|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEMÓRIA
Especiais homenageiam Clarice Lispector
BRUNO YUTAKA SAITO
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
O mito que a escritora Clarice
Lispector (1920-1977) criou em
torno de si faz supor que sua escrita tenha surgido de forma quase divina, resultado de um fluxo
incessante de consciência, longe
de mãos humanas. A data de sua
morte [9 de dezembro de 1977],
um dia antes de seu suposto aniversário -ela não revelava o
dia-, aumentou ainda mais a
crença de que Clarice, finalmente,
tornara-se personagem de sua
própria vida.
Dois especiais de TV exibidos
hoje e um filme em produção jogam pistas para desvendar a personalidade de Lispector, que ironicamente escreveu: "Não se
preocupe em entender/ Viver ultrapassa todo entendimento".
A Cultura exibe hoje a famosa
entrevista que a escritora concedeu no ano de sua morte ao jornalista e cineasta Júlio Lerner, que
atualmente produz um filme com
elementos documentais e ficcionais sobre Lispector. Ele conta
que 35% do material já está produzido e pretende fazer negociações com os herdeiros da escritora no ano que vem. A produção
terá adaptações de três ou quatro
contos da escritora, além de trechos da entrevista de 1977.
"Fui o único profissional a
quem Clarice concedeu uma entrevista, em vídeo e cinema. Não
me julgue presunçoso: considero
essa exclusividade muito mais um
acaso do destino do que méritos
profissionais", diz Lerner. A idéia
de fazer um filme surgiu daí. "Fiquei muito impressionado pelo
contato direto que tive com ela.
Foram diversos anos sem conseguir sepultá-la dentro de mim."
E são os aspectos puramente físicos, imagens e sons captados
por uma câmera de vídeo, que
impressionam. No dia da entrevista, uma pouco falante Lispector dizia-se cansada e triste: "Geralmente sou alegre", diz. Na ocasião, ela já sofria as dores do câncer que a mataria meses depois.
Descobre-se que a escritora tinha
um sotaque particularíssimo, que
lembrava ora nordestinos, ora estrangeiros; há um zoom da câmera em sua mão direita, ferida devido a um incêndio que tentou apagar em seu quarto em 1967.
Ainda hoje, o Canal Brasil exibe
o curta "Ruído de Passos" (21h),
baseado no conto "Eu Adivinho a
Realidade"; o longa "O Corpo"
(21h15), dirigido por José Antônio
Garcia, e "Erotique" (23h30), filme internacional em episódios
cujo episódio brasileiro foi inspirado em "A Língua do P.".
PANORAMA. Quando: hoje à 0h na
Cultura.
Texto Anterior: Multimídia: "Schème II" conjuga a dança e a tecnologia Próximo Texto: Bernardo Carvalho: O romance do romance Índice
|