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DVD
Original retrata a paranóia da Guerra Fria
GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Se a versão de Jonathan
Demme para "Sob o Domínio do Mal" pode mostrar um
certo descompasso com a vontade dos Estados Unidos que
referendaram George W. Bush
na Presidência, a versão original de John Frankenheimer, de
1962, época em que John Kennedy (1917-1963) ocupava a Casa Branca, consegue captar
com excelência os efeitos da
paranóia da Guerra Fria.
Os dois principais eixos políticos do filme -a lavagem cerebral feita por russos e chineses em um grupo de combatentes americanos durante a Guerra da Coréia (1950-1953), com o
objetivo de criar uma arma humana perfeita capaz de interferir nas eleições presidenciais
dos EUA, e o anticomunismo
aparvalhado do senador John
Iselin, uma alegoria irônica do
macarthismo- funcionam como espelhos dos medos da
época.
A trama original gira em torno do sargento Raymond Shaw
(Laurence Harvey), enteado do
senador Iselin, que volta da
guerra na Coréia como herói,
sem saber que na verdade foi
programado para matar pelos
inimigos. Dez anos depois, seu
superior na guerra, major Marco (Frank Sinatra), tem pesadelos que o levam a desconfiar do
que teria acontecido na Coréia.
Mas a genialidade de Frankenheimer está em extrapolar esse clima de paranóia do plano
político para o pessoal.
Todos os personagens são,
em maior ou menor medida,
contaminados em sua vida privada pela tensão política.
Se essa tensão aparece nos
grandes relacionamentos, como o de Shaw com sua mãe, a
estrategista por trás do senador
Iselin, ela está presente também em conflitos menores, como no encontro do major Marco com Eugenie Rose (Janet
Leigh) em um trem para Nova
York, com suas falas comedidas, de leitura dúbia.
Ao casar política e intimidade
sob o signo do medo, Frankenheimer faz um dos melhores
suspenses políticos do cinema.
Sob o Domínio do Mal
The Manchurian Candidade
Direção: John Frankenheimer
Produção: EUA, 1962
Quanto: R$ 40, em média
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