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Chacrinha mudou a música dos 60, 70 e 80
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi só para a formatação
conceitual da tropicália -como
Caetano Veloso e Gilberto Gil
assumiam já nos primórdios do
movimento- que, em terreno
musical, a algazarra dos programas de Chacrinha foi de grande
utilidade.
Ela também serviu como vitrine fundamental para que
tanto os artistas da chamada
música "cafona" dos anos 70
quanto a geração do rock dos
80 atingissem o público.
"Muitas bandas da primeira
geração dos 80 -como a Blitz e
os Titãs- eram muito visuais.
E, por isso, se fortaleceram bastante com o Chacrinha", afirma
Ricardo Alexandre, autor do livro "Dias de Luta - O Rock e o
Brasil dos Anos 80".
O efeito, diz Alexandre, era
visto nos shows, no formato de
público. "Segundo as contas do
Evandro Mesquita, uma única
aparição no programa costumava render um mês de agenda
cheia para as bandas."
Não era muito diferente no
começo da década anterior,
quando artistas como Odair José e Chico Buarque eram tratados sem grandes diferenciações pelo apresentador.
"Os programas do Chacrinha
foram o espaço mais includente e democrático da música
brasileira", diz Paulo César de
Araújo, autor de "Eu Não Sou
Cachorro, Não - Música Popular Cafona e Ditadura Militar".
Araújo aponta essa liberdade
como a principal causa da saída
de Chacrinha da TV Globo, em
1972 (ele retornaria à emissora
nos anos 80). "O projeto da Globo -e da ditadura- era tirar do
vídeo aquela imagem e aquele
som ligados à pobreza."
Quando o programa saiu do
ar e o apresentador passou a
perambular por outros canais
de TV, os "bregas" perderam
sua principal porta de entrada
nas casas da classe média.
Dali em diante, e por toda
aquela década, sobrou a esses
cantores o radinho de pilha da
empregada e o racha entre
"MPB de elite" e "música cafona" se fortaleceu. Com Chacrinha por perto, o apartheid na
música era bem menor.
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