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"CLEÓPATRA"
"Road movie" argentino é manual de auto-ajuda
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O cinema argentino é ótimo,
mas também produz seus
filmes medianos e descartáveis.
É o caso deste "Cleópatra", que
se apresenta como uma "comédia
romântica sobre a liberdade de
duas mulheres", mas que acaba se
revelando uma espécie de manual
de auto-ajuda para mulheres casadas em crise.
As duas em questão são Cleópatra (Norma Aleandro), professora
aposentada, submissa ao marido
desempregado e embrutecido
(Hector Alterio), e Sandra (Natalia Oreiro), jovem estrela de telenovelas, moldada pelo namorado
produtor como uma boneca para
agradar a seus fãs e às revistas de
celebridades.
Por um conjunto de acasos que
não convém resumir aqui, essa
"Amélia" e essa "Barbie" acabam
se encontrando e, fartas de suas
vidas, partem de carro para o interior da Argentina, feito versões
platenses de Thelma e Louise, em
busca da plenitude de sua condição feminina, seja lá o que isso
queira dizer.
Cleópatra descobre que ainda
lhe restam sensualidade, alegria
de viver, poder de sedução; Sandra percebe que, por trás dos holofotes de sua vida oca, existe uma
garota simples do interior, carente de afeto e proteção. Nada que já
não se tenha visto em inúmeros
filmes hollywoodianos e telenovelas brasileiras.
Claro que nem tudo é tão tolo e
raso nesse "road movie" de
Eduardo Mignogna. Atores excelentes (a começar pela própria
Norma Aleandro e Hector Alterio, infelizmente pouco aproveitado), segurança narrativa e, pelas
bordas da trama, observações
agudas sobre a crise social argentina salvam o programa.
Clichês
Para nós, brasileiros, há ainda a
constatação do quanto somos parecidos com nossos vizinhos argentinos em tantas coisas: nos
problemas econômicos, no provincianismo, no sentimentalismo, no triunfo da cultura publicitária e televisiva.
Em "Cleópatra", porém, a crítica disso tudo é feita por meio de
ingênuos clichês de redenção, de
"superação", de "volta por cima",
de "lição de vida".
Pode ser que faça sucesso entre
nós, pois nossa sensibilidade média foi formada por décadas de
"Fantástico" e novelas das oito.
Mas é muito pouco para um cinema que tem nos dado artistas do
quilate de Lucrecia Martel e Pablo
Trapero.
Cleópatra
Cleopatra
Direção: Eduardo Mignogna
Produção: Argentina, 2003
Com: Norma Aleandro, Natalia Oreiro,
Leonardo Sbaraglia, Hector Alterio
Quando: a partir de hoje no Cinearte,
Cineclube DirecTV 2 e Lumière
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