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Faxineiro cria "BBB" em sua casa
Versão acontece em Sabará (MG) com oito participantes e sete câmeras; TV fixada no muro e voltada para rua mostra tudo
No "Muro Brother Brasil", "paredão" é "murão", o confessionário é o banheiro e a turma é eliminada com batidas na porta da casa
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SABARÁ (MG)
Em Sabará, cidade de cerca
de 130 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, todo mundo
já sabe: "dar uma espiadinha"
significa bem mais do que assistir, na Globo, às intrigas e azarações de uma turma que está a
450 km dali, na casa carioca do
"Big Brother Brasil".
Para dar vazão ao voyeurismo, basta andar alguns quarteirões e acomodar-se diante da
casa de Francisco Dario dos
Santos, 33, o Chiquinho, onde o
próprio comanda o "Muro Brother Brasil", com oito participantes (todos parentes dele,
com exceção do cachorro Duque) disputando a preferência
de uma audiência que escolhe o
eliminado da vez pelo número
de batidas na porta -em que,
aliás, um furo permite olhadelas generosas no cotidiano dos
competidores.
Os conchavos e complôs, diz
Chiquinho, são exibidos "quase
todo dia", em uma TV de 14 polegadas colocada num buraco
do muro e virada para a rua.
Faxineiro da prefeitura, onde
recebe um salário mínimo, Chiquinho decidiu criar a versão
caseira do "reality show" depois de mandar fitas para as sete edições oficiais já realizadas
e receber uma negativa atrás da
outra. "Não quero ficar rico,
mas famoso. Meu sonho é ser
apresentador de TV", diz, explicando a insistência.
A obstinação o segue pelo
menos desde 17 de janeiro de
1997, quando flagrou um sujeito em ebulição intestinal acocorado atrás de uma igreja, no
que seria a transmissão inaugural da TV Muro. De lá para cá, o
Murojac (corruptela do Projac
global) já produziu atrações como o jornal esportivo "Muro
Espetacular" e a revista gastronômica "A Hora da Janta".
O "Muro Brother Brasil", no
ar há nove dias, é o carro-chefe
das comemorações dos dez
anos do canal. Na disputa por
uma cesta básica, estão, além
do cão Duque, Tayná, 11, Taís, 8,
e Sandy, 7, enteadas de Chiquinho; a mãe, Maria da Piedade,
68; a irmã dele, Maria de Fátima, 48; a sobrinha Fabrícia, 17;
e a cunhada Jucélia, 16.
Chiquinho Mial
No "murão" da última quarta-feira, quem deixou a competição foi Maria de Fátima, a Risadinha, que, dois dias antes,
dissera à Folha se achar parecida com a DJ paranaense Analy,
do "BBB7", "por causa do jeito
comunicativo" -a reportagem
pôde comprovar. A eliminação
rendeu pico de audiência de 28
pessoas na porta da casa, segundo aferiu, pelo buraco do
portão, a matriarca e "guardiã"
(versão para o "anjo" do
"BBB") vitalícia Maria da Piedade.
A interação do público com o
"Muro Brother" vai além das
batidas na porta: a "câmera do
povo", encarapitada no telhado, grava perguntas dos espectadores para os confinados. As
respostas são exibidas na TV
Muro. Se não forem satisfatórias, há sempre a possibilidade
de inquirir os participantes cara a cara, pelas ruas da cidade,
já que o isolamento é parcial: a
criançada vai à escola, e os
adultos trabalham. À noite, entretanto, todos devem se recolher ao número 299 da rua São
Francisco, uma antiga (e, reza a
lenda, assombrada) fábrica de
caixões, para cumprir as tarefas ditadas por Chiquinho Mial
(o Bial das alterosas), desabafar
e lavar a roupa suja no confessionário, leia-se, banheiro.
A lista de regras inclui imunidade tripla para a ala mirim
(ou seja, as crianças têm que
ser votadas quatro vezes para
sair) e proibição de álcool, cigarro e palavrão na casa. Quem
perder a linha está fora.
Se a rotina doméstica ficar
monótona, Chiquinho sabe como afastar o marasmo. "Haverá filmagens externas: na missa
e na "pelada" de rua." Os passos
do grupo serão seguidos por
uma engenhoca chamada "bike
link" (leia acima). A gincana
termina junto com o "BBB", ou
seja, daqui a mais de um mês.
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