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RELÂMPAGOS
Ícaro
JOÃO GILBERTO NOLL
Conseguirei transpor aquele dia em que me atolei? Como seguir se não dá pra sair
daquele instante inflexível feito rocha? A força que me levava à expressão tinha sumido
em algum ralo do cérebro,
qualquer coisa assim. Não
que eu emudecesse, mas a
coisa que me vinha aos lábios
desviava seu curso sem aviso,
passando a viver uma correnteza sem nítida nascente ou
franca direção. Ao se encarnarem no meu sopro, as palavras eram impelidas a saltar
no escuro. Eu resmungava no
acostamento, em pane. Conseguirei transpor aquele dia,
me pergunto, se ainda estou
imerso nele, sem saber como
tirar os pés da lama para enfim voar? Vem vindo alguém
na estrada. Talvez me leve para um outro dia e lá me deixe
em liberdade para saber se
posso, se posso me lembrar...
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