São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2004

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DVD

Original retrata a paranóia da Guerra Fria

GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Se a versão de Jonathan Demme para "Sob o Domínio do Mal" pode mostrar um certo descompasso com a vontade dos Estados Unidos que referendaram George W. Bush na Presidência, a versão original de John Frankenheimer, de 1962, época em que John Kennedy (1917-1963) ocupava a Casa Branca, consegue captar com excelência os efeitos da paranóia da Guerra Fria.
Os dois principais eixos políticos do filme -a lavagem cerebral feita por russos e chineses em um grupo de combatentes americanos durante a Guerra da Coréia (1950-1953), com o objetivo de criar uma arma humana perfeita capaz de interferir nas eleições presidenciais dos EUA, e o anticomunismo aparvalhado do senador John Iselin, uma alegoria irônica do macarthismo- funcionam como espelhos dos medos da época.
A trama original gira em torno do sargento Raymond Shaw (Laurence Harvey), enteado do senador Iselin, que volta da guerra na Coréia como herói, sem saber que na verdade foi programado para matar pelos inimigos. Dez anos depois, seu superior na guerra, major Marco (Frank Sinatra), tem pesadelos que o levam a desconfiar do que teria acontecido na Coréia.
Mas a genialidade de Frankenheimer está em extrapolar esse clima de paranóia do plano político para o pessoal.
Todos os personagens são, em maior ou menor medida, contaminados em sua vida privada pela tensão política.
Se essa tensão aparece nos grandes relacionamentos, como o de Shaw com sua mãe, a estrategista por trás do senador Iselin, ela está presente também em conflitos menores, como no encontro do major Marco com Eugenie Rose (Janet Leigh) em um trem para Nova York, com suas falas comedidas, de leitura dúbia.
Ao casar política e intimidade sob o signo do medo, Frankenheimer faz um dos melhores suspenses políticos do cinema.


Sob o Domínio do Mal
The Manchurian Candidade
    
Direção: John Frankenheimer
Produção: EUA, 1962
Quanto: R$ 40, em média



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