São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005

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CINEMA

Biografia expõe o código de conduta social a que os atores gays, como Rock Hudson, se submetiam nos EUA nos anos 50

Livro revela regras de astros de Hollywood

GREGG KILDAY
DA REUTERS, EM LOS ANGELES

Henry Willson, o agente que orientou a carreira de Rock Hudson e a de outros bonitões de Hollywood, tinha regras para seus clientes homossexuais. "Não é possível que dois homens vivam juntos e mantenham carreiras em Hollywood", ele aconselhou a um dos atores que representava, nos anos 50. "Não é permitido. Você arruinará tudo se decidir viver com esse homem."
Se Willson, que morreu em 1978, ainda fosse vivo, as mudanças na atitude de Hollywood para com os homossexuais provavelmente o deixariam sem fala. Ainda que nenhum astro de primeira grandeza tenha decidido até agora contestar a crença, defendida por Wilson durante muito tempo, de que a audiência não aceitaria um galã abertamente gay, quanto à maioria dos demais aspectos o cenário mudou muito.
"Brokeback Mountain", de Ang Lee, uma história de dois homens que lutam contra a atração que sentem um pelo outro, foi o grande vencedor do Festival de Veneza deste ano. Interpretações como a de Philip Seymour Hoffman no papel do personagem-título de "Capote" e o desempenho de Cillian Murphy como um travesti em "Café da Manhã em Plutão" têm atraído elogios.
Em contraste, os anos 50, quando Hudson reinava como principal atração nas bilheterias norte-americanas e Willson surgia como um dos mais poderosos agentes de Hollywood, eram muito mais rígidos e reservados. Não se tratava exatamente de uma década inocente, no entanto, porque a época também era caracterizada por uma cultura gay subterrânea, com seus códigos e costumes.
No recém-publicado "The Man Who Invented Rock Hudson: The Pretty Boys and Dirty Deals of Henry Willson" [o homem que inventou Rock Hudson: os meninos bonitos e negócios sujos de Henry Willson], Robert Hofler oferece um relato fascinante e compulsivamente legível de uma era que contrasta com a nossa.
Willson começou a aparecer em Hollywood por volta dos anos 40, quando se tornou diretor de seleção de elenco para o produtor David O. Selznick ("...E o Vento Levou"). Com a chegada dos anos 50, Willson se estabeleceu por conta própria e passou a trabalhar como agente de um grupo cada vez maior de astros másculos que tinham grande apelo entre as jovens, responsáveis por boa parte do dinheiro gasto em cinema.
Mas o agente se tornara também figura controversa. Quando a revista de fofocas "Confidential" ameaçou expor o homossexualismo de Hudson, Wilson evitou o escândalo passando à revista dados sobre a ficha policial do ator Rory Calhoun e a presença de seu colega Tab Hunter em uma "festa do pijama" para rapazes.
Willson, gay mas homófobo e conservador em termos políticos, não assumia em público sua homossexualidade -a filha do presidente Harry Truman, Margaret, era uma das muitas mulheres que apresentava como "noivas". Mas sua reputação pela ousadia sexual não era segredo em Hollywood, a ponto de, anos depois, muitos de seus clientes, gays e héteros, negarem que ele os tivesse atendido.
Mesmo assim, Hofler defende bem a teoria de que Wilson, se não era uma figura elogiável, teve papel importante. Magnatas mulherengos do cinema como Selznick e Darryl Zanuck talvez tivessem competência para identificar as futuras estrelas de seus estúdios. Mas, em uma era em que não existiam executivas no ramo, Willson e outros agentes homossexuais assumiram a responsabilidade por identificar astros que atraíam as espectadoras aos cinemas. Em resumo, transformaram em ouro os ídolos das matinês.


The Man Who Invented Rock Hudson
Autor:
Robert Hofler
Editora: Avalon
Quanto: US$ 26 (460 págs.), na Amazon (www.amazon.com)

Tradução Paulo Migliacci


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