São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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19ª BIENAL DE LIVROS

O canadense Lou Marinoff, autor de "Mais Platão, Menos Prozac", fala amanhã no Salão de Idéias

Autor defende filosofia contra o mal-estar

Divulgação
Lou Marinoff, que receita Kant para problemas no casamento


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

O canadense Lou Marinoff, autor de "Mais Platão, Menos Prozac", fala amanhã, às 20h, no Salão de Idéias da Bienal sobre conceitos filosóficos aplicados ao cotidiano. Defensor da filosofia como terapia alternativa à psicanálise, entre outras, ele foi proibido pela administração do City College de Nova York, onde ensina, de fazer aconselhamento no campus. Marinoff processou a instituição por desrespeito a sua liberdade de expressão, mas perdeu.
"Aparentemente os psicólogos clínicos da instituição foram contrários porque estavam preocupados em proteger sua profissão. Nos Estados Unidos há muito dinheiro envolvido no sistema de saúde. E eles nem sempre se preocupam tanto em ajudar as pessoas quanto em assegurar seu território", diz Marinoff à Folha.
O filósofo perdeu o processo, mas não a pose. Traduzido para 21 idiomas, publicado em mais de 75 países, Marinoff fundou a American Philosophical Practioners Association, que treina filósofos para serem terapeutas. A mensagem é simples, assegura: "O aconselhamento filosófico é ótima alternativa quando o problema da pessoa é centrado em questões morais, de ética, significado da vida etc. Esses problemas não são doenças mentais."
O método "Marinoff" consiste em realizar uma consulta inicial de 50 minutos com o eventual cliente, onde se avalia se ele é capaz de comer, dormir e trabalhar normalmente, e se está clinicamente bem. Quem está perturbado emocionalmente, a ponto de não ser funcional, não é bom candidato ao aconselhamento.

Terapia curta
"Não tratamos casos patológicos", avisa. A "prescrição filosófica" depende do indivíduo e seu problema. Marinoff cita um caso: se alguém tem um problema no casamento, então pode-se falar de Immanuel Kant [Alemanha, 1724-1804] e sua ética das obrigações. "Ou ainda Ayn Rand [Rússia, 1905-1982], e a problemática do altruísmo versus egoísmo", receita Marinoff, cuja prática se baseia em conversa e não se limita às escolas ocidentais, incluindo, na farmácia básica, Confúcio, taoísmo etc. Marinoff diz que a maioria de seu críticos são psiquiatras e psicólogos clínicos, que tentam "diagnosticar todo mundo com uma doença mental". E defende uma terapia a curto prazo.
"Realmente quero me livrar do meu cliente. Não quero que ele se torne dependente. Às vezes na psicologia se estabelece uma co-dependência a longo prazo. Quando Freud começou durava seis meses e já era muito tempo. Hoje pode não haver fim", critica.
O psicanalista brasileiro Joel Birman concorda com o problema da "eternidade" das psicoterapias, acredita que a proposta de Marinoff de dar um basta nos excessos de medicação é saudável, mas faz ressalvas.
"Qual a eficácia disso? Quando você propõe um sistema de conversão moral do paciente tende a funcionar como tratamento persuasivo-sugestivo. Você dá quadro explicativo, nomeia coisas, e as pessoas têm certo alívio. É centrado num quadro filosófico, mas poderia ser religioso. Não faz mal, mas tem consistência mole, vai desarrumar adiante."
Muitas vezes citado quando o assunto é filosofia e seu poder terapêutico, o escritor Alain de Botton ("As Consolações da Filosofia"), acredita que Marinoff exagera a diferença entre filosofia e psicanálise. "Freud era um filósofo, e por isso a psicanálise é simplesmente um ramo de uma idéia tradicional de filosofia, em que se propõe conversar sobre os problemas para esclarecê-los", diz Botton à Folha. "Mas acho que psicanalistas são mais bem treinados. Se eu tivesse um amigo com dificuldades, recomendaria um ao invés de um filósofo."


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