São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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Católicos querem mudar "Código"

SHARON WAXMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Teoricamente, um projeto de Hollywood dificilmente poderia ser mais simples que "O Código da Vinci", filme que está sendo rodado na Europa neste verão, com base no livro do fenômeno editorial Dan Brown.
Há um livro de enorme sucesso, com 36 milhões de cópias em circulação, uma equipe vencedora do Oscar, com o roteirista Akiva Goldman e o diretor Ron Howard (de "Uma Mente Brilhante"), e um eterno favorito ao prêmio, Tom Hanks, como o protagonista Robert Langdon.
Mas o filme, que deve sair em maio do ano que vem, está virando um dos mais complicados exercícios do mundo cinematográfico, levando a Sony a decretar sigilo total sobre a produção, se recusando a discutir qualquer detalhe mais simples.
O roteiro foi preparado sob controle estrito. Pessoas de fora foram excluídas dos locais de filmagem. E os envolvidos na produção tiveram de assinar acordos de confidencialidade.
"Não existe uma agenda secreta. A questão é que o produto é muito bem conhecido", disse Geoffrey Ammer, presidente mundial de marketing da Sony.
Mas os executivos e outras pessoas ligadas ao projeto reconhecem que seu silêncio também é uma indicação de preocupação quanto à natureza explosiva do assunto. O livro, uma história de ficção, toma por tema alguns dos dogmas centrais do cristianismo, alegando que Jesus teve um filho com Maria Madalena e que a criança seria a legítima herdeira.
O enredo alega uma imensa operação de acobertamento conduzida pela Igreja Católica, a qual, segundo o livro, teria usurpado o papel de Maria Madalena em favor de uma hierarquia dominada por homens, que reprimiu aquilo que Brown designa como "o sagrado feminino".
Antes que a produção fosse iniciada, o estúdio e os produtores Brian Grazer e John Calley receberam cartas de organizações como a Liga Católica e a Opus Dei, expressando preocupação.
A Liga Católica solicitou que Grazer inclua uma notificação apontando que a história narrada no livro é ficção. A Opus Dei, organização católica conservadora, estava especialmente preocupada com a maneira pela qual seria retratada, pois é uma das vilãs centrais no livro. "O romance retrata a Opus Dei de maneira completamente imprecisa", disse Brian Finnerty, porta-voz do grupo.
Executivos do estúdio consultaram especialistas em assuntos católicos e cristãos sobre a melhor maneira de alterar a trama do romance para não ofender os fiéis. Ao fazê-lo, o estúdio foi convidado a considerar medidas como tornar a premissa central da trama, a de que Jesus teve um filho com Maria Madalena, mais ambígua e a tirar o nome da Opus Dei.
Mas mudar a trama de um romance apreciado acarreta outros riscos e pode alienar a base intrínseca de fãs do filme -os milhões de pessoas que devoraram o livro.


Tradução de Paulo Migliacci

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