São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Banda gaúcha busca referências divertidas na new wave oitentista em seu segundo disco, "Outubro ou Nada!"

Bidê ou Balde faz do pop um esconderijo

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Chame de espírito da época ou de mera coincidência, mas, ao lapidar o próprio rock em seu novo disco, "Outubro ou Nada!", o Bidê ou Balde levanta a possibilidade que a new wave de ternos coloridos e guitarras do grupo gaúcho seja precursora da "volta do rock", de Strokes, White Stripes "e aqueles imitões suecos do Hives", como tripudia, irônico, o vocalista Carlinhos Carneiro.
"Não há nenhuma mudança radical no nosso som, mas estamos mais íntimos com o estúdio de gravação", continua o vocalista. Produzido por Thomas Dreher ("que nos infectou durante o processo"), o disco "tem umas coisas estranhas, barulhinhos esquisitos. Gravamos chuva, projetor de 16 mm, macumba -mas por uma questão de medo do desconhecido, não usamos", desvia.
Dreher é conhecido por produzir nomes da estranha psicodelia gaúcha, como Jupiter Apple e Graforréia Xilarmônica, um Duprat dos pampas. Seu dedo é sentido por todo o disco: fagotes, clarinetes, quarteto de cordas e engenhocas sonoras. Mas seria exagero chamar "Outubro ou Nada!" de psicodélico.
Mas se no álbum de estréia ("Se Sexo É o que Importa, Só o Rock É sobre Amor", de 99) a banda soava estritamente pop, no novo as guitarras crescem e a banda alinha-se aos Autoramas no quesito "rock pra dançar". Escaldados, buscam seus pares na new wave, dos B-52's à Blitz, Blondie, Go-Go's e Cars. O entrelaçamento de "uh-uhs", vocais blasé, tecladões da idade da pedra jovem, guitarras supersônicas e ritmo acompanhados às palmas resulta num disco divertido e fingido de fútil, que enfileira hits como uma banda de rock nacional dos anos 80. "É duro enriquecer no ramo dos fã-clubes", escarnece a faixa de abertura, "Hollywood #52".
Fugindo do pop, o grupo também foge do hype a que foi submetido na passagem de 1999 para o ano 2000. "O Antipático" ("Eu nunca vou fazer exatamente o que você espera que eu vá fazer") é a prova mais evidente, e outras faixas mantêm o tom áspero.
Afirmando a própria personalidade, o Bidê ou Balde transforma o universo de referências pop que habita numa espécie de esconderijo ilegal, um aparelho subversivo. E isso é tão anos 80 quanto as guitarras e poses do "novo rock".


OUTUBRO OU NADA!. Artista: Bidê ou Balde. Lançamento: Antidoto (www.antidoto.com.br). R$ 15,90


Texto Anterior: "Peter Kubelka - A Essência do Cinema": Cineasta austríaco materializa música no CCBB
Próximo Texto: Upload: Festival revela urgência de renovação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.