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CINEMA
Família de ex-boxeadora dos EUA acredita que autor do conto no qual foi baseado o filme inspirou-se na história dela
"Menina de Ouro" reconta drama real
RICK LYMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM SPRING HILL
Uma noite depois que ela e a irmã enfim assistiram a "Menina de
Ouro", Katie Dallam acordou gritando e agitando os braços, mas
rapidamente voltou a dormir e
despertou na manhã seguinte
sem se lembrar do pesadelo. Para
Dallam, que perdeu o uso de boa
parte da metade esquerda de seu
cérebro, esse tipo de esquecimento acontece toda hora.
Dallam, 45, estava relutando para assistir ao filme de Clint Eastwood, drama premiado com quatro Oscar sobre uma mulher pobre do Missouri que decide se tornar boxeadora depois dos 30 anos
e termina paralisada. Em 1996,
Dallam era muito parecida com
essa mulher, dedicada ao boxe e
disposta a se matar depois de sofrer uma tremenda surra em sua
primeira luta como profissional,
contra uma boxeadora em ascensão nos ringues de Kansas City,
Sumya Anani conhecida como Island Girl.
Vídeos do combate mostram
que Dallam não ofereceu muita
resistência. Anani quebrou-lhe o
nariz no começo do primeiro
round e continuou atacando ao
longo dos quatro rounds de dois
minutos que foram disputados.
Um advogado contratado pela família Dallam as informou que
mais de 150 socos na cabeça de
Katie haviam sido contados.
Perto do final do último round,
o juiz interrompeu a luta, porque
Katie estava inerte, pendurada
nas cordas. No vestiário, ela desabou. "Disseram-me que Katie
provavelmente não sobreviveria e
que, caso o fizesse, se tornaria um
vegetal", disse sua irmã Stephanie
Dallam. Por um breve período, no
final dos anos 90, os ferimentos
que deixaram Dallam à beira da
morte ganharam notoriedade no
mundo do boxe. Ainda hoje,
quando os defensores do esporte
falam da segurança que ele oferece, ressalvam rapidamente que
Dallam foi a única boxeadora dos
EUA a ter sofrido algo semelhante
ao que acontece com Maggie Fitzgerald, a boxeadora interpretada
por Hilary Swank no filme.
Stephanie, enfermeira que vem
sendo a principal responsável pelo cuidado de sua irmã, disse que
sua família acredita que F. X. Toole, morto em 2002 e autor do conto que serviu de base ao filme, deve ter lido ou ouvido falar sobre
Katie e que a usou como semente
de sua história. "As semelhanças
são muito grandes", disse Stephanie sobre o conto, publicado quatro anos depois dos ferimentos de
Katie. O filho de Toole, Gannon
Boyd, diz que não sabe quando o
pai escreveu o conto, já que ele escrevia histórias de boxe há anos,
antes de publicar seu primeiro livro, em 2000.
Hoje, Katie vive de seus cheques
do seguro social e da ajuda da família. Continua a passar por períodos de desespero, contam as irmãs, o que requer uso diário de
antidepressivos. Ocupa seus dias
com caminhadas, idas à loja e
com sua arte, que ela retomou fervorosamente. Esqueletos sangrentos. Uma série de estatuetas
em bronze mostra figuras bestiais, entre as quais um corpo humano contorcido de agonia e encimado por uma cabeça de touro.
"Ele está furioso porque está
aprisionado e sabe que não pode
sair", diz Katie.
Tradução Paulo Migliacci
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