São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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DANÇA

"Terra Latina" apresenta espetáculos de 12 países e 36 companhias, seis delas brasileiras; bienal francesa começa em 10/9

Resistência da AL ganha palcos de Lyon

Divulgação
Cena de coreografia do grupo mexicano Mnemosine, integrante da 10ª Bienal de Dança de Lyon


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao escolher a América Latina como tema da próxima Bienal de Dança de Lyon, "Terra Latina, do Rio Grande à Terra do Fogo", seu diretor Guy Darmet foca a resistência no palco do maior evento do gênero, que tem início no dia 10 de setembro.
"A cultura norte-americana, que admiramos e valorizamos, é hoje dominante; apresentar companhias latino-americanas na bienal é uma forma de proporcionar uma resistência que permita um balanço no mundo", disse o curador à Folha, no último domingo, no Rio de Janeiro.
"É importante salientar ainda que é preciso ultrapassar barreiras na América Latina, onde o que se vê, muitas vezes, está mais voltado para a Europa e os EUA do que para um intercâmbio entre os próprios países latinos", afirmou.
Assim, a bienal, que desde 1990 traça panoramas territoriais da dança -o Brasil foi tema em 96-, amplia a temática para a geopolítica. Já foi assim em 94, quando o tema foi "Mediterranea", ao reunir grupos de países em conflito no Oriente Médio.
A questão geopolítica não está apenas na resistência à influência norte-americana, mas também na história de cada um dos 11 países latino-americanos que se apresentam no festival -a França é o 12º deles, por sua história em acolher exilados. "Especialmente as companhias francesas, que conhecem a história da América Latina e se impressionaram com os períodos de ditadura, irão apresentar trabalhos políticos, de resistência", afirma Darmet. Entre elas, uma das que promete trazer a política para o palco é a francesa Maguy Marin, que prepara nova peça por encomenda de Darmet.
No entanto, a política é uma das facetas do festival. "Nós damos a ocasião para os artistas se manifestarem com total liberdade, a bienal não propõe nada", afirma o diretor francês.
Para a décima edição, com um orçamento de R$ 12,7 milhões, 36 companhias foram convidadas, seis delas brasileiras, o maior grupo no festival: as mineiras Mimulus, Grupo Corpo e Balé de Rua, as cariocas Staccato e Cia. Paula Nestorov e a goiana Quasar. São Paulo ficou de fora. "Assisti a 30 companhias paulistas, mas elas são extremas: há boa dança dos 80, o que não é novidade na Europa, ou muito conceitual para pequenas audiências; faz falta um grupo que represente a cidade", diz Darmet.
Com exceção de São Paulo, o curador aponta para um crescimento da dança contemporânea no país. "Vejo um grande desenvolvimento e dispersão de grupos por toda parte, especialmente no Rio, onde há um forte apoio, mas também em Florianópolis, Goiás e Minas Gerais."
"Terra Latina", a dois meses da abertura, já tem metade de seus 96 mil lugares vendidos. As dez performances do Corpo estão com ingressos esgotados. A programação completa do festival está no site www.biennale-de-lyon.org.
Para a próxima bienal, em 2004, Darmet prepara outra investigação geopolítica, a partir do 21 de abril, data das eleições francesas que levaram o direitista Le Pen para o segundo turno, uma espécie de 11 de setembro na França.
Já para 2005, ano em que o Brasil será o tema principal de eventos culturais na França, Darmet espera levar mais companhias brasileiras. "Farei todo esforço para levar a dança do país ao maior número de teatros; ao menos em Lyon, teremos uma temporada cheia deles", promete.



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