São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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O artista, um dos mais cultuados do Japão em sua área, apresenta cem cartazes inéditos no Brasil criados desde os anos 60
Tanaka leva 30 anos de design ao Masp

CAMILA VIEGAS
especial para a Folha

Um dos designers mais celebrados da atualidade, o japonês Ikko Tanaka prepara sua primeira exposição no Brasil. A mostra apresentará cem pôsteres produzidos desde os anos 60 e abre no dia 1º de março no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Tanaka confirmou presença na abertura e numa palestra organizada pela ADG (Associação dos Designers Gráficos) marcada para 2 de março. Depois de São Paulo, a mostra será montada no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio.
O designer esteve no Brasil em 1991 para fazer parte do júri que escolheu o cartaz da 22ª Bienal de São Paulo. "Fiquei impressionado com a abertura e o otimismo dos brasileiros e gostei muito de samba", disse ele.
Tanaka projeta seus cartazes por subtração, preocupado com a precisão e a economia dos elementos de uma composição. Quando foi questionado sobre a obra de Tadanori Yokoo, outro desenhista importante no Japão, confirmou seu processo criativo. "Gosto do trabalho do sr. Yokoo. É forte. Mas minha maneira de trabalhar é oposta à dele. Ele expressa e inclui todos seus pensamentos na obra. Eu elimino elementos e tento simplificar."
Leia entrevista feita por fax, enviada do Japão.

Folha - Como será a exposição?
Ikko Tanaka -
A mostra do Masp reunirá meus melhores trabalhos realizados nos últimos 30 anos e privilegia a tipografia. Como os brasileiros não lêem caracteres Kanji estou um pouco receoso. Mas nós japoneses apreciamos os cartazes brasileiros sem entender as letras.
Não sei se meus trabalhos serão aceitos ou não até a exposição começar. O Brasil é um país grande.
Expressões pequenas não serão captadas pelos brasileiros que estão acostumados a escalas tão grandes. Elementos como flores, pássaros, vento e lua (retirados da pintura tradicional japonesa) podem não ser reconhecidos nos espaços abertos do território brasileiro.
Folha - O que um bom cartaz deve ter?
Tanaka -
O mais importante é a idéia. Um pôster é feito de uma folha de papel. Tudo deve ser dito nessa folha de papel. Selecionar os elementos necessários para o cartaz não é fácil, mas ao mesmo tempo é o que mais me interessa no design de pôsteres. Essa limitação pode ser considerada ao mesmo tempo uma vantagem interessante e desafiadora e uma desvantagem.
Folha - Como o sr. pondera cor, forma, composição e tipografia para lidar com a dicotomia beleza e comunicação?
Tanaka -
Beleza e comunicação são igualmente importantes. Tipografia e imagens devem ser combinadas com harmonia e equilíbrio.
Folha - O sr. concorda que um pôster sintetiza não só uma mensagem mas também seu momento histórico?
Tanaka -
Sim. Não importa quão bom é o desenho, um trabalho não pode ser considerado bom se não reflete a época em que foi concebido. Gosto de olhar para meus próprios trabalhos depois de um longo período.
Folha - O designer Lou Dorfsman escreveu que o sr. é referência de originalidade desde os anos 60. Como o sr. manteve seu trabalho na vanguarda?
Tanaka -
Não me considero um designer de vanguarda. Acho até que meu trabalho é ortodoxo. Mantenho minha obra atual porque considero estimulante o trabalho de todo o dia.
Folha - O sr. trabalha também como diretor de arte e designer de interiores. Como essas atividades estão relacionadas?
Tanaka -
Apesar de ter projetado pavilhões para exposições, não me considero um designer de interiores. Desenho e sensibilidade para mim são a mesma coisa. Design é fundamental para a sobrevivência.

Mostra: A Arte do Cartaz de Ikko Tanaka
Vernissage: 1º de março, 19h
Quando: ter a dom, 11h às 18h. Até 11 de abril
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 011/ 251-5644)
Quanto: R$ 8
Patrocínio: Banco BNL do Brasil



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