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CINEMA
Regina Jeha finaliza "Por Mares Nunca Dantes Navegados"
Cineasta faz expedição para filmar a história do Brasil antes de 1500
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois continentes e um oceano
atravessados em 54 horas contínuas de viagem. A pequena expedição que a cineasta Regina Jeha
empreendeu até a Índia, no mês
passado, foi coroada com a "impressionante" cena do rio Ganges
tomado por milhões de pessoas,
durante o Festival do Grande
Cântaro, em Allahabad.
É da festa religiosa em que os
hindus procuram lavar seus pecados que Regina extraiu as imagens de abertura do documentário "Por Mares Nunca Dantes Navegados", que finaliza nos próximos dias e que terá sua primeira
exibição pública na mostra "O Estado das Coisas", no Festival Internacional de Documentários É
Tudo Verdade (leia ao lado).
O objetivo de Regina na Índia,
porém, era o exato avesso de desmanchar sinais passados. Ela queria respostas que a ajudassem a
construir o "making of" do país.
Interessa à cineasta "contar a
história do Brasil antes de 1500".
Mais precisamente, desvendar o
cenário que engendrou o império
português e animou seus navegadores à aventura do mar com a intensidade que os levou até a Índia.
"Quero lançar luzes sobre nós e
trabalho dentro da compreensão
de que "o mundo é o meu quintal".
Além do mais, nossa história
sempre começou em 21 de abril
de 1500. Acho indispensável entender o que houve antes e nos
conduziu até esse ponto, de outra
espécie de globalização."
Antes da Índia -onde entrevistou historiadores como o professor Pius Malekandathil e líderes
religiosos como o brâmane Lúcio
Miranda-, Regina fez escavação
semelhante em Portugal.
Ouviu especialistas e encontrou
opiniões cúmplices de algumas
teses que defende no documentário: "Portugal tomou a frente nas
expedições ultramarinas porque
foi o primeiro Estado-Nação moderno. A primeira revolução burguesa ocorreu lá, em 1383. Portanto já havia capital comercial
que justificasse as expedições."
Por que tamanho poderio se
desfez em tão pouco tempo é outra questão que Regina tenta responder. "Por intolerância religiosa, pelo reacionarismo da aristocracia portuguesa, que expulsou
os judeus do país. Eles foram para
a Holanda e lá ergueram o país."
"Por Mares Nunca Dantes Navegados" terá 52 minutos, em suporte digital, porque foi concebido especificamente para exibição
na TV. A narrativa do filme será
entrecortada por passagens de
"Os Lusíadas", de Camões, e por
versos de Fernando Pessoa.
A cineasta diz que é um grande
engano considerar o hercúleo
poema camoniano um texto difícil para o leitor atual. "É atualíssimo, mas como Guimarães Rosa:
precisa ser lido em voz alta para
ser bem compreendido", diz.
Ao poeta que apregoava ter feito
da língua sua pátria, Regina impõe suave rasteira, tomando-lhe
de empréstimo as reflexões sobre
Portugal e seus líderes. Haveria
mais apropriado ancoradouro?
(SILVANA ARANTES)
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