São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITAS DO MELLÃO
O Peixoto é um bebum

HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha

O botequim é o único reduto da masculinidade. E digo mais: somente quando o homem encosta os seus dois cotovelos no balcão de um boteco sórdido é que ele está em comunhão com sua unicidade e plenitude astral.
Esse tipo de estabelecimento exige características singulares e difíceis de serem achadas em conjunto. Só isso já explica a falta de verdadeiros botequins em Sampa, uma cidade onde a tradição perde, de lavada, para o consumismo fácil dos modismos.
Frequento, há anos, um bar em Tatuí chamado Estudantes Paulistas. O nome não traduz a real condição acadêmica dos seus fiéis, mas isso é só um detalhe, e o grande botequim é feito de detalhes.
Tento descrever a fauna imprescindível para o bom andamento do negócio: pelo menos um gago, ou fanho, ou parvo, sentado num canto tomando tubaína e só dizendo algo quando arguido. Mulheres, jamais. No máximo duas ou três mercenárias do amor em passagens relâmpago, combinando programas para após.
Excêntricos do tipo bancários que fazem, de cabeça, contas de zilhões ou especialistas em línguas mortas são sempre bem-vindos. O ganhador da loteria que está torrando até o último tostão, contando vantagem e pagando bebidas para todos, é tão indispensável quanto o corno da vez.
No mais, abonados, remediados e o lumpanato dividem fraternalmente entre si e as moscas (porque boteco tem que ter muita mosca) a cerveja e a cachaça. Nisso reside o verdadeiro exercício da fraternidade bíblica, pois o preço da cerveja é único e o ingresso, livre.
O décor é importantíssimo e sempre inclui um descascado e iluminado São Jorge matando o dragão, sal grosso jogado nos cantos e um vaso com arruda e comigo-ninguém-pode, flâmulas de todos os times para não criar cizânias ludopédicas e uma televisão em preto-e-branco, sem som.
No Estudantes Paulistas, o Peixoto comanda o show atrás do balcão, criando suas horrorosas batidas, como a Xixi de Anjo, Suor de Virgem e Amansa Corno. Como ninguém as pede, ele passa o dia tomando essas alquimias, mas no final da noite ainda é capaz de nos levar, de carro, para casa.
Por ser muito meu amigo, e eu não contar a todos os leitores que ele é um bebum, tenho certeza que o Peixotão vai rasgar a conta paquidérmica que eu tenho lá.


Bolinhos de mandioca Estudantes Paulistas:
1 kg de mandioca;
2 ovos;
1 colher de sopa de manteiga;
farinha de rosca que baste,
óleo para fritura,
sal grosso,
punhado de alecrim e salsinha picada.

Cozinhe a mandioca em água e sal até ficar macia. Escorra, retire os fios mais grossos e passe pelo espremedor de batatas. Misture com a manteiga, acrescente os ovos e bata bem. Forme os bolinhos, role na farinha de rosca. Acrescente o alecrim e a salsa. Frite em óleo bem quente e abundante e escorra em papel-toalha. Sirva com molho de pimenta.

E-mail: mellao@uol.com.br


Texto Anterior: Restaurante Crítica - Josimar Melo: Napoleone esbanja luxo em caro cardápio
Próximo Texto: Wilde
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.