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"PETER KUBELKA - A ESSÊNCIA DO CINEMA"
Cineasta austríaco materializa música no CCBB
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
O cineasta Peter Kubelka,
cuja arte de vanguarda é o
tema da mostra e do livro que serão lançados hoje, no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São
Paulo, não parecia muito à vontade na sessão especial para a crítica
promovida na semana passada.
Problemas na projeção de seus filmes deixaram o austríaco meio
acabrunhado.
Os projecionistas costumam ficar confusos com os "filmes métricos" de Kubelka. Os espectadores mais ainda. Há quase 50 anos,
no lançamento de seu filme "Arnulf Rainer" em Viena, coube ao
então jovem cineasta defender o
projecionista. Kubelka teve que
explicar para a sua própria mãe
que o que vira na tela não fora um
defeito de projeção, mas a sua
obra-prima, um filme que corporifica a essência do cinema.
Essa essência, para Kubelka, é
uma visão física do tempo. Usando os fotogramas como medida e
os 24 quadros por segundo como
compasso, Kubelka faz da película de cinema um corpo para o
tempo, como se pudesse materializar a música. Os roteiros de seus
"filmes métricos" seriam assim
uma partitura. "Arnulf Rainer",
por exemplo, é composto por
combinações de luz (fotogramas
brancos) e ausência de luz (fotogramas pretos), som (fotogramas
com ruído) e ausência de som,
combinações que seguem uma
estrutura rítmica pré-elaborada,
determinada pelo compasso próprio (de 1/24) do cinematógrafo.
Renunciando à imagem para se
concentrar no ritmo, como que à
procura do código genético do cinema, Kubelka encerrava o processo de depuração engendrado
por sua trilogia de "filmes métricos". No primeiro, "Adebar", renunciara à representação cinematográfica; no segundo, "Schwechater", negara o movimento para afirmar o cinema como uma
projeção de imagens estáticas,
processo ditado por impulsos de
luz e pelo ritmo em que estes incidem sobre a película.
A "trilogia métrica" cujos filmes
foram encomendados e rodados
como peças publicitárias, mas
subvertidos pelo cineasta no processo de montagem, levou Kubelka a um auto-exílio, tal o escândalo que teriam produzido na Áustria dos anos 50. Também o condenou, de certa forma, a ser um
eterno advogado de si mesmo,
um teórico da própria obra, ofício
que o austríaco parece ter aprendido na Nova York dos anos 60,
quando encontrou a sua turma.
Avalizado por Jonas Mekas e
Stan Brakhage, dois dos principais artífices do chamado cinema
experimental americano, que fizeram de Kubelka personagem de
seus filmes, o austríaco foi (auto)proclamado pai do "cinema
estrutural", consagrando-se como um formalista radical, vanguardista de primeira linha. Resta
saber até que ponto ele não se deixou escravizar por isso. Realizou
apenas dois ou três filmes desde
então, demorou cada vez mais
tempo para finalizá-los, deixou alguns inacabados, contentando-se
em defender suas teorias e legar
algumas obras curtas e densas como quem lega belos poemas.
Entre os mais belos e engenhosos desses, consta "Unsere Afrikareise". Não é tanto um poema
quanto um "romance de aventura" hipercondensado, um filme
de 12 minutos que o cineasta demorou cinco anos para montar.
Definitivamente, é nesse tempo
entre a filmagem e a montagem,
às voltas com o material filmado,
debatendo-se com ele, que Kubelka concentra os seus esforços.
PETER KUBELKA - A ESSÊNCIA DO
CINEMA. Onde: Centro Cultural Banco
do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP,
tel. 0/xx/11/3113-3651). Quando: de
hoje a dom. Quanto: de grátis a R$ 8.
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