São Paulo, Sexta-feira, 11 de Junho de 1999
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Velório de Glauber também foi filmado e proibido pela mãe

da Reportagem Local

free-lance para a Folha

Cinco anos após a filmagem do enterro de Di Cavalcanti, foi a vez de Glauber Rocha. Morto às 4h do dia 22 de agosto de 1981, o velório do cineasta aconteceu no parque Lage, no Jardim Botânico, zona sul do Rio.
O local, que já havia sido cenário de "Terra em Transe" (67), foi palco de uma bizarra mistura de festa com velório, com direito a projeções de filmes do diretor e discursos de amigos ilustres, como o antropólogo Darcy Ribeiro.
No meio de tudo isso, a equipe do cineasta Sílvio Tendler. "Foi uma cena impactante. O cinema brasileiro estava todo lá. O caixão de Glauber num canto e, a 50 metros, próximo à piscina, um telão. É como se o "Glauber morto" e o "Glauber vivo" estivessem ali", disse o cineasta à Folha, há duas semanas.
E, depois da filmagem, a proibição. "Reconheço o erro. Acho que foi burrice minha", diz Lúcia Rocha, mãe de Glauber. "Tanto que já liberei, há dois anos."
"Fiquei muito tempo de mal com o Sílvio por causa disso. Nem me pediram licença. Estava uma multidão de gente. E teve um momento, que me agulhou aqui, no coração, em que eu fui conversar com o meu filho. Era meu último filho. Minhas filhas já tinham ido", lembra Lúcia, emocionada.
"E, enquanto eu conversava com ele, ali no caixão, me puseram o microfone na boca. Eu estava tão mal que nem percebi. Foi a Dina Sfat (atriz) que tirou o microfone e disse a eles "Que falta de respeito!"."
"Eu me danei com aquilo e, quando o Sílvio me perguntou sobre o filme, disse que não deixava. Ele falou do caso do Di e tal, mas eu respondi: "Glauber é Glauber. Di é Di. E o Glauber tinha uma mãe no enterro. Se o Di tivesse, também não teria deixado"."

Áudio do filme sumiu
Tendler afirmou que, na época, não brigou pela edição e exibição do filme. "Nem vi o material filmado. Preferi aguardar uma nova decisão da mãe de Glauber, o que acabou acontecendo em 96."
O cineasta pretende, nos próximos meses, montar e lançr o filme. O problema é que as fitas de áudio se perderam. Sobraram os dez rolos de negativo, usados em dois dias de filmagem: desde a manhã de sábado -ainda no quarto do hospital onde Glauber morreu- até o enterro no domingo.
"Os negativos estão na Cinemateca todo esse tempo. Pena que o som esteja perdido. Mas ainda tenho esperanças, pois me lembro de muita coisa que foi dita."
"Recordo-me do que o Joaquim Pedro falou, da comoção de Norma Bengell e da Ítala Nandi", contou Tendler.
"É um filme que mostra o Brasil daquele tempo. Já tenho até um nome: "Glauber Brasil"." (IF e PSL)

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