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Evento muda por Salles
LEON CAKOFF
em Berlim
Pelo segundo ano consecutivo Walter Salles quebra as rígidas regras germânicas. O festival de Berlim remanejou a sua
programação para incluir a
versão longa e inédita de "O
Primeiro Dia", de Daniela Thomas e Salles.
No ano passado Berlim tanto
queria o vitorioso "Central do
Brasil" em sua competição que
acabou cedendo a primazia da
sua première mundial para o
Festival de Sundance. Pelo seu
regulamento, o Festival de Berlim apenas aceita na competição filmes já exibidos em seus
países de origem.
Este ano, a versão para o cinema da série de televisão "O Ano
2000 Visto por...", agora com
77 minutos, obrigou Berlim a
reprogramar a sua seleção já
anunciada para incluir o filme
depois de duas semanas de suspense com um laboratório de
Los Angeles (onde "O Primeiro
Dia" estava sendo finalizado).
Walter Salles volta a Berlim
no dia 18, quando "O Primeiro
Dia" terá sua primeira exibição
pública mundial, no cine Filmpalast, como parte da seção Panorama.
Com 11 minutos a menos, no
formato televisão, o drama sobre o encontro acidental de um
matador com uma suicida na
noite do Ano Novo de 2000, já
vem acumulando elogios. "Um
filme em estado de graça", saiu
nos "Cahiers du Cinéma".
"Uma obra-prima", comemorou o jornal suíço-italiano "La
Regione Ticino". Um ano depois, mesmo com filme novo,
Walter Salles ainda recebe em
Berlim o prêmio de melhor filme do Festival do Casaquistão
por "Central do Brasil".
Expiação
Não importa a nacionalidade,
Berlim sempre se gaba pelo
bom faro que tem por selecionar obras destinadas ao Oscar.
A sua seleção é naturalmente
servil à grande produção americana, mas a composição sempre serve para dar evidência
aos fantasmas de uma nação
atormentada pelo passado.
Nunca faltam em Berlim filmes de expressão judaica, uma
eterna forma de expiação pelas
barbaridades cometidas na Segunda Guerra; filmes homossexuais, símbolos de apoteoses
de uma identidade comprimida entre duas guerras; e americanos, o modelo cultural festejado no pós-guerra para fazer
frente ao cerco soviético.
Parece piada, mas não é. O
longa-metragem escolhido para abrir o festival, a produção
alemã "Aimee & Jaguar", de
Max Frberbck, é uma síntese de
todos esses elementos: o amor
homossexual de uma mulher
alemã por uma jornalista judia
nos turbulentos anos do nazismo.
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