São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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TRECHO

Voltamos à garçonnière.
Somos amantes. Não
podemos parar de amar.
Às vezes não volto ao
pensionato, durmo ao lado
dele. Não quero dormir em
seus braços, em seu calor, mas
durmo no mesmo quarto, na
mesma cama. Às vezes falto
ao liceu. À noite vamos comer
na cidade. Ele me dá banho,
me lava, me enxágua, ele
adora, ele me maquila e me
veste, ele me adora. Sou a
preferida de sua vida. Ele vive
no terror de que eu encontre
outro homem. Já eu não tenho
medo de nada parecido,
nunca. Ele sente ainda outro
medo, não porque sou branca,
mas porque sou tão jovem,
tão jovem que ele poderia ser
preso se descobrissem nossa
história. Ele me diz para
continuar a mentir para
minha mãe e sobretudo para
meu irmão mais velho, para
não dizer nada a ninguém.
Continuo a mentir. Rio de seu
medo. Digo que somos pobres
demais para que a mãe possa
tentar processá-lo, que aliás
ela perdeu todos os processos
que tentou, contra o
cadastramento, contra os
administradores, contra os
governantes, contra a lei.

Extraído de "O Amante", de Marguerite Duras

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