São Paulo, Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1999
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Evento muda por Salles

LEON CAKOFF
em Berlim

Pelo segundo ano consecutivo Walter Salles quebra as rígidas regras germânicas. O festival de Berlim remanejou a sua programação para incluir a versão longa e inédita de "O Primeiro Dia", de Daniela Thomas e Salles.
No ano passado Berlim tanto queria o vitorioso "Central do Brasil" em sua competição que acabou cedendo a primazia da sua première mundial para o Festival de Sundance. Pelo seu regulamento, o Festival de Berlim apenas aceita na competição filmes já exibidos em seus países de origem.
Este ano, a versão para o cinema da série de televisão "O Ano 2000 Visto por...", agora com 77 minutos, obrigou Berlim a reprogramar a sua seleção já anunciada para incluir o filme depois de duas semanas de suspense com um laboratório de Los Angeles (onde "O Primeiro Dia" estava sendo finalizado).
Walter Salles volta a Berlim no dia 18, quando "O Primeiro Dia" terá sua primeira exibição pública mundial, no cine Filmpalast, como parte da seção Panorama.
Com 11 minutos a menos, no formato televisão, o drama sobre o encontro acidental de um matador com uma suicida na noite do Ano Novo de 2000, já vem acumulando elogios. "Um filme em estado de graça", saiu nos "Cahiers du Cinéma". "Uma obra-prima", comemorou o jornal suíço-italiano "La Regione Ticino". Um ano depois, mesmo com filme novo, Walter Salles ainda recebe em Berlim o prêmio de melhor filme do Festival do Casaquistão por "Central do Brasil".

Expiação
Não importa a nacionalidade, Berlim sempre se gaba pelo bom faro que tem por selecionar obras destinadas ao Oscar. A sua seleção é naturalmente servil à grande produção americana, mas a composição sempre serve para dar evidência aos fantasmas de uma nação atormentada pelo passado.
Nunca faltam em Berlim filmes de expressão judaica, uma eterna forma de expiação pelas barbaridades cometidas na Segunda Guerra; filmes homossexuais, símbolos de apoteoses de uma identidade comprimida entre duas guerras; e americanos, o modelo cultural festejado no pós-guerra para fazer frente ao cerco soviético.
Parece piada, mas não é. O longa-metragem escolhido para abrir o festival, a produção alemã "Aimee & Jaguar", de Max Frberbck, é uma síntese de todos esses elementos: o amor homossexual de uma mulher alemã por uma jornalista judia nos turbulentos anos do nazismo.


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