São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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Guerra do Paraguai vira HQ

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha


"Sabia que o Osório foi um general popular, figura humana sensacional, e que duque de Caxias era um dos melhores estrategistas que já existiu e tinha uma coragem incrível?"
Quem faz essas perguntas não é o guia do museu do Exército, mas alguém do círculo progressista, que se formou temendo os militares, o antropólogo André Toral, 40, autor da HQ "Adeus, Chamigo Brasileiro - Uma História da Guerra do Paraguai".
Especialista nos índios de língua Carajá (que vivem na região do rio Araguaia), com quem trabalha desde 1978, Toral dá consultoria na área de antropologia aplicada, trabalhou na Funai, fala fluentemente Carajá e desenvolve uma carreira paralela de autor de HQs.
"É história em quadrinhos, mas é também literatura. Quadrinhos para adultos, no Brasil, são sinônimo de quadrinhos eróticos. Quase não há quadrinhos de autor como na Europa", explica.
Ele começou a publicar histórias em 1986. "O leitor de quadrinhos, no Brasil, depois dos 30 anos, fica órfão. Vai às bancas e o que encontra são quadrinhos americanos de sacanagem."
De 1992 a 1997, depois de pesquisar a iconografia da Guerra do Paraguai para seu doutorado, produziu o livro "Adeus, Chamigo Brasileiro". Derrubou mitos, como o de que o Paraguai, uma "república utópica socialista", era mais avançado que o Brasil.
Toral pesquisou no Brasil e no Paraguai. Descobriu que ambos os países têm uma raiz cultural forte. Segundo ele, os grupos indígenas são semelhantes, e a toponímia (origem dos nomes próprios de lugar) é comum.
"A memória da Guerra do Paraguai foi incorporada pelo Exército. Para pesquisar, fui dez vezes melhor recebido no Comando Militar do Sudeste que na Biblioteca Nacional."
Desenhando a lápis, Toral conta a história seguindo três personagens: o nordestino negro forçado a lutar, o carioca romântico inspirado em um personagem de Machado de Assis, e um estudante paraguaio que volta de Paris para defender a soberania de seu país.
Traçando um audacioso paralelo entre Toral e o desenhista norte-americano Frank Miller, que acaba de publicar "Os 300 de Esparta", um HQ também baseado em história, o brasileiro explica:
"Ele publicou sem referência de roupa, comportamento e ambiente. Ele faz HQ sem sair da mesa. Nada de cultura local. Fez uma história sem contar história."


Livro: Adeus, Chamigo Brasileiro - Uma História da Guerra do Paraguai Lançamento: Companhia das Letras Quanto: R$ 33 (128 págs.)

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