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TELEVISÃO
Vila Madaloca é só recheio
na novela "Vida Madalena"
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
Tem rolado uma ciumeira brava, aqui em São Paulo, devido à
intervenção da Rede Globo no retoque da imagem da cidade. Evidentemente, como sempre acontece com a emissora, que por tradição busca simplificar o que vai
para telinha, a visão que se tem do
bairro paulistano da Vila Madalena é duvidosa.
Novela é como comida de hospital. Tem que agradar a todos e
não deve fugir do óbvio. E os que
promovem a novela "Vila Madalena", que estreou anteontem, andam cantando que a Vila Madoca
é o pólo cultural de São Paulo, como o Soho, de Nova York.
"Manera aí, galera!" O bairro
tem nenhum cinema, zero biblioteca, nenhuma orquestra, zero casa de espetáculo, uma livraria, um
teatro orgulhosamente mambembe e uns três bons restaurantes. O resto é boteco, boteco, boteco e mano, muito mano.
Corte e província
É difícil entender São Paulo, cidade que se transforma anualmente. Quando a corte pensa na
província, procura generalizações
que podem ofender a inteligência
dos súditos. Pense no caminho
inverso. Imagine os paulistas da
TV Gazeta produzindo uma novela no Rio de Janeiro. Os personagens iriam lanchar no Corcovado, paquerar no Pão de Açúcar,
pegar onda em Copacabana e torcer para o Mengão, não? Novela é
como comida de hospital.
"Outra vez a mesma história,
volta sempre a acontecer, vai passar de hora em hora...", canta Lulu Santos durante a novela. Surpreendentemente, "Vila Madalena" parece gentil, simpática, do
bem. O bairro entra só como um
recheio. A prioridade é a trama.
Dois manos, interpretados pelos atores Marcos Winter e Edson
Celulari, são presos por crimes
não-dolosos e deixam suas minas,
Cristiana Oliveira (noiva) e Maitê
Proença (grávida), respectivamente, a ver navios, digo, manos.
Roberto (Winter) mata um mano
que paquerava sua mana.
Solano (Celulari), eletricista há
seis meses desempregado, aceita
trabalhar como motorista de caminhão. É um trampo bastante
honesto, mas ele está envergonhado por não ter conseguido algo melhor. Acaba indo em cana,
pois a primeira carga que transporta é roubada.
Eugênia (Maitê), sua mina, é
aquela mana com quem qualquer
homem sensato gostaria de se casar: linda, discreta, trabalhadora
e, pelo visto, apaixonada.
Ops: me parece que ela vai
abandoná-lo e vai se casar com
um mané. Êba! Esse começo já é
bom. Certo, mano?
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