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CINEMA
Biografia expõe o código de conduta social a que os atores gays, como Rock Hudson, se submetiam nos EUA nos anos 50
Livro revela regras de astros de Hollywood
GREGG KILDAY
DA REUTERS, EM LOS ANGELES
Henry Willson, o agente que
orientou a carreira de Rock Hudson e a de outros bonitões de
Hollywood, tinha regras para seus
clientes homossexuais. "Não é
possível que dois homens vivam
juntos e mantenham carreiras em
Hollywood", ele aconselhou a um
dos atores que representava, nos
anos 50. "Não é permitido. Você
arruinará tudo se decidir viver
com esse homem."
Se Willson, que morreu em
1978, ainda fosse vivo, as mudanças na atitude de Hollywood para
com os homossexuais provavelmente o deixariam sem fala. Ainda que nenhum astro de primeira
grandeza tenha decidido até agora contestar a crença, defendida
por Wilson durante muito tempo,
de que a audiência não aceitaria
um galã abertamente gay, quanto
à maioria dos demais aspectos o
cenário mudou muito.
"Brokeback Mountain", de Ang
Lee, uma história de dois homens
que lutam contra a atração que
sentem um pelo outro, foi o grande vencedor do Festival de Veneza deste ano. Interpretações como
a de Philip Seymour Hoffman no
papel do personagem-título de
"Capote" e o desempenho de Cillian Murphy como um travesti
em "Café da Manhã em Plutão"
têm atraído elogios.
Em contraste, os anos 50, quando Hudson reinava como principal atração nas bilheterias norte-americanas e Willson surgia como um dos mais poderosos agentes de Hollywood, eram muito
mais rígidos e reservados. Não se
tratava exatamente de uma década inocente, no entanto, porque a
época também era caracterizada
por uma cultura gay subterrânea,
com seus códigos e costumes.
No recém-publicado "The Man
Who Invented Rock Hudson: The
Pretty Boys and Dirty Deals of
Henry Willson" [o homem que
inventou Rock Hudson: os meninos bonitos e negócios sujos de
Henry Willson], Robert Hofler
oferece um relato fascinante e
compulsivamente legível de uma
era que contrasta com a nossa.
Willson começou a aparecer em
Hollywood por volta dos anos 40,
quando se tornou diretor de seleção de elenco para o produtor David O. Selznick ("...E o Vento Levou"). Com a chegada dos anos
50, Willson se estabeleceu por
conta própria e passou a trabalhar
como agente de um grupo cada
vez maior de astros másculos que
tinham grande apelo entre as jovens, responsáveis por boa parte
do dinheiro gasto em cinema.
Mas o agente se tornara também figura controversa. Quando
a revista de fofocas "Confidential"
ameaçou expor o homossexualismo de Hudson, Wilson evitou o
escândalo passando à revista dados sobre a ficha policial do ator
Rory Calhoun e a presença de seu
colega Tab Hunter em uma "festa
do pijama" para rapazes.
Willson, gay mas homófobo e
conservador em termos políticos,
não assumia em público sua homossexualidade -a filha do presidente Harry Truman, Margaret,
era uma das muitas mulheres que
apresentava como "noivas". Mas
sua reputação pela ousadia sexual
não era segredo em Hollywood, a
ponto de, anos depois, muitos de
seus clientes, gays e héteros, negarem que ele os tivesse atendido.
Mesmo assim, Hofler defende
bem a teoria de que Wilson, se
não era uma figura elogiável, teve
papel importante. Magnatas mulherengos do cinema como Selznick e Darryl Zanuck talvez tivessem competência para identificar
as futuras estrelas de seus estúdios. Mas, em uma era em que
não existiam executivas no ramo,
Willson e outros agentes homossexuais assumiram a responsabilidade por identificar astros que
atraíam as espectadoras aos cinemas. Em resumo, transformaram
em ouro os ídolos das matinês.
The Man Who Invented Rock Hudson
Autor: Robert Hofler
Editora: Avalon
Quanto: US$ 26 (460 págs.), na Amazon
(www.amazon.com)
Tradução Paulo Migliacci
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