São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chacrinha mudou a música dos 60, 70 e 80

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi só para a formatação conceitual da tropicália -como Caetano Veloso e Gilberto Gil assumiam já nos primórdios do movimento- que, em terreno musical, a algazarra dos programas de Chacrinha foi de grande utilidade.
Ela também serviu como vitrine fundamental para que tanto os artistas da chamada música "cafona" dos anos 70 quanto a geração do rock dos 80 atingissem o público.
"Muitas bandas da primeira geração dos 80 -como a Blitz e os Titãs- eram muito visuais. E, por isso, se fortaleceram bastante com o Chacrinha", afirma Ricardo Alexandre, autor do livro "Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80".
O efeito, diz Alexandre, era visto nos shows, no formato de público. "Segundo as contas do Evandro Mesquita, uma única aparição no programa costumava render um mês de agenda cheia para as bandas."
Não era muito diferente no começo da década anterior, quando artistas como Odair José e Chico Buarque eram tratados sem grandes diferenciações pelo apresentador.
"Os programas do Chacrinha foram o espaço mais includente e democrático da música brasileira", diz Paulo César de Araújo, autor de "Eu Não Sou Cachorro, Não - Música Popular Cafona e Ditadura Militar".
Araújo aponta essa liberdade como a principal causa da saída de Chacrinha da TV Globo, em 1972 (ele retornaria à emissora nos anos 80). "O projeto da Globo -e da ditadura- era tirar do vídeo aquela imagem e aquele som ligados à pobreza."
Quando o programa saiu do ar e o apresentador passou a perambular por outros canais de TV, os "bregas" perderam sua principal porta de entrada nas casas da classe média.
Dali em diante, e por toda aquela década, sobrou a esses cantores o radinho de pilha da empregada e o racha entre "MPB de elite" e "música cafona" se fortaleceu. Com Chacrinha por perto, o apartheid na música era bem menor.


Texto Anterior: Troféu abacaxi
Próximo Texto: Análise: Chacrinha ainda buzinaria a moça e comandaria a massa?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.