São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2005

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Documentário vê o começo do fim do sonho hippie

DA REDAÇÃO

No verão de 1970, o sonho hippie pegava um trem e encaminhava-se para seus últimos dias de inocência. "Festival Express" registra uma imagem síntese do período, para além de qualquer preconceito: um trem cruzando fronteiras entulhado de músicos loucões movidos a longas jam sessions e drogas psicodélicas.
O documentário, editado e montado pelo inglês Bob Smeaton, só veio à tona em 2003, mais de 30 anos após as filmagens. Registra o Festival Express, versão canadense do Woodstock, evento/show marco daquela geração.
"Sempre ouvia falar que filme sumira em um incêndio, ou furto etc.", diz Smeaton à Folha. Na verdade, o hiato era fruto de desentendimentos entre os produtores do filme e os organizadores dos shows. Foram cinco dias de turnê. Começando em Toronto, a trupe -Grateful Dead, Janis Joplin, The Band, Buddy Guy, entre outros- viajaria de trem para mais shows em Winnipeg e Calgary. O que talvez nem os próprios participantes poderiam prever é que o comboio estimularia uma confraternização em clima de "a festa nunca termina", com músicos tocando em jams, mais empolgados do que nos shows.
"[O documentário] "Woodstock" (1970) é fantástico, mas mostra o sonho que eram os anos 60, aquela história de paz e amor; "Festival Express" é mais realista, mostra que as coisas estavam começando a mudar", diz o diretor.
Visto hoje, o filme adquire outras conotações. É perturbador, por exemplo, ver uma exuberante Janis Joplin cantando "Cry Baby" sabendo que ela morreria de overdose de heroína poucos meses depois do festival. O filme, no entanto, não mostra consumo de drogas. "Apenas vemos eles chapados. Ninguém queria se drogar com um câmera à frente -eles escondiam o LSD em garrafas."
Intercalando shows, as festas no trem e declarações atuais dos sobreviventes, o documentário vê as contradições que a ideologia sessentista começava a enfrentar. Por onde os músicos passaram, surgiram tumultos -o público se recusava a pagar US$ 14 pela entrada, considerada muito cara.
"O dinheiro vinha das bilheterias, não havia patrocinador, merchandising etc. -foi um fracasso em termos financeiros e é muito difícil imaginá-lo hoje. Espero que a garotada veja hoje o filme e pense: "Você pode ser um grande músico, mesmo se não tiver uma aparência atraente". Há coisas mais importantes do que uma bela roupa." (BRUNO YUTAKA SAITO)


Festival Express
Onde:
Jockey Club (av. Lineu de Paula Machado, 1.263, tel. 3031-2030)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: R$ 36


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