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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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MÚSICA

The Cure executa maratona gótica

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Estados de humor alterados fizeram a fama de Robert Smith, 44, da banda inglesa The Cure, nos anos 80. Nos dias de alegria, compôs algumas das mais felizes e tolas canções pop ("Lovecats", "Friday I'm in Love"); mergulhado na depressão, cantou sobre variações de um mesmo tema -morte. O mais surpreendente é que, durante 26 anos de carreira, mesmo suas canções mais lúgubres chegaram aos topos das paradas.
A DirecTV exibe "Trilogy" -também lançado em DVD-, show do grupo realizado em Berlim em 2002, que embarca nessa estética gótica e reúne o repertório de três discos com temáticas complementares: "Pornography" (Pornografia), "Disintegration" (Desintegração) e "Bloodflowers" (Flores de sangue).
Para aguentar as quase três horas de show, não basta ser mero fã da banda e conhecer hits alegres que ainda hoje tocam nas rádios -e passam longe desse especial. É preciso acreditar em versos como "Não importa se todos nós morrermos jovens", que alguns fãs espremidos na primeira fila da platéia cantam, como pode ser visto durante a música que abre o show, "100 Years", do álbum "Pornography".
Lançado em 1982, esse disco foi resultado de uma fase pesadíssima para o grupo. Drogas eram o prato da banda -que quase acabou no período-, enquanto Smith ficava obcecado com a idéia de envelhecimento.
Hoje, a estética fatalista-romântica soa presa a um período bem específico -anos 80-, quando letristas de bandas de rock não se acanhavam em fingir que viviam nos tempos do poeta inglês Lord Byron (1788-1824). O som do Cure "dark" é datado, arrasta-se burocraticamente.
Basta verificar essa versão, reduzida, que irá ao ar na DirecTV. Na edição, entra apenas a já citada "100 Years" de "Pornography", o disco mais "difícil" da trilogia; as mais "alegres" de "Disintegration" -como "Lovesong" e "Pictures of You"- e algumas do disco mais recente, o anticlimático "Bloodflowers". Tentativa de dar mais agilidade ao show?
No bis, após essa maratona de fazer góticos perderem o fôlego, Smith cavuca até no desacreditado álbum "Kiss me Kiss me Kiss me" (1987), que não faz parte da trilogia. Desse disco, que é um dos mais comerciais e "iluminados", a banda executa duas estranhas no ninho: as longas e experimentais "If Only Tonight We Could Sleep" e "The Kiss". Ainda há cura para o The Cure?


TRILOGY. Show da banda The Cure. Quando: hoje, amanhã, dom., qui. e sex. (18/7) no canal 603 da DirecTV, durante o dia inteiro. Em DVD (duplo): ST2 Vídeo, R$ 72, em média.


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