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Guerra do Paraguai vira HQ
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
"Sabia que o Osório foi um general
popular, figura humana sensacional, e
que duque de Caxias era um dos melhores estrategistas que já existiu e
tinha uma coragem incrível?"
Quem faz essas perguntas não é
o guia do museu do Exército, mas
alguém do círculo progressista,
que se formou temendo os militares, o antropólogo André Toral,
40, autor da HQ "Adeus, Chamigo Brasileiro - Uma História da
Guerra do Paraguai".
Especialista nos índios de língua
Carajá (que vivem na região do
rio Araguaia), com quem trabalha
desde 1978, Toral dá consultoria
na área de antropologia aplicada,
trabalhou na Funai, fala fluentemente Carajá e desenvolve uma
carreira paralela de autor de HQs.
"É história em quadrinhos, mas
é também literatura. Quadrinhos
para adultos, no Brasil, são sinônimo de quadrinhos eróticos.
Quase não há quadrinhos de autor como na Europa", explica.
Ele começou a publicar histórias em 1986. "O leitor de quadrinhos, no Brasil, depois dos 30
anos, fica órfão. Vai às bancas e o
que encontra são quadrinhos
americanos de sacanagem."
De 1992 a 1997, depois de pesquisar a iconografia da Guerra do
Paraguai para seu doutorado,
produziu o livro "Adeus, Chamigo Brasileiro". Derrubou mitos,
como o de que o Paraguai, uma
"república utópica socialista", era
mais avançado que o Brasil.
Toral pesquisou no Brasil e no
Paraguai. Descobriu que ambos
os países têm uma raiz cultural
forte. Segundo ele, os grupos indígenas são semelhantes, e a toponímia (origem dos nomes próprios de lugar) é comum.
"A memória da Guerra do Paraguai foi incorporada pelo Exército. Para pesquisar, fui dez vezes
melhor recebido no Comando
Militar do Sudeste que na Biblioteca Nacional."
Desenhando a lápis, Toral conta
a história seguindo três personagens: o nordestino negro forçado
a lutar, o carioca romântico inspirado em um personagem de Machado de Assis, e um estudante
paraguaio que volta de Paris para
defender a soberania de seu país.
Traçando um audacioso paralelo entre Toral e o desenhista norte-americano Frank Miller, que
acaba de publicar "Os 300 de Esparta", um HQ também baseado
em história, o brasileiro explica:
"Ele publicou sem referência de
roupa, comportamento e ambiente. Ele faz HQ sem sair da mesa. Nada de cultura local. Fez uma
história sem contar história."
Livro: Adeus, Chamigo Brasileiro - Uma
História da Guerra do Paraguai
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 33 (128 págs.)
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