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Cineasta afirma que "incomoda" colegas
DA REPORTAGEM LOCAL
No cenário do cinema brasileiro, o diretor Cláudio Assis
cultiva a imagem do penetra
que veio para arrombar a festa.
"Cinema é arte de burguês.
Vim de Caruaru. Faço o que
quero. Falo o que penso. Faço
filmes que ninguém tem coragem de fazer. Eu incomodo
mesmo", afirma.
É extensa a lista de atitudes
de Assis que o aproximam do
adjetivo "escandaloso".
Num festival de cinema em
que seu curta "Texas Hotel"
(1999) foi recebido com ressalvas, Assis partiu para a agressão
física a um dos críticos do filme.
O cineasta Hector Babenco
foi alvo de ofensas públicas de
Assis, quando recebia um prêmio de melhor diretor, por "Carandiru", em 2004. Na época,
Assis disse que os xingamentos
eram sua reação ao fato de Babenco haver criticado o presidente Lula em entrevistas à imprensa argentina.
Ferida
Mas entre seus pares, Assis
não conquistou apenas desafetos. Longe disso. "Ele é o Merthiolate na ferida", diz o também diretor pernambucano Lírio Ferreira, autor de "Árido
Movie", em que Assis faz uma
"ponta" como barman.
Em "Baixio das Bestas", Ferreira vê um filme "de uma coragem incondicional", que "expõe com crueza singular a falência e a amoralidade sem limite de seus personagens, em
contraponto a um ambiente
que mais se assemelha a um
caldeirão velho de lata com fervura, mas sem horizonte".
O diretor paulista Beto Brant
também já escalou Assis como
ator num filme seu. Em "Crime
Delicado", Assis sentencia:
"Quem não reage rasteja".
Para Brant, "Cláudio Assis é
um sujeito bem-humorado e,
por isso mesmo, lúcido demais.
Ele está de olho nos desgraçados, sem dar mole para os que
desgraçam. Tem sangue quente
num coração gigante, e "Baixio
das Bestas" é a expressão inspiradíssima da sua pessoa".
O documentarista Kiko Goifman ("Atos dos Homens") define Assis como "uma delícia de
pessoa torta, que fala o que sente. Melhor do que isso, filma o
que sente. Então, funciona".
Amigo de Assis desde que foram sócios em Pernambuco, o
diretor Marcelo Gomes ("Cinema, Aspirinas e Urubus") diz
que Assis "pode até aparentar
certa agressividade explosiva,
mas apenas no primeiro momento". Segundo Gomes,
"quem o conhece mais de perto
sabe que ele tem temperamento doce e sensível".
Fotógrafo dos dois filmes de
Assis, o também diretor Walter
Carvalho ("Cazuza") acha que
Assis é "um articulador de
crenças comuns". Em "Baixio
das Bestas", na opinião de Carvalho, "vemos a estagnação e a
decadência da cultura da cana e
suas conseqüências sociais. A
morte das usinas repetindo a
morte dos engenhos. O tempo
está parado, mas o fator histórico é o homem, e não o tempo.
Nesse sentido, é um épico".
A atriz Dira Paes, que atua
nos dois filmes de Assis, acha-o
"um diretor necessário, contundente, pungente e extremamente cinematográfico".
Ela diz que ""Baixio" traduz a
degradação da terra, em paralelo com a degradação do ser humano, e mostra como o sentimento da besta-fera está tomando conta de todos".
(SA)
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