|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA - RAP
Pavilhão 9 reage com disco mais pesado
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
De 1997 até agora algumas centenas de jovens foram assassinados
em São Paulo; certas vezes, dezenas de uma só vez, o que se convencionou chamar de chacina:
mortes que não são ouvidas por
ninguém, exceto pelos familiares
dos envolvidos, e causam torpor.
De lá pra cá, a banda de rap da
zona sul paulistana Pavilhão 9 lançou dois álbuns -o segundo saindo agora, "Se Deus Vier, Que Venha Armado", justo quando há
uma campanha de desarmamento
veiculada em cadeia nacional.
"Esse disco saiu mais homogêneo, elaborado e pesado que o anterior, "Cadeia Nacional" (97), porque está relacionado a essa violência banalizada que acontece hoje
todos os dias em cada esquina de
São Paulo", afirma o vocalista
mascarado da banda, Rho$$i
-codinome em "homenagem" à
marca de armas homônima.
O disco foi produzido por Eduardo Bid (de Marcelo D2, Chico
Science e Fernanda Abreu) e Carlo
Bartolini e mixado e masterizado
por Bill Kennedy (que já trabalhou
com Nine Inch Nails, entre outros), em Los Angeles (EUA).
Com o rap assaltando as paradas
norte-americanas e com os Racionais MCs, maior banda de rap do
Brasil, vendendo mais de 1 milhão
de discos, não seria esse álbum,
também ele, um elemento tão vulgarizador quanto imagens de TV e
páginas de jornal que tratam da
violência?
"Não. Queremos alertar as pessoas do problema que existe na periferia. Eu queria falar bem da polícia, como falo dos bombeiros, por
exemplo. Mas infelizmente não é o
que acontece. Não são todos os policiais (que matam), é uma minoria, mas é o que é mostrado", diz
Rho$$i, ele próprio vítima de
agressões da polícia.
Engana-se quem vê incentivo do
Pavilhão 9 à arma na cintura de todo cidadão -apesar de todas as
evidências, dos nomes do disco e
do vocalista, em contrário. "Discordo completamente desses grupos que defendem o direito de
comprar e portar armas. Quanto
mais armas nas ruas, mais mortes,
isso é óbvio", esclarece o vocalista.
"O rap não são os caras violentos,
marginalizados, é o contrário: somos cronistas da periferia, fazemos um retrato do cotidiano."
Morte, morte, morte
E morte é o que não falta em "Se
Deus Vier, Que Venha Armado".
Das belas -e fortes- imagens do
encarte do álbum a letras de protesto sem metáforas, secas, duras,
sobre assassinatos, desemprego,
drogas, miséria em excesso.
"Crack, cocaína e heroína/ É fácil
encontrar em qualquer esquina/ É
foda assistir a tudo/ Mãe perde seu
filho/ Num dia de domingo/ Terra
de ninguém", diz "Terra de Ninguém". "Basta apenas olhar para
ser liquidado pelos homens da lei,
os donos da verdade (...) Alucinados, dopados (...), por motivo banal, te enquadram dando geral",
diz uma das mais rappers do álbum, "Retrato de São Paulo", em
que Rho$$i também cita tortura
por parte dos policiais, em letra
sem nenhuma dose de irrealidade
nem poesia.
"Nós (a banda) já fomos parados
por uma van policial, e o DJ Branco
foi parar no hospital, devido a "cacetadas" levadas", diz Ro$$i. "Mas
nos shows, hoje em dia, eles estão
pegando mais leve. A arte do hip
hop é a resposta."
Mudança
O extremo, o excesso de tiros, a
falta de perspectiva para quem
mora na periferia (principalmente
a de São Paulo, mas não só) parece
ter cansado o Pavilhão 9. "No próximo "trampo" vamos falar do lado
bom, do futebol, da amizade entre
as pessoas da periferia, que é muito
entrosada."
Enquanto o novo disco não vem,
a banda se apresenta dia 18, em
Santos, dia 23, em Porto Alegre,
dia 25, em Florianópolis, e faz o
show de lançamento do disco em
São Paulo nos dias 9 e 10 de julho,
no Palace.
Texto Anterior: 9º Cine Ceará: Festival exibe longas inéditos e curtas Próximo Texto: Até os dentes Índice
|