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POCKET ÓPERA
"Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos" enfoca o aviador
Santos-Dumont decola em SP e revive a fantasia de voar
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mito grego que ganhou do
pai um par de asas de cera; um
pintor estudioso do vôo dos pássaros que desenhou máquinas
voadoras e um inventor que foi o
primeiro a sobrevoar o céu numa
aeronave mais pesada que o ar.
O sonho de voar que movia Ícaro, Leonardo da Vinci e Alberto
Santos-Dumont mudou. O 14-Bis, criação que completa um centenário no próximo ano, permitiu
ao homem cruzar os ares. Ao longo dos anos, o avião tornou-se o
mais rápido transporte transatlântico e também um instrumento de guerra. O ato de voar, antes
onírico, burocratizou-se.
São esses meandros que percorre "Enquanto Estiverem Acesos
os Avisos Luminosos", pocket
ópera na qual a trajetória de Santos-Dumont rememora o desejo
do vôo. À frente da produção do
Sesc Ipiranga, que estréia hoje, estão o compositor Arrigo Barnabé,
o dramaturgo francês Bruno Bayen e o desenhista Luiz Gê.
"A história se passa numa viagem entre São Paulo e Paris ou entre Paris e São Paulo. É uma repórter que vai fazer um documentário sobre Santos-Dumont
e, por coincidência, no avião ela se
senta ao lado de um ator que é sósia dele", conta Arrigo Barnabé.
"Santos-Dumont aparece, mas
não é só sobre ele, não é biográfico nem didático. É mais sobre a
aviação e o sonho de voar."
Enquanto conversam, a repórter (Rosana Lamosa) e o sósia do
inventor (João Signorelli) abordam fatos da vida de Dumont -a
infância, os vôos com o 14-Bis, a
melancolia de ver o avião sendo
usado na guerra e o suicídio.
"Ele é um ator que se acha parecido com Santos-Dumont. No desenrolar do espetáculo, vai se confundindo, se incorporando à personalidade do inventor", diz Signorelli, que deu uma pausa de
duas semanas no monólogo
"Gandhi -°Um Líder Servidor".
Quinze números musicais permeiam a pocket ópera. "Tem a ver
com a minha experiência fazendo
música para o cinema. É um tipo
de narrativa", diz Barnabé.
Quem interpreta as composições é a soprano Rosana Lamosa,
que já atuou em óperas de Haydn
e Gounod. "Está sendo uma experiência muito bacana porque o
Arrigo é adorável. E é a oportunidade de fazer uma obra que está
sendo criada agora", afirma.
O sentimento é compartilhado
pela atriz Denise Assunção, que
vive uma aeromoça, além de outros personagens. "É difícil. Parece que eu, que já tenho mais de 36
anos de teatro, comecei agora."
O elenco traz ainda Ambroise
Bayen, 14, além de sete músicos e
um coro com seis cantores regidos pelo tenor Tiago Pinheiro.
Asas e projeções
A emoção do vôo e o lado estético dessa aventura é transposta ao
palco por Luiz Gê, para quem a
"aviação sempre foi algo incrível"
e intrínseco como desenhar.
"Existe uma atração por essa
coisa do ar que é um impulso.
Desde a pré-história o homem espera esse momento. No século 19
estavam surgindo invenções revolucionárias, mas nenhuma delas foi como a de Dumont", diz.
A cenografia criada por Gê consiste em duas grandiosas asas mecânicas de avião dispostas nas laterais da boca do palco. Além de
se movimentarem, servem também como tela para a projeção de
gravações históricas e animações.
"Além dessas novas informações estéticas e dessa questão da
elevação, as imagens trazem informações", conta Gê.
A importância da criação de
Santos-Dumont e a questão do
sonho não deixam de lado o aspecto nebuloso e burocrático do
vôo. "Para nós, que vamos para a
França, ou da Inglaterra para Taiwan, o avião é tratado como uma
coisa qualquer. O único problema
é a segurança e a economia das
companhias", diz Bruno Bayen.
"O avião é maravilhoso. Toda
criança olha para o céu quando o
avião passa e fica maravilhada."
Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos
Onde: teatro Sesc Ipiranga (r. Bom
Pastor, 822, SP, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb.,
às 21h, e dom., às 20h; até 21/8
Quanto: R$ 15
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