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MÚSICA
Ritmo é tendência para 1998
MPB recebe
minhocas
com cérebro
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
As "minhocas com cérebro" e a
nova canção de protesto chegam a
1998 como candidatas a grandes
novidades do ano em música popular brasileira. Quem aponta são
os pré-cronogramas de lançamentos das grandes gravadoras para o
ano que se abre.
Reprocessando o conceito de
"caranguejos com cérebro" fundado entre 93 e 94 pelos pernambucanos do mangue beat, a banda
Boato, nascida no Rio de Janeiro,
elabora a intenção de aprender como fazer música com as minhocas.
Líder-ideólogo da banda, o capixaba de Cachoeiro do Itapemirim
Cabelo, 30, também artista plástico emergente, explica o conceito:
"Eu fui criador de minhoca na
roça. O gado produz excremento,
você não tem nada para fazer com
aquela merda toda. Então leva a
um canteiro e coloca uma espécie
de minhoca que transforma aquilo
tudo em húmus, que é o melhor
adubo orgânico que existe."
Da minhoca, ele chega à música:
"Isso é metáfora do trabalho que a
gente faz. Na civilização produtora
de dejetos, temos de ter a propriedade alquímica da minhoca, de
transformar merda em húmus".
As idéias do Boato -de onde
veio também Pedro Luís, uma das
revelações de 97- se expressam
em letras como a de "O Berro da
Cabra": "Minhoca que sou/ Vou
comendo as porcaria/ Transformo
tudo em húmus/ Em 45 dias/ Tenho os pés nas nuvens/ Os óio
plantado na terra/ Germina o cabrito/ Brota a cabra berra, bééé".
Cabelo explica quais levadas a
banda, montada há oito anos, usa
para ninar a ideologia: "Boato não
faz rock, faz pedra, no nosso solo.
É roots, rock & reggae, tambor,
África, reggae-rock-xote-funk".
Música de protesto
As ideologias mirabolantes não
são as que predominam, entretanto, no elenco de estreantes de 98. O
que se aponta como tendência dos
novos contratos das gravadoras é o
veio exposto por bandas como
Planet Hemp e Racionais MC's.
Ao menos três novas bandas
-todas fincadas no Rio de Janeiro- trazem em comum a preocupação com questões sociais vividas
na própria pele: Squaws, Funk
Fuckers e Cabeça de Nego.
"Fazemos um som bem variado,
com rock, hip hop, dub, trip hop.
Somos irreverentes, protestamos
muito contra problemas sociais,
políticos", diz Alexandre MZ, 28,
baixista e produtor do CD dos
Squaws, banda que reúne músicos
nascidos em Curitiba, São Paulo e
Rio. A convicção, segundo MZ, é
de quem já morou na favela do Vidigal e conheceu de perto "a injustiça que rola no morro".
Integrantes da confraria de Planet Hemp e O Rappa, os Squaws
deixam a bandeira da maconha
para os primeiros. "Nós estamos
mais ligados à injustiça social."
Funk Fuckers, banda formada
em 93, é para a mídia a caçula desse
mesmo circuito. "Todo mundo
começou junto, nós, Planet Hemp,
O Rappa. Só faltava a gente dar
certo", diz B. Negão, 23, líder da
banda. A cama musical é, segundo
ele, a do rap-repente, com influências de Jackson do Pandeiro e Bezerra da Silva a funk e Miami bass.
"Nosso enfoque não é como o
do Planet Hemp. O que
a maconha é para eles,
a mulher é para a gente. O enfoque é na sacanagem. Até falamos de
maconha, mas não nos
aprofundamos", afirma.
Da Baixada Fluminense, vem o Cabeça
de Nego, sexteto empenhado em timbres
que transitam do rock
ao reggae, com a preocupação máxima de fazer dançar.
"Nossa base é a Baixada, somos da classe
pobre legal, trabalhadora", define o percussionista Biguli, 28.
"Nossas letras se baseiam na nossa vida, da
parte romântica e dos
conflitos sociais, do racismo, da pobreza."
Quem, ainda que
também carioca, sai da
linha groove/questões
sociais e se coloca quase na contramão das
modas do momento é a
banda Berro, apadrinhada pelo
produtor e jornalista Ezequiel Neves, antes eminência parda do Barão Vermelho. "É pop-rock, com
abertura para batidas eletrônicas,
modernas", define Rodrigo Big,
23, cantor e letrista do Berro.
Ele diz que a banda despreza, em
parte, a tendência pela mistura de
referências universais que caracterizam o pop dos anos 90. "A mistura de ritmos é uma marca, mas é
uma coisa que não usamos. Se há
influência de música brasileira na
gente é do Barão, da Rita Lee, do
rock. Como vou misturar se minha
cultura é rock?"
Big admite que a opção pelo rock
afasta em certa medida a banda da
dita vanguarda. "Sob certos aspectos, não estamos na vanguarda, absolutamente. Tem vanguarda que é chata pra caramba, e o público de forma geral está pouco se
importando com ela."
Fundamentos lançados, falta aos
"novatos" mostrarem suas músicas para provarem -ou não- as
cartas de intenções.
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