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FESTIVAL
Jockey Club exibe trípticos audiovisuais do premiado artista britânico
Em dose tripla, Isaac Julien aproxima o cinema e a arte
DA REPORTAGEM LOCAL
Um(a) é pouco para as idéias de
Isaac Julien, 44. Cineasta, negro,
escritor, artista, acadêmico e gay,
não necessariamente nesta ordem, Julien usa três telas para levar adiante sua missão de romper
as barreiras entre o mundo do cinema e o das ditas belas artes.
Premiado em Cannes e indicado ao Turner Prizer, em 2001, o cineasta britânico mostra em São
Paulo, durante o festival Vivo
Open Air, três de seus trípticos
mais importantes: "The Long
Road to Mazatlan" (2001), "Paradise Omeros" (2002) e "Baltimore" (2003); além de "Radioactive"
(2004), exceção não só por usar
uma "única" tela de projeção mas
também por ser parte de um projeto maior, ainda inédito, que Julien mostrará no Centro Georges
Pompidou, em Paris, só em maio.
Dois dias antes de embarcar para o Brasil, como convidado do
festival, Julien deu a seguinte entrevista à Folha.
(DIEGO ASSIS)
Folha - Por que optou por criar
seus filmes em múltiplas telas?
Isaac Julien - Estudei pintura e,
desde que comecei a filmar, tento
fazer um filme de belas-artes. Repensando os filmes para um contexto de galeria, senti que não poderia fazer os mesmos filmes que
as pessoas vêem dentro de uma
sala de cinema. Eles precisariam
ter uma função escultural e arquitetônica. Artistas como Andy
Warhol e Bruce Nauman já faziam isso, com o cinema expandido, mas estavam interessados na
questão da forma. No meu trabalho, tento jogar com o cinema,
com as expectativas da narrativa.
É a cinematização da videoarte.
Folha - Ainda assim, você não
abandonou completamente as salas de cinema...
Julien - Gosto da idéia de ser interdisciplinar. Me vejo entre esses
dois mundos: do cinema e da arte.
Essa é uma das razões por que
continuo fazendo documentários, como "Baad Asssss Cinema"
[sobre o cinema negro dos anos
70, nos EUA], que foi mostrado
na bienal do Whitney Museum,
mas você também pode conseguir
por US$ 15 na internet. É interessante que meu trabalho transite
nesses dois espaços.
Folha - A volta dos cabelos afro,
da black music, o sucesso de "Cidade de Deus" na Europa etc. A cultura negra está na moda?
Julien -"Cidade de Deus" é um
filme muito importante, estilisticamente impressionante. Gosto
do Walter Salles também. Todo o
cinema latino-americano tem sido muito bom. É um momento
empolgante, há uma diversificação no mercado. Mas acho difícil
falar em cultura negra ou cultura
européia. Talvez essas palavras
não descrevam o tipo de "crioulização" que está tendo lugar aqui.
É, talvez, um novo estágio, difícil
ainda de olhar criticamente. Não
quero fingir que não haja um fator modista em essa cultura estar
em voga, mas há uma mudança
acontecendo, em escala global.
Folha - E com a cultura gay?
Julien - Em termos da mídia, obviamente tem havido essa explosão das chamadas minorias, que
vêm sendo co-modificadas. O
mercado percebeu que há um ganho de capital no atendimento
desses nichos. Mas, em termos de
crítica, houve um momento importante nos anos 90, quando
Ruby Ritch falava em um "new
queer cinema" [novo cinema homossexual]. Não acho que seja isso o que estamos presenciando
hoje. E gostaria de separar meu
trabalho disso. Quero que meu
público tome essas questões como dadas e se preocupe com o aspecto pictórico, técnico dos meus
filmes, quaisquer que sejam as representações, brancas ou negras,
hetero ou gay. Esse reconhecimento da diferença é algo com
que a gente tem que começar a
conviver. Em vez de olhar para os
velhos problemas, devemos encarar o novo, as novas linguagens.
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