção da Rede Globo no retoque da imagem da cidade. Evidentemente, como sempre acontece com a emissora, que por tradição busca simplificar o que vai para telinha, a visão que se tem do bairro paulistano da Vila Madalena é duvidosa.
Novela é como comida de hospital. Tem que agradar a todos e não deve fugir do óbvio. E os que promovem a novela "Vila Madalena", que estreou anteontem, andam cantando que a Vila Madoca é o pólo cultural de São Paulo, como o Soho, de Nova York.
"Manera aí, galera!" O bairro tem nenhum cinema, zero biblioteca, nenhuma orquestra, zero casa de espetáculo, uma livraria, um teatro orgulhosamente mambembe e uns três bons restaurantes. O resto é boteco, boteco, boteco e mano, muito mano.

Corte e província
É difícil entender São Paulo, cidade que se transforma anualmente. Quando a corte pensa na província, procura generalizações que podem ofender a inteligência dos súditos. Pense no caminho inverso. Imagine os paulistas da TV Gazeta produzindo uma novela no Rio de Janeiro. Os personagens iriam lanchar no Corcovado, paquerar no Pão de Açúcar, pegar onda em Copacabana e torcer para o Mengão, não? Novela é como comida de hospital.
"Outra vez a mesma história, volta sempre a acontecer, vai passar de hora em hora...", canta Lulu Santos durante a novela. Surpreendentemente, "Vila Madalena" parece gentil, simpática, do bem. O bairro entra só como um recheio. A prioridade é a trama.
Dois manos, interpretados pelos atores Marcos Winter e Edson Celulari, são presos por crimes não-dolosos e deixam suas minas, Cristiana Oliveira (noiva) e Maitê Proença (grávida), respectivamente, a ver navios, digo, manos. Roberto (Winter) mata um mano que paquerava sua mana.
Solano (Celulari), eletricista há seis meses desempregado, aceita trabalhar como motorista de caminhão. É um trampo bastante honesto, mas ele está envergonhado por não ter conseguido algo melhor. Acaba indo em cana, pois a primeira carga que transporta é roubada.
Eugênia (Maitê), sua mina, é aquela mana com quem qualquer homem sensato gostaria de se casar: linda, discreta, trabalhadora e, pelo visto, apaixonada.
Ops: me parece que ela vai abandoná-lo e vai se casar com um mané. Êba! Esse começo já é bom. Certo, mano?


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