São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Cineasta afirma que "incomoda" colegas

DA REPORTAGEM LOCAL

No cenário do cinema brasileiro, o diretor Cláudio Assis cultiva a imagem do penetra que veio para arrombar a festa.
"Cinema é arte de burguês. Vim de Caruaru. Faço o que quero. Falo o que penso. Faço filmes que ninguém tem coragem de fazer. Eu incomodo mesmo", afirma.
É extensa a lista de atitudes de Assis que o aproximam do adjetivo "escandaloso".
Num festival de cinema em que seu curta "Texas Hotel" (1999) foi recebido com ressalvas, Assis partiu para a agressão física a um dos críticos do filme.
O cineasta Hector Babenco foi alvo de ofensas públicas de Assis, quando recebia um prêmio de melhor diretor, por "Carandiru", em 2004. Na época, Assis disse que os xingamentos eram sua reação ao fato de Babenco haver criticado o presidente Lula em entrevistas à imprensa argentina.

Ferida
Mas entre seus pares, Assis não conquistou apenas desafetos. Longe disso. "Ele é o Merthiolate na ferida", diz o também diretor pernambucano Lírio Ferreira, autor de "Árido Movie", em que Assis faz uma "ponta" como barman.
Em "Baixio das Bestas", Ferreira vê um filme "de uma coragem incondicional", que "expõe com crueza singular a falência e a amoralidade sem limite de seus personagens, em contraponto a um ambiente que mais se assemelha a um caldeirão velho de lata com fervura, mas sem horizonte".
O diretor paulista Beto Brant também já escalou Assis como ator num filme seu. Em "Crime Delicado", Assis sentencia: "Quem não reage rasteja".
Para Brant, "Cláudio Assis é um sujeito bem-humorado e, por isso mesmo, lúcido demais. Ele está de olho nos desgraçados, sem dar mole para os que desgraçam. Tem sangue quente num coração gigante, e "Baixio das Bestas" é a expressão inspiradíssima da sua pessoa".
O documentarista Kiko Goifman ("Atos dos Homens") define Assis como "uma delícia de pessoa torta, que fala o que sente. Melhor do que isso, filma o que sente. Então, funciona".
Amigo de Assis desde que foram sócios em Pernambuco, o diretor Marcelo Gomes ("Cinema, Aspirinas e Urubus") diz que Assis "pode até aparentar certa agressividade explosiva, mas apenas no primeiro momento". Segundo Gomes, "quem o conhece mais de perto sabe que ele tem temperamento doce e sensível".
Fotógrafo dos dois filmes de Assis, o também diretor Walter Carvalho ("Cazuza") acha que Assis é "um articulador de crenças comuns". Em "Baixio das Bestas", na opinião de Carvalho, "vemos a estagnação e a decadência da cultura da cana e suas conseqüências sociais. A morte das usinas repetindo a morte dos engenhos. O tempo está parado, mas o fator histórico é o homem, e não o tempo. Nesse sentido, é um épico".
A atriz Dira Paes, que atua nos dois filmes de Assis, acha-o "um diretor necessário, contundente, pungente e extremamente cinematográfico".
Ela diz que ""Baixio" traduz a degradação da terra, em paralelo com a degradação do ser humano, e mostra como o sentimento da besta-fera está tomando conta de todos". (SA)


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