São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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MEMÓRIA

Especiais homenageiam Clarice Lispector

BRUNO YUTAKA SAITO
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

O mito que a escritora Clarice Lispector (1920-1977) criou em torno de si faz supor que sua escrita tenha surgido de forma quase divina, resultado de um fluxo incessante de consciência, longe de mãos humanas. A data de sua morte [9 de dezembro de 1977], um dia antes de seu suposto aniversário -ela não revelava o dia-, aumentou ainda mais a crença de que Clarice, finalmente, tornara-se personagem de sua própria vida.
Dois especiais de TV exibidos hoje e um filme em produção jogam pistas para desvendar a personalidade de Lispector, que ironicamente escreveu: "Não se preocupe em entender/ Viver ultrapassa todo entendimento".
A Cultura exibe hoje a famosa entrevista que a escritora concedeu no ano de sua morte ao jornalista e cineasta Júlio Lerner, que atualmente produz um filme com elementos documentais e ficcionais sobre Lispector. Ele conta que 35% do material já está produzido e pretende fazer negociações com os herdeiros da escritora no ano que vem. A produção terá adaptações de três ou quatro contos da escritora, além de trechos da entrevista de 1977.
"Fui o único profissional a quem Clarice concedeu uma entrevista, em vídeo e cinema. Não me julgue presunçoso: considero essa exclusividade muito mais um acaso do destino do que méritos profissionais", diz Lerner. A idéia de fazer um filme surgiu daí. "Fiquei muito impressionado pelo contato direto que tive com ela. Foram diversos anos sem conseguir sepultá-la dentro de mim."
E são os aspectos puramente físicos, imagens e sons captados por uma câmera de vídeo, que impressionam. No dia da entrevista, uma pouco falante Lispector dizia-se cansada e triste: "Geralmente sou alegre", diz. Na ocasião, ela já sofria as dores do câncer que a mataria meses depois. Descobre-se que a escritora tinha um sotaque particularíssimo, que lembrava ora nordestinos, ora estrangeiros; há um zoom da câmera em sua mão direita, ferida devido a um incêndio que tentou apagar em seu quarto em 1967.
Ainda hoje, o Canal Brasil exibe o curta "Ruído de Passos" (21h), baseado no conto "Eu Adivinho a Realidade"; o longa "O Corpo" (21h15), dirigido por José Antônio Garcia, e "Erotique" (23h30), filme internacional em episódios cujo episódio brasileiro foi inspirado em "A Língua do P.".


PANORAMA. Quando: hoje à 0h na Cultura.


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