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Velório de Glauber também foi filmado e proibido pela mãe
da Reportagem Local
free-lance para a Folha
Cinco anos após a filmagem do
enterro de Di Cavalcanti, foi a vez
de Glauber Rocha. Morto às 4h do
dia 22 de agosto de 1981, o velório
do cineasta aconteceu no parque
Lage, no Jardim Botânico, zona sul
do Rio.
O local, que já havia sido cenário
de "Terra em Transe" (67), foi palco de uma bizarra mistura de festa
com velório, com direito a projeções de filmes do diretor e discursos de amigos ilustres, como o antropólogo Darcy Ribeiro.
No meio de tudo isso, a equipe do
cineasta Sílvio Tendler. "Foi uma
cena impactante. O cinema brasileiro estava todo lá. O caixão de
Glauber num canto e, a 50 metros,
próximo à piscina, um telão. É como se o "Glauber morto" e o "Glauber vivo" estivessem ali", disse o cineasta à Folha, há duas semanas.
E, depois da filmagem, a proibição. "Reconheço o erro. Acho que
foi burrice minha", diz Lúcia Rocha, mãe de Glauber. "Tanto que já
liberei, há dois anos."
"Fiquei muito tempo de mal com
o Sílvio por causa disso. Nem me
pediram licença. Estava uma multidão de gente. E teve um momento, que me agulhou aqui, no coração, em que eu fui conversar com o
meu filho. Era meu último filho.
Minhas filhas já tinham ido", lembra Lúcia, emocionada.
"E, enquanto eu conversava com
ele, ali no caixão, me puseram o
microfone na boca. Eu estava tão
mal que nem percebi. Foi a Dina
Sfat (atriz) que tirou o microfone e
disse a eles "Que falta de respeito!"."
"Eu me danei com aquilo e,
quando o Sílvio me perguntou sobre o filme, disse que não deixava.
Ele falou do caso do Di e tal, mas eu
respondi: "Glauber é Glauber. Di é
Di. E o Glauber tinha uma mãe no
enterro. Se o Di tivesse, também
não teria deixado"."
Áudio do filme sumiu
Tendler afirmou que, na época,
não brigou pela edição e exibição
do filme. "Nem vi o material filmado. Preferi aguardar uma nova decisão da mãe de Glauber, o que
acabou acontecendo em 96."
O cineasta pretende, nos próximos meses, montar e lançr o filme.
O problema é que as fitas de áudio
se perderam. Sobraram os dez rolos de negativo, usados em dois
dias de filmagem: desde a manhã
de sábado -ainda no quarto do
hospital onde Glauber morreu-
até o enterro no domingo.
"Os negativos estão na Cinemateca todo esse tempo. Pena que o
som esteja perdido. Mas ainda tenho esperanças, pois me lembro de
muita coisa que foi dita."
"Recordo-me do que o Joaquim
Pedro falou, da comoção de Norma Bengell e da Ítala Nandi", contou Tendler.
"É um filme que mostra o Brasil
daquele tempo. Já tenho até um
nome: "Glauber Brasil"."
(IF e PSL)
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