São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Documentário mostra "Muro de Berlim" da cidade de São Paulo

Na Cultura, "A Ponte" aborda apartheid social entre os dois lados do rio Pinheiros

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Na mesa do bar, é comum ouvir que, no Rio, o morro está logo ali e, em São Paulo, a geografia separa ricos e pobres, estes empurrados para a periferia. No documentário "A Ponte", que vai ao ar à 0h30, na TV Cultura, os diretores Roberto Oliveira e João Wainer focam a zona sul da capital paulista e transformam o rio Pinheiros no marco dessa separação. A exposição de desigualdades, com prédios luxuosos de um lado do rio e barracos do outro, é justaposta à história de uma ONG, a Casa do Zezinho, que trabalha desde 1994 na construção de "pontes" para que crianças deixem a lógica do crime e da desinformação e busquem novas oportunidades. Os diretores ouvem aqueles que "atravessaram" a ponte: "veteranos" da ONG, além do rapper Mano Brown, do escritor Ferréz, entre outros. A educadora Dagmar Garroux, fundadora da entidade, compara o rio Pinheiros ao Muro de Berlim. Para ela, moradores dos violentos Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis "não são paulistanos, não são brasileiros", são, na verdade, "periferia". "A cidade não os recebe, não os aprimora", diz. Em seus 42 minutos, o trabalho, produzido pelo Instituto Rukha, faz um relato sucinto da ocupação ilegal do extremo sul da cidade e defende a tese segundo a qual o apartheid social também causa reações, como os ataques do PCC há dois anos. O documentário também será distribuído em DVD na edição de dezembro da revista "Trip"- só para assinantes. Há um mês, o motoboy Alberto Milfont Júnior, 23, foi com a noiva e um amigo nas Casas Bahia da estrada de Itapecerica, zona sul da capital, para comprar um colchão. Tomou um tiro do segurança após uma discussão. Milfont era "veterano" da Casa do Zezinho -o documentário não registra o fato, por ter sido concluído antes. Os familiares do rapaz, que morava na região, dizem que ele foi vítima de preconceito, porque estava mal vestido: não precisou nem atravessar a ponte.


A PONTE
Direção: Roberto Oliveira e João Wainer
Exibição: TV Cultura, à 0h30
Classificação indicativa: 16 anos



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