São Paulo, Sexta-feira, 11 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REGGAE
Cidade Negra traz duplo para vender

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Dinheiro nunca é demais. O álbum duplo "Hits-Dubs", do Cidade Negra, reprisa parte da obra da banda carioca de reggae com um CD de grandes sucessos e outro de "dubs" (versões cheias de efeitos "ambientais", de baixa concentração vocal, "viajandonas", se se pudessem definir em poucas palavras) de outros -ou dos mesmos- sucessos.
É um produto irregular, de uma banda insegura que foi cair numa gravadora que não se respeita. Só isso pode explicar que se produza uma compilação "histórica" de hits recentes acumulados em cinco álbuns anteriores -"Lute para Viver" (91), "Negro no Poder" (92), "Sobre Todas as Forças" (94), "O Erê" (96) e "Quanto Mais Curtido Melhor" (98)- de uma banda ainda muito jovem, sem qualquer preocupação de revisão histórica.
Se não interessa -à gravadora e/ou à banda- inserir um textinho mínimo sobre os antecedentes do grupo, discriminar de que disco e/ou ano saiu cada hit, cada dub, o que se parece dizer é que não há história envolvida no negócio, o que transforma tudo em mero comércio.
"Falar a Verdade" (91), "Onde Você Mora?" (94) e "Firmamento" (96) emplacaram no rádio? Então é só reempacotar e vender mais uns bons tostões.
Toni Garrido não canta bem, os arranjos e tratamentos são em geral subservientes ao já velhusco reggae jamaicano.
A fofura perpassa um tanto da produção -"A Sombra da Maldade" (94) é simpática, "Sábado à Noite" (de Lulu Santos) é quase simpática, alguns dubs são simpáticos. Tudo é meio ralo, mas, se se tratasse de entretenimento despretensioso, tudo bem.
Acontece que no meio do caminho os caras começam a se levar a sério demais. Se acham geniais, fazem pose de avatares, viram atores de cinema, interpretam Caetano Veloso -o velho círculo vicioso pelo qual tantos já passaram. Música fica em quinto plano.
Ou melhor, neste caso: música cai nas mãos de nomes do mercadão global, como os antes ultraprodutivos (e virtuosos) Sly & Robbie, a lenda viva Lee "Scratch" Perry (em "Nada Mudou", de 91), o vagaroso Aswad, o moderninho Mad Professor e outros, que criam dubs por cima de matrizes quando muito medianas.
O CD duplo (você pode comprar os dois separados também, veja só) acaba sendo mais relevado pelo selinho promocional colado à capa, indicando a inclusão de "Eu Também Quero Beijar" (ex-sucesso reciclado de Pepeu Gomes), "tema da campanha do Rider".
Sucateado pelos artistas e pela lançadora, esse tal "Hits-Dubs" parece mesmo música de chinelo. Pobre banda, rica gravadora.


Avaliação:  


Disco: Hits - Dubs Grupo: Cidade Negra Lançamento: Epic/Sony Quanto: R$ 36, em média (CD duplo)

Texto Anterior: Sertanejo: Leonardo, só, mostra novo CD em show
Próximo Texto: Música Clássica - Crítica: Quarteto mistura inteligência e paixão em Fauré
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.