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REGGAE
Cidade Negra traz
duplo para vender
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Dinheiro nunca é demais. O
álbum duplo "Hits-Dubs", do
Cidade Negra, reprisa parte da
obra da banda carioca de reggae com um CD de grandes sucessos e outro de "dubs" (versões cheias de efeitos "ambientais", de baixa concentração
vocal, "viajandonas", se se pudessem definir em poucas palavras) de outros -ou dos mesmos- sucessos.
É um produto irregular, de
uma banda insegura que foi
cair numa gravadora que não
se respeita. Só isso pode explicar que se produza uma compilação "histórica" de hits recentes acumulados em cinco álbuns anteriores -"Lute para
Viver" (91), "Negro no Poder"
(92), "Sobre Todas as Forças"
(94), "O Erê" (96) e "Quanto
Mais Curtido Melhor" (98)-
de uma banda ainda muito jovem, sem qualquer preocupação de revisão histórica.
Se não interessa -à gravadora e/ou à banda- inserir um
textinho mínimo sobre os antecedentes do grupo, discriminar
de que disco e/ou ano saiu cada
hit, cada dub, o que se parece
dizer é que não há história envolvida no negócio, o que
transforma tudo em mero comércio.
"Falar a Verdade" (91), "Onde Você Mora?" (94) e "Firmamento" (96) emplacaram no
rádio? Então é só reempacotar
e vender mais uns bons tostões.
Toni Garrido não canta bem,
os arranjos e tratamentos são
em geral subservientes ao já velhusco reggae jamaicano.
A fofura perpassa um tanto
da produção -"A Sombra da
Maldade" (94) é simpática,
"Sábado à Noite" (de Lulu Santos) é quase simpática, alguns
dubs são simpáticos. Tudo é
meio ralo, mas, se se tratasse de
entretenimento despretensioso, tudo bem.
Acontece que no meio do caminho os caras começam a se
levar a sério demais. Se acham
geniais, fazem pose de avatares,
viram atores de cinema, interpretam Caetano Veloso -o velho círculo vicioso pelo qual
tantos já passaram. Música fica
em quinto plano.
Ou melhor, neste caso: música cai nas mãos de nomes do
mercadão global, como os antes ultraprodutivos (e virtuosos) Sly & Robbie, a lenda viva
Lee "Scratch" Perry (em "Nada
Mudou", de 91), o vagaroso Aswad, o moderninho Mad Professor e outros, que criam dubs
por cima de matrizes quando
muito medianas.
O CD duplo (você pode comprar os dois separados também, veja só) acaba sendo mais
relevado pelo selinho promocional colado à capa, indicando
a inclusão de "Eu Também
Quero Beijar" (ex-sucesso reciclado de Pepeu Gomes), "tema
da campanha do Rider".
Sucateado pelos artistas e pela lançadora, esse tal "Hits-Dubs" parece mesmo música
de chinelo. Pobre banda, rica
gravadora.
Avaliação: ![](http://www.uol.com.br/fsp/images/bp.gif)
Disco: Hits - Dubs
Grupo: Cidade Negra
Lançamento: Epic/Sony
Quanto: R$ 36, em média (CD duplo)
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