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RECEITAS DO MELLÃO
O Peixoto é um bebum
HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha
O botequim é o único reduto da
masculinidade. E digo mais: somente quando o homem encosta
os seus dois cotovelos no balcão de
um boteco sórdido é que ele está
em comunhão com sua unicidade
e plenitude astral.
Esse tipo de estabelecimento exige características singulares e difíceis de serem achadas em conjunto. Só isso já explica a falta de verdadeiros botequins em Sampa,
uma cidade onde a tradição perde,
de lavada, para o consumismo fácil
dos modismos.
Frequento, há anos, um bar em
Tatuí chamado Estudantes Paulistas. O nome não traduz a real condição acadêmica dos seus fiéis,
mas isso é só um detalhe, e o grande botequim é feito de detalhes.
Tento descrever a fauna imprescindível para o bom andamento do
negócio: pelo menos um gago, ou
fanho, ou parvo, sentado num canto tomando tubaína e só dizendo
algo quando arguido. Mulheres,
jamais. No máximo duas ou três
mercenárias do amor em passagens relâmpago, combinando programas para após.
Excêntricos do tipo bancários
que fazem, de cabeça, contas de zilhões ou especialistas em línguas
mortas são sempre bem-vindos. O
ganhador da loteria que está torrando até o último tostão, contando vantagem e pagando bebidas
para todos, é tão indispensável
quanto o corno da vez.
No mais, abonados, remediados
e o lumpanato dividem fraternalmente entre si e as moscas (porque
boteco tem que ter muita mosca) a
cerveja e a cachaça. Nisso reside o
verdadeiro exercício da fraternidade bíblica, pois o preço da cerveja é
único e o ingresso, livre.
O décor é importantíssimo e
sempre inclui um descascado e iluminado São Jorge matando o dragão, sal grosso jogado nos cantos e
um vaso com arruda e comigo-ninguém-pode, flâmulas de todos
os times para não criar cizânias ludopédicas e uma televisão em preto-e-branco, sem som.
No Estudantes Paulistas, o Peixoto comanda o show atrás do balcão, criando suas horrorosas batidas, como a Xixi de Anjo, Suor de
Virgem e Amansa Corno. Como
ninguém as pede, ele passa o dia
tomando essas alquimias, mas no
final da noite ainda é capaz de nos
levar, de carro, para casa.
Por ser muito meu amigo, e eu
não contar a todos os leitores que
ele é um bebum, tenho certeza que
o Peixotão vai rasgar a conta paquidérmica que eu tenho lá.
Bolinhos de mandioca Estudantes Paulistas:
1 kg de mandioca;
2 ovos;
1 colher
de sopa de manteiga;
farinha de
rosca que baste,
óleo para fritura,
sal grosso,
punhado de alecrim e
salsinha picada.
Cozinhe a mandioca em água e sal até ficar macia.
Escorra, retire os fios mais grossos
e passe pelo espremedor de batatas. Misture com a manteiga,
acrescente os ovos e bata bem. Forme os bolinhos, role na farinha de
rosca. Acrescente o alecrim e a salsa. Frite em óleo bem quente e
abundante e escorra em papel-toalha. Sirva com molho de pimenta.
E-mail: mellao@uol.com.br
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