São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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POCKET ÓPERA

"Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos" enfoca o aviador

Santos-Dumont decola em SP e revive a fantasia de voar

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mito grego que ganhou do pai um par de asas de cera; um pintor estudioso do vôo dos pássaros que desenhou máquinas voadoras e um inventor que foi o primeiro a sobrevoar o céu numa aeronave mais pesada que o ar.
O sonho de voar que movia Ícaro, Leonardo da Vinci e Alberto Santos-Dumont mudou. O 14-Bis, criação que completa um centenário no próximo ano, permitiu ao homem cruzar os ares. Ao longo dos anos, o avião tornou-se o mais rápido transporte transatlântico e também um instrumento de guerra. O ato de voar, antes onírico, burocratizou-se.
São esses meandros que percorre "Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos", pocket ópera na qual a trajetória de Santos-Dumont rememora o desejo do vôo. À frente da produção do Sesc Ipiranga, que estréia hoje, estão o compositor Arrigo Barnabé, o dramaturgo francês Bruno Bayen e o desenhista Luiz Gê.
"A história se passa numa viagem entre São Paulo e Paris ou entre Paris e São Paulo. É uma repórter que vai fazer um documentário sobre Santos-Dumont e, por coincidência, no avião ela se senta ao lado de um ator que é sósia dele", conta Arrigo Barnabé. "Santos-Dumont aparece, mas não é só sobre ele, não é biográfico nem didático. É mais sobre a aviação e o sonho de voar."
Enquanto conversam, a repórter (Rosana Lamosa) e o sósia do inventor (João Signorelli) abordam fatos da vida de Dumont -a infância, os vôos com o 14-Bis, a melancolia de ver o avião sendo usado na guerra e o suicídio.
"Ele é um ator que se acha parecido com Santos-Dumont. No desenrolar do espetáculo, vai se confundindo, se incorporando à personalidade do inventor", diz Signorelli, que deu uma pausa de duas semanas no monólogo "Gandhi -°Um Líder Servidor".
Quinze números musicais permeiam a pocket ópera. "Tem a ver com a minha experiência fazendo música para o cinema. É um tipo de narrativa", diz Barnabé.
Quem interpreta as composições é a soprano Rosana Lamosa, que já atuou em óperas de Haydn e Gounod. "Está sendo uma experiência muito bacana porque o Arrigo é adorável. E é a oportunidade de fazer uma obra que está sendo criada agora", afirma.
O sentimento é compartilhado pela atriz Denise Assunção, que vive uma aeromoça, além de outros personagens. "É difícil. Parece que eu, que já tenho mais de 36 anos de teatro, comecei agora."
O elenco traz ainda Ambroise Bayen, 14, além de sete músicos e um coro com seis cantores regidos pelo tenor Tiago Pinheiro.

Asas e projeções
A emoção do vôo e o lado estético dessa aventura é transposta ao palco por Luiz Gê, para quem a "aviação sempre foi algo incrível" e intrínseco como desenhar.
"Existe uma atração por essa coisa do ar que é um impulso. Desde a pré-história o homem espera esse momento. No século 19 estavam surgindo invenções revolucionárias, mas nenhuma delas foi como a de Dumont", diz.
A cenografia criada por Gê consiste em duas grandiosas asas mecânicas de avião dispostas nas laterais da boca do palco. Além de se movimentarem, servem também como tela para a projeção de gravações históricas e animações.
"Além dessas novas informações estéticas e dessa questão da elevação, as imagens trazem informações", conta Gê.
A importância da criação de Santos-Dumont e a questão do sonho não deixam de lado o aspecto nebuloso e burocrático do vôo. "Para nós, que vamos para a França, ou da Inglaterra para Taiwan, o avião é tratado como uma coisa qualquer. O único problema é a segurança e a economia das companhias", diz Bruno Bayen. "O avião é maravilhoso. Toda criança olha para o céu quando o avião passa e fica maravilhada."


Enquanto Estiverem Acesos os Avisos Luminosos
Onde:
teatro Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, SP, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 21/8
Quanto: R$ 15


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