São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2005

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CINEMA

Família de ex-boxeadora dos EUA acredita que autor do conto no qual foi baseado o filme inspirou-se na história dela

"Menina de Ouro" reconta drama real

RICK LYMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM SPRING HILL

Uma noite depois que ela e a irmã enfim assistiram a "Menina de Ouro", Katie Dallam acordou gritando e agitando os braços, mas rapidamente voltou a dormir e despertou na manhã seguinte sem se lembrar do pesadelo. Para Dallam, que perdeu o uso de boa parte da metade esquerda de seu cérebro, esse tipo de esquecimento acontece toda hora.
Dallam, 45, estava relutando para assistir ao filme de Clint Eastwood, drama premiado com quatro Oscar sobre uma mulher pobre do Missouri que decide se tornar boxeadora depois dos 30 anos e termina paralisada. Em 1996, Dallam era muito parecida com essa mulher, dedicada ao boxe e disposta a se matar depois de sofrer uma tremenda surra em sua primeira luta como profissional, contra uma boxeadora em ascensão nos ringues de Kansas City, Sumya Anani conhecida como Island Girl.
Vídeos do combate mostram que Dallam não ofereceu muita resistência. Anani quebrou-lhe o nariz no começo do primeiro round e continuou atacando ao longo dos quatro rounds de dois minutos que foram disputados. Um advogado contratado pela família Dallam as informou que mais de 150 socos na cabeça de Katie haviam sido contados.
Perto do final do último round, o juiz interrompeu a luta, porque Katie estava inerte, pendurada nas cordas. No vestiário, ela desabou. "Disseram-me que Katie provavelmente não sobreviveria e que, caso o fizesse, se tornaria um vegetal", disse sua irmã Stephanie Dallam. Por um breve período, no final dos anos 90, os ferimentos que deixaram Dallam à beira da morte ganharam notoriedade no mundo do boxe. Ainda hoje, quando os defensores do esporte falam da segurança que ele oferece, ressalvam rapidamente que Dallam foi a única boxeadora dos EUA a ter sofrido algo semelhante ao que acontece com Maggie Fitzgerald, a boxeadora interpretada por Hilary Swank no filme.
Stephanie, enfermeira que vem sendo a principal responsável pelo cuidado de sua irmã, disse que sua família acredita que F. X. Toole, morto em 2002 e autor do conto que serviu de base ao filme, deve ter lido ou ouvido falar sobre Katie e que a usou como semente de sua história. "As semelhanças são muito grandes", disse Stephanie sobre o conto, publicado quatro anos depois dos ferimentos de Katie. O filho de Toole, Gannon Boyd, diz que não sabe quando o pai escreveu o conto, já que ele escrevia histórias de boxe há anos, antes de publicar seu primeiro livro, em 2000.
Hoje, Katie vive de seus cheques do seguro social e da ajuda da família. Continua a passar por períodos de desespero, contam as irmãs, o que requer uso diário de antidepressivos. Ocupa seus dias com caminhadas, idas à loja e com sua arte, que ela retomou fervorosamente. Esqueletos sangrentos. Uma série de estatuetas em bronze mostra figuras bestiais, entre as quais um corpo humano contorcido de agonia e encimado por uma cabeça de touro.
"Ele está furioso porque está aprisionado e sabe que não pode sair", diz Katie.


Tradução Paulo Migliacci


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