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LITERATURA
O norte-americano Yusef Komunyakaa, Prêmio Pulitzer em 1994, promove lançamento de revista
Poeta "do blues" recita sua ternura violenta
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa no Google, o
principal buscador da internet,
dimensiona a situação: quem digita as palavras "poeta Yusef Komunyakaa" encontra uma única
ocorrência em português.
Komunyakaa, 46, ganhador do
Pulitzer em 1994 e professor em
Princeton, é uma das vozes mais
contundentes e respeitadas da nova poesia dos EUA. E um anônimo no Brasil, onde nenhum dos
seus 11 livros foi editado.
Em São Paulo para o lançamento do último número da revista
americana "Rattapallax", ele participa de duas leituras de poemas:
uma hoje à noite, no Sesc Pompéia, e outra na quinta, no Centro
Universitário Maria Antônia.
Um grupo de poetas brasileiros
-entre eles Joca Reiners Terron,
em cujo blog estava a única ocorrência do Google, Edwin Torres,
Flávia Rocha e Claudia Roquette-Pinto- traduziu versos de Komunyakaa para a ocasião.
Quem lê-los encontrará violência e ternura de mãos dadas, casamento que pode ser explicado pela turbulenta biografia do escritor.
Filho mais velho de uma família
negra de Bogalusa, Louisiana, via
na infância o pai espancar a mãe,
que fugiu de casa. Em 1969, aos
22, foi convocado para combater
no Vietnã, onde foi repórter e editor de um jornal militar. Em julho
passado, a mulher de Komunyakaa, a também poeta Reetika Vazimani, suicidou-se e matou o filho deles, de dois anos, assunto
sobre o qual o escritor se recusa a
falar.
"Como a carne grudada no osso, a ternura se mede com a violência por contraste. Não digo que
alguém tem de experimentar a
violência para conhecer a ternura,
mas uma realça a outra. Os extremos vivem lado a lado: o ser humano é capaz de qualquer coisa",
disse Komunyakaa à Folha.
A infância sofrida e o racismo
da região onde cresceu exercem
tanta influência na obra do poeta
quanto a música do sul dos EUA.
"Eu sou do que o blues é feito.
Formada com sangue e ossos da
Louisiana, a terra canta por ela
própria", afirmou o escritor.
Sobre a indiferença brasileira
com sua obra, é irônico: "Não sei
[por que não é publicado aqui].
Sou bem publicado no Vietnã, na
Itália, na Polônia, na França etc.
Não acredito que meu trabalho
seja tão difícil para ser traduzido
para a cultura brasileira".
Outra ironia é sua lista de escritores brasileiros favoritos. Na
poesia, Drummond e João Cabral;
na prosa, Paulo Coelho. "Seu "O
Alquimista" acendeu meu espírito
imaginativo", justifica.
Co-responsável por uma antologia de poesia contemporânea
brasileira editada nos EUA -publicada parcialmente na "Rattapallax"-, a poeta Flávia Rocha
articula com a editora 34, que
trouxe a revista ao Brasil, a tradução de Komunyakaa.
Rocha traduziu um dos poemas
que serão lidos hoje, "Armadilhas
para Mosca". Um trecho: "As flores enormes nos meus sonhos/
São grandes como o Primeiro
Banco Estatal/E elas comem todo
mundo/Menos os que eu amo./
Elas têm nome de mulher/Com
bocas iguais ao lugar/De onde
saem os bebês".
(FÁBIO VICTOR)
LEITURA DE POEMAS DE YUSEF
KOMUNYAKAA e LANÇAMENTO DA
REVISTA RATTAPALLAX. Quando: hoje,
às 19h, no Sesc Pompéia, e quinta, às
20h, no Centro Universitário Maria
Antônia. Quanto: grátis.
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