São Paulo, sexta, 11 de julho de 1997.



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TEATRO
Estréia no Cultura Artística 'O Burguês Ridículo', adaptação de peças de Molière por Guel Arraes e João Falcão
Nanini traz seu 'Burguês' em êxtase

DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

Ele é descrito como um completo idiota que, por isso, acaba se tornando um querido de todos. Ele é Sr. Jordain, personagem de "O Burguês Ridículo" interpretado por Marco Nanini.
A peça, que recebeu os prêmios Mambembe e Sharp de melhor espetáculo em 96, estréia hoje, às 21h, no teatro Cultura Artística.
"O Burguês Ridículo" é uma adaptação de vários textos de Molière feita por Guel Arraes e João Falcão (leia texto nesta página).
Depois de nove meses em cartaz no Rio de Janeiro -temporada que teve como contratempo um incêndio no teatro, que destruiu todo o cenário e os figurinos da peça-, Marco Nanini se mostra um apaixonado pelo personagem.
"Tem hora em que a gente comanda o personagem, manda ele fazer as coisas. E tem a hora que ele vai sozinho, raciocina sozinho, se esbarrar em algo, ele conserta. Então é quando o ator não interfere, porque o personagem já está tão moldado, que ele vai solto. Aí é um êxtase. É o que estou sentindo nesse momento com o espetáculo", afirmou Nanini.
Para ele, seu personagem tem um perfil poético. "Ele é um imbecil na melhor acepção da palavra. É um imbecil estratosférico, mas é uma pessoa tão boa, tão boa, que toda essa idiotice transforma ele em um ser especial."
A maior ambição do Sr. Jourdain é ser tratado como nobre. Ele é um burguês muito rico e completamente sem cultura que quer ser visto e reconhecido pela nobreza. Para ascender socialmente, ele pretende realizar o sonho de casar-se com a Marquesa, por quem está apaixonado, e fazer com que sua filha torne-se condessa por meio de um casamento armado.
"Nisso, rola tudo, as pessoas passam a perna nele, ele é arrogante, mal-educado, tem uma série de defeitos, mas, no fim, você quer levar ele para casa, porque ele é fofíssimo", disse Nanini.
O ator ressalva que o personagem tem uma "semente humana". "É como nos personagens de Shakespeare, ele tem essa dimensão para ser estudada, ser mergulhada." Nanini interpreta Sr. Jourdain com a sensação infantil de que Molière aprova a montagem. "Sinto o Molière a favor desta montagem. Sinto ele rindo, gargalhando, sinto esse espírito dele."
Marco Nanini convidou João Falcão e Guel Arraes, dois diretores com quem já havia trabalhado na TV, para trabalhar com ele no teatro porque ambos são ligados à comédia. "Aproveitamos o Molière para refletir sobre a comédia", disse Nanini.
"Nossa emoção em comum é a comédia. É Molière porque ele é nosso patrono, ele defende lindamente a comédia. Ele colocava suas idéias na boca dos personagens. Dizia: 'Para fazer as tragédias, basta bater no peito e xingar os deuses e dizer coisas de bom senso. Para fazer comédias, não, é preciso penetrar no ridículo dos homens. E é um estranho negócio o de fazer rir as pessoas'. Molière nos deu nobreza", disse Guel.

Peça: O Burguês Ridículo
Autoria: Molière
Adaptação e direção: Guel Arraes e João Falcão
Elenco: Marco Nanini, Ary França, Betty Gofman entre outros
Quando: estréia hoje, às 21h; sex e sáb, às 21h; dom, às 18h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: R$ 25





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